Mudando doutrina.

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Debaixo do sol quente do meio-dia os serviçais enfrentavam mundo a fora dentro de uma charrete pequena, com roupas volumosas, tanta bagagem que os deixavam desconfortáveis e um cavalo que se arrastava de tão exausto. Em passos lentos ele ia no chão de terra que quase soltava vapor, estava tão quente que as ondas de calor eram visíveis, ninguém que fosse são o suficiente andaria na rua naquele horário, a menos que tivessem obrigações a cumprir.

— Poderia adiantar, William? Estamos mais que atrasados e tenho certeza que ouviremos reclamações quando chegarmos. — Madá pediu passando a mão na testa na tentativa de limpar as gotículas de suor, estava exposta ao sol e sua pele ardia. — Seria péssimo começar o primeiro dia de trabalho dessa maneira.

— É impossível adiantar, o valente está cansado. — Respondeu em calma e assim que a frase foi dita a charrete parou comprovando o que ele havia acabado de falar.

Valente se encontrava com a língua para fora pela necessidade de água e pelo cansaço extremo de precisar carregar três vezes mais do que o peso que aguentava. Will desceu para analisar a situação, era um amante de animais e se preocupava com o bem estar do bicho, apesar de ter sido obrigado a sair da moradia do senhor Hernández em cima dele e sobrecarregando-o. Infelizmente não podia negar ir embora com o bicho naquelas condições, pois assim que deu meio-dia o viúvo os expulsou de casa e os ameaçou de morte caso tornassem a pisar ali sem serem convidados, o que lhe restou foi deixar a residência o mais rápido possível.

— Aquele velho rabugento nos deu um dos piores cavalos, Valente não está acostumado a puxar charrete e nem a carregar esse tanto de peso. Ainda é novo, está em treinamento, em desenvolvimento e o senhor Hernández sabia dessa informação. — Falou desapontado, com dó do animal. Deu-lhe dois tapinhas no tronco.

— Tenho certeza de que ele fez isso sabendo que ficaríamos assim. Eu odeio aquele homem com todas as minhas forças! — Elizabeth esbravejou dando um tapa na mala que estava em seu colo, extremamente irritada com a situação.

— Claro que sim, ele sabe que um cavalo apenas é muito pouco para o tanto de peso que estamos levando. — Respondeu negando com a cabeça. — Quis nos prejudicar com os nossos novos donos.

Em questão de segundos outra charrete, que seguia calmamente, virou a esquina e passou a andar no mesmo sentido. Rosalinda Riveira com toda a sua elegância vinha nela, sentada de pernas cruzadas se abanando com um leque, olhava tudo ao seu redor atentamente e ao identificar os seus novos serviçais, os quais ela tinha saído exatamente para procurar porque estranhou a demora, parou imediatamente.

— Boa tarde. — Desejou educadamente. — O que houve? Esperei pelos senhores e não chegaram, estão com algum problema?

— Valente não aguentou, é muito peso, senhora. — William apressou-se em explicar mostrando a situação do animal.

— Ah isso é óbvio, é tão novo esse cavalo. — Seus olhos percorreram pelas duas serviçais e parou no animal. — Estão te maltratando? Você aparenta estar tão cansado. — Seu tom de voz mudou para um bem mais dócil e ela desceu, passou a acariciar o bicho com calma, não escondia seu amor e cuidado.

Isso chamou atenção porque Rosalinda estava sendo humilde demais, jamais o seu povo da realeza encostaria em um cavalo de serviçais ou prestaria ajuda, ou sequer teria uma conversa normal, porém ela não era igual a todo mundo e estava provando nesse momento.
Elizabeth encarou Madalena demonstrando seu olhar de surpresa e encantamento, mas a melhor amiga que já sabia como Riveira era, apenas deu de ombros como um “Eu avisei”.

— Faremos assim, Madalena e a outra senhorita que ainda não sei o nome. — Encarou a menina loira de cabelos encaracolados, esperando a informação.

Em Outra Realidade - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now