Desperta, Rosalinda.

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Ela entrou no quarto com um sorriso no rosto que era contagiante e quem a esperava estava em um misto de desconforto e conforto ao mesmo tempo porque por algum motivo aquela mulher passava algum tipo de familiaridade, tranquilidade. Mexeu em sua saia longa, passou a mão no cabelo e arrumou os dois anéis que haviam em seus dedos, eram grandes com pedras coloridas. Se movia de maneira graciosa, culta, parecendo até um membro da nobreza... Com certeza há um tempo atrás deveria ser, só pelo jeito em que se portava. Também era bonita para tal, seu rosto era igual ao de fada, ou talvez o que as pessoas teriam pintado como uma fada, traços bem delicados.

— Por que não uso roupas como as suas? São lindas. — Elogiou de pronto segurando as mãos dela, era bom sentir que tinha proximidade com alguém principalmente diante da confusão mental em que se encontrava.

— Vestidos e saias não eram o seu forte, você sempre adorou calças e na primeira oportunidade de usá-las, sem dúvidas, aproveitou. — A fez dar risada e olhar para as pernas cobertas com uma calça de tecido leve. — Você acordou bem? 

— Eu ainda sou eu... Daquele jeito. — Tentou explicar e ouviu a risada da mulher. — Entendeu?

— Rosa, não é como se você tivesse morrido e outra alma tivesse substituído o seu corpo... Você esteve aqui o tempo todo, a diferença agora, como eu entendo, é que você só passou a ter consciência total da sua vida. É só isso. — Começou a fazer carinho nas mãos morenas. — E não se cobre tanto, você despertou ontem, entendemos que é muita coisa para dar conta. É muito estímulo, é tudo muito diferente, está tudo bem você não saber de tudo agora. 

— Obrigada por me ouvir e me acolher, estou tão perdida com tudo. — Trouxe as mãos dela para perto da boca e as beijou.

— Estarei sempre aqui. — Assentiu com a cabeça. — Seria sim estranho se você se adaptasse a tudo de uma hora pra outra, leve isso como se estivesse reconhecendo tudo. Afinal você sabe o que é um celular, só não está acostumada com ele. E admita que você adorou ter um carro só seu. — Deu uma piscadela.

— Foi uma das minhas melhores aquisições, preciso agradecer a Rosalinda sem consciência. — Confessou totalmente sorridente, mas em seguida sua expressão mudou e suas mãos pousaram sobre o peito. Um tanto teatral, ainda não havia aprendido a se comunicar como as pessoas do presente. — Preciso lhe perguntar algo. — Avisou pendendo a cabeça para o lado. — Não me diga que sai com alguém, não me diga que eu tenho uma parceira... 

— Não, você se guardou para Madalena... Ainda que não saibamos quem é essa Madalena, você não conhece ninguém com esse nome. — Tratou de explicar e ouviu um suspiro de alívio, logo o sorriso voltou a aparecer em sua face.

— Como não? Madalena é o amor da minha vida. — Afirmou com convicção.

— Todas nós sabemos disso, você fala abertamente sobre ela. Às vezes de maneira até muito presente, como se estivessem juntas há pouco tempo, mas eu vivo com você e nunca vi ninguém com as características que você cita. — Negou com a cabeça intrigando a mulher. — Teve uma época, no início quando começou a falar dela, passou a nos preocupar e levamos você a terapia com psicóloga, isso tudo ficou como uma amiga imaginária. Só que o mais estranho é que você não fala com ela enquanto faz as coisas, como acontece com quem tem isso... Você fala como se tivesse vivido com ela. 

— Mas eu vivi. — Franziu o cenho, um pouco nervosa com a situação.

— E cadê Madalena, querida? Cadê se nunca a vimos? — O polegar da mão dela fez carinho na bochecha de Rosa.

— Não sei, se soubesse estaria com meu amor agora. — Abaixou a cabeça, ainda que não pudesse ver as reações da irmã, sabia que ela havia feito uma expressão de desaprovação ou de digerir aquela declaração... Mas Rosalinda não estava disposta a largar de mão a verdade, e a verdade era que Madalena existia.

Em Outra Realidade - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu