Declarações.

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Aviso de conteúdo sensível.

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Após Rosalinda se acalmar e conseguir acalmar Madalena demonstrando que tinha um real apreço por ela, declarou que daria inúmeros motivos para que a sua amada pudesse se confiar, mas só precisava de um dia, apenas um dia. Teve que jurar que não a machucaria, mesmo que sem juramento já soubesse que jamais faria isso e provando que era uma mulher de palavra, deu a ordem para que a sua serviçal se trancasse no quarto se estivesse com tanto medo assim.

A destroçava vê-la desse jeito, mas sabia que grande parte daquela confusão também era de responsabilidade sua, então tentava lidar com as consequências da maneira que conseguia.

Pediu apenas um beijo, um beijo na fronte era o suficiente para si e Madalena cedeu porque não conseguia tê-la como alguém ruim por completo nem se quisesse. A morena ofereceu suporte, a levou até o quarto e esperou até que ela trancasse a porta, dizendo que ia deixá-la em paz durante a noite e que no final do outro dia teria sua justificativa.

Ainda temerosa, Madalena aproveitou para pensar no que iria fazer, não podia confiar  totalmente em ninguém e precisava defender a vida da sua melhor amiga que também estava no meio do fogo cruzado e o pior de tudo, sem saber absolutamente nada. O seu melhor plano, se nenhuma narrativa fosse plausível, era fugir para o mais longe possível e precisava ter os artifícios para isso.

Nas pontas dos pés ela abriu o guarda-roupa simples que tinha ali e torceu para que ele não rangesse, Beth dormia pesadamente no mesmo quarto e a albina não queria alarde, era melhor só uma pessoa apreensiva do que duas.
Começou a dobrar algumas roupas separando apenas o básico seu e o dela, sabia que era um risco duas mulheres na rua sozinhas, porém era de mais benefício ter um lugar para correr do que conviver em uma casa onde seus possíveis inimigos moram e estariam quase declarando uma guerra. Separou até mesmo um lençol para fazer as trouxas de roupa.

Pensando na privacidade que tinha agora, sem Elizabeth para perguntar o que ela fazia e Rosa ao seu lado, decidiu encerrar de uma vez aquela apreensão toda, era um ótimo momento para ler aquelas cartas. Checou se a porta estava realmente trancada, abriu o armário, tirou aqueles papéis sujos dali e sentou longe da cama, com uma das lamparinas que clareasse o suficiente as letras.

As colocou no chão, temendo por tudo que iria ver porque não queria se surpreender mais, se pudesse se negar a viver aquilo, com certeza se negaria. Mas o ensinamento que recebia desde criança era que não podia fugir das suas responsabilidades, sendo assim, também não podia ser conivente com tudo o que já tinha visto, precisava tomar a atitude certa. Ou pelo menos a que achava estar certa.

A letra era bonita, parecia feminina porque um homem talvez não fosse capaz de ter tamanha delicadeza, ainda que estivesse tudo meio borrado e sujo. Por que estava tudo tão sujo? Não estavam velhas, mas eram realmente sujas.

Abriu a primeira com todo cuidado, segurava nas pontas dos dedos porque não sabia de onde vinha, não podia rasurar e nem mexer muito naquele conteúdo.

Preparou-se.

Meu amor.

Finalmente consegui lhe escrever essa carta, há algum tempo tenho procurado por papel e algo que pudesse riscar, achei os carvões, os restos de lenha que estavam dentro da lareira, amolei até que tivesse ponta. Me perdoe se a letra ficar manchada demais ou talvez o papel áspero, o importante é que entenda aquilo que coloco aqui.

Estou bem, não se preocupe. Consegui arrumar rapidamente uma casa ainda que duvidasse das minhas habilidades de lábia, eu sou boa sim, mas você quem não acredita em mim. Também me alimento bem, confesso que perdi um pouco de corpo, mas já o recupero. Conheci pessoas bastante simpáticas, que me tratam bem, mas ainda estou perdida.

Em Outra Realidade - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now