Branquinha.

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Aviso de conteúdo extremamente sensível.

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— Penso que não conseguirei ser feliz com a minha mulher durante essa vida, perdemos tantas pessoas em tão pouco tempo e consigo ver a tristeza nos olhos de Madalena. — Seguia em seus susurros enquanto conversava consigo, ou com alguma entidade, ou com Deus, ou com o universo. — Por mais que ela me diga que não é para que me sinta culpada, não há como. Escolhi ir atrás do passado da minha mãe, escolhi me tornar alguém do exército, escolhi me disfarçar em missão e fingir ser alguém que não sou, Madalena nunca teve escolhas. Ela teve que lidar com as consequências das escolhas das pessoas ao seu redor, jamais decidiu algo verdadeiramente em sua vida... E posso estar sendo bastante ignorante, mas não existe alguém que mereça tanto outra vida quanto a minha mulher. — Negou com a cabeça, de olhos fechados em uma espécie até de transe, suas pálpebras tremulavam igualmente quando estamos dormindo ou bastante concentrados em algo. — Tudo o que aconteceu com ela foi injusto, Madalena sequer teve o direito de fazer planos e realizá-los minimamente. Nunca teve a chance de escolher o que queria ser ou o que queria comer em um dia, sei que por esse motivo agiu por influência e por esse motivo também não sabe fazer tantas escolhas ao mesmo tempo. Eu gostaria que Madalena tivesse uma vida onde ela pudesse escolher, o que quer vestir, o que quer fazer, o que quer comer, o que quer conversar, o que quer amar... E falando em amor, gostaria de ver também se em uma vida onde ela pudesse escolher qualquer um para viver ao lado, de maneira livre, queria ver se ela me escolheria. Jamais duvidando do que sente por mim, mas minha vontade de vê-la livre é tão grande, que eu sinto que pode ser livre até na hora de escolher seu parceiro. — Respirou fundo e seguiu, totalmente desatenta aos barulhos. — Algo faz com que eu me conforme, quem precisava saber o quanto a amei, sabe. Desejo o mundo para a minha mulher, desejo outra realidade onde ela possa rir alto, ir a lanchonete sozinha, cozinhar por prazer, que ao invés de cuidar tenha alguém que cuide dela... Eu não me importaria de não ir, se tivesse a certeza de que Madalena teria uma vida normal e seria feliz. Eu a amo muito para não desejar algo assim.

— Conversando sozinha? — Questionou ao entrar no quarto, seus olhos estavam um pouco inchados pelo tanto que havia chorado no dia anterior e na madrugada.

— Fazendo minhas orações matinais. — Explicou puxando-a para um abraço apertado.

— Estou pronta para ir. — Avisou em seriedade encarando a morena.

— Não sei se irei deixar. — Fez com que a cabeça de Madalena repousasse em seu ombro.

— Eu sei passar pelos oficiais, não se preoupe comigo. É somente uma ida ao supermercado e a uma drogaria, precisamos de comida e remédios porque nossa viagem será longa, e você tem a saúde frágil. Não podemos adiar, estou faminta e acredito que você também. — Segurou o rosto dela e beijou a bochecha algumas vezes. — Tente dormir, sei que apaguei e você acabou ficando de vigília a noite inteira, vá descansar porque nosso caminho é longo e para percorrê-lo, precisaremos de energia.

— Não consigo descansar com você longe de mim, sem eu ter a certeza de que você está bem e segura. — Negou com a cabeça abraçando-a bem mais.

— Não se preocupe, eu já disse que consigo. — Encarou-a com firmeza.

— Prometa-me que voltará. — Mostrou que necessitava ouvir uma confirmação.

— Eu prometo, agora prometa-me que não irá sair daqui, que me esperará. — Apertou com força o corpo da sua mulher, todo tchau breve parecia uma despedida nos tempos em que viviam, e isso era agonizante.

— Não vou a lugar nenhum sem você, te prometo. — Expressou um sorriso apaixonado e deixou alguns selinhos demorados na boca dela, seu amor não tinha ido embora e nem iria.

Em Outra Realidade - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Kde žijí příběhy. Začni objevovat