Por inteiro.

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Aviso de conteúdo extremamente sensível.

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— Já chega. — Concluiu em sua voz mais cortante possível, assustando a sua companheira. Invadiu aquele escritório sem nenhuma delicadeza, agressiva. — Estou farta, está ouvindo? — Perguntou encarando as cartas em sua mão. — Eu cansei... Eu cansei dessa brincadeira com os meus sentimentos.

— Amor. — Rosalinda chamou com sua visão turva, já sabia o que tinha acontecido. Seu corpo só não paralisou porque estava em desespero e ela era uma pessoa reativa demais para ficar quieta. Mas estava pálida, suas mãos tremiam e lutava com suas pernas querendo fraquejar.

Ela havia procurado as cartas dentro do baú e não achou, o alívio veio por descobrir agora que sua amada quem havia pegado, mas isso também significava que estava exposta e correndo riscos.

— Amor? — Semicerrou as pálpebras e perguntou em escárnio. — Não dá mais, eu me entrego pra você, mas você nunca consegue ser minha por completo. Nunca consegue. E eu não estou falando sobre você ainda estar casada com Tomás não, ou ainda não ter se deitado comigo de verdade, estou falando sobre sua sinceridade. Eu não conheço você, sinto como se não tivesse conhecido, Rosalinda. Se é que esse é seu nome, talvez seja Ana. — Debochou para mostrar sua dor, estava tão corroída que todo o seu ser queria desmanchar. Sentia vontade de gritar com ela, de empurrá-la, de jogar aquelas cartas no seu corpo, de ir embora. — Não sei porque você insiste em mentir pra mim, eu nunca fiz nada contra você! Eu sempre te amei! E você nunca valida isso o suficiente a ponto de confiar totalmente.

— Por favor, deixe-me explicar. — Juntou as mãos em frente ao corpo, encarando aquele olhar tão sofrido. Suportava tantas emoções, mas estava doendo tanto aquilo. Deu um passo a frente olhando a porta aberta sabendo que chamariam mais atenção do que ela queria.

— Não sei se deveria, Ana. — Foi cortante. — Não sei se quero escutar você, eu te dei tanto tempo para se explicar. — Jogou as cartas no chão, bem nos pés dela.

— Não faça isso, não faça isso comigo... Com nós. — Implorou em meio aos soluços do seu choro, tentou se aproximar outra vez e a mulher fugiu, querendo sair daquele escritório.

— Sou eu quem está jogando tudo fora? Ou foi você que já fez isso há tempos? — Deixou a responsabilidade toda nela, porque sabia que era. Dessa vez não iria levar a culpa como fazia todas as vezes. Tinha plena noção que foi uma boa companheira, que se mostrou sincera, vulnerável, que disse tudo aquilo que tinha para dizer. — Eu vou embora, eu vou e não quero mais te ver. — As palavras acertaram tão em cheio o peito de Rosa que parecia que havia recebido tiros em seu coração.

Deu três passos largos que assustaram Madalena achando que ela iria atacar, mas na verdade a porta foi fechada com força que o estrondo ecoou, depois o som dela trancando, impedindo a albina de sair.

A mulher de cabelos brancos outra vez se sentiu inocente e indefesa, foi tão furiosa confrontá-la que esqueceu que não estava lidando com uma Rosalinda, estava lidando com uma parte dela, porque a outra não conhecia e essa outra podia ser qualquer coisa, absolutamente qualquer coisa poderia vir dali. No meio do caminho não apanhou nada para avançar de volta e se proteger, não sabia lutar e se aquela mulher fosse algo muito ruim, nem sequer daquela sala sairia, e se saísse, talvez fosse amarrada a lençóis sem ter nem a vida para oferecer.

Sentindo o terror daquele momento, Madá correu para o mais longe que podia, passando a perceber o medo e a sensação de derrota em suas veias ao ver aquela maleta aberta, sabia bem o que havia nela e talvez tivesse chegado seu fim.

— Você não vai me machucar! — A serviçal disse em firmeza puxando o bastão que sustentava a cortina, ele caiu em sua mão e ela o segurou em ameaça. — Se você tentar algo, eu vou lhe atacar! Seja lá quem você for. — Engoliu em seco, tremia tanto que não sabia como segurava o objeto.

Em Outra Realidade - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now