Em Outra Realidade - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)

Defensiva.

— Tomás! Amor! — A voz de Rosalinda foi audível até pelas serviçais que não estavam no mesmo cômodo, fez Madalena revirar seus olhos.

— Tomás! Amor! — Madá imitou em tom mais fino, em puro deboche, com uma expressão de total desgosto. Beth explodiu em uma gargalhada contagiante.

— Você precisa aprender a conter o seu ciúme. — Comentou ajudando a melhor amiga a dobrar a roupa.

— E você precisa aprender a conter a sua língua, Elizabeth. — Rebateu irritadiça, não gostava da nomeação e por isso se estressava toda vez que a menina falava, apesar de ser verdade.

— A senhorita anda muito respondona ultimamente, está aprendendo a mostrar as garrinhas. — A loira brincou e gritou quando foi acertada com uma blusa, Madalena quem havia jogado na intenção de atacá-la justamente no rosto. — Está passando tempo demais com a senhora Riveira, é o que resulta.

— Você não tem nada demais para fazer não? — Largou os tecidos e cruzou os braços, não estava de bom humor naquele dia.

— Tenho, não está vendo? — Questionou divertida. — Encher a sua cabeça de questionamentos. — Alfinetou sem aviso. Com Beth não tinha enrolação, dizia tudo na lata sem problema nenhum, principalmente quando era com a sua melhor amiga.

— Eu vou começar a ignorar sua presença. — Avisou virando-se de costas.

— Mas agora falo sério, o que está acontecendo com você? — Seu tom não foi brincalhão e intimou a mulher, Madá sabia que tinha que responder aquelas perguntas.

— Nada, por que está me perguntando isso? — Franziu o cenho, nervosa e tensa.

— Você está distante, não compartilha mais as informações comigo. — Suspirou em cansaço, sentando-se na cama. — Tem demonstrado muitos sentimentos por Rosalinda, agora demora a ir se deitar, se olha no espelho por mais tempo, sai com a nossa senhora e volta com uma medalha de ouro. Tens noção? É uma medalha de ouro, a gente nunca teve nem sequer um brinco, uma pulseira de pano, Madalena, e você tem uma medalha de ouro. — Agarrou o colar de ouro da amiga e recebeu um tapa na mão, a albina beijou a medalhinha com delicadeza. Nele ninguém tocava além de si. — E agora tem ciúme de tudo! — Elizabeth observou em raiva, não gostou daquilo. — O que está acontecendo com você? Por que fica de segredinho com Rosa agora?

— Não fico de segredinho com ela. — Resmungou negando porque não tinha nenhum argumento para refutar. — Eu sou a serviçal pessoal dela, eu preciso estar ao lado o tempo inteiro.

— Mas uma medalha de ouro, Madalena? Isso é muita coisa. — Parecia que a moça albina não enxergava o tratamento que estava recebendo.

— É somente um colar e para lhe provar isso, eu lhe daria, mas não posso tirar do corpo ou ela ficará brava. — Virou-se de frente para a amiga.

— Ficará brava se você tirar a coleira? — Alfinetou porque não estava gostando da amizade extrema que Rosa tinha com Madá.

— Pare com isso, Beth. — Demonstrou que havia se machucado com aquela fala, pendeu a cabeça para o lado, colocou a mão na medalha. Em segundos suas bochechas se avermelharam e os olhos também, mostrando que o fluxo sanguíneo naquela área havia aumentado avisando que provavelmente um choro viria pela frente.

Para Madalena foi duro ouvir aquilo porque estava muito encantada com tudo, o colar havia sido um gesto de carinho e de cuidado, não havia pensado pelo lado ruim, não havia pensado por um lado que indicava posse. Não costumava receber presentes e por isso tinha todo o cuidado com ele, olhar as coisas por outro lado havia sido desconfortável e dolorido, porque chegaria na conclusão de que as atitudes de Rosa poderiam ter a mesma finalidade de Hernández, só que se mostravam de maneiras diferentes. Riveira poderia fazer com que ela achasse que tinha algum direito de escolha, Hernández mostrava que ela não tinha nenhum de forma direta, mas o desfecho da situação chegava ao mesmo ponto, os dois chegaram a ser donos de Madá e usavam dos seus serviços. Um de forma mais bruta e a outra poderia ser de forma mais sorrateira.