Desabafo.

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— Já esteve com alguém onde você acha tudo o que aquela pessoa faz, mesmo que mais simples possível, atraente? — Rosalinda perguntou mexendo nos dedos finos, se recostou no corpo feminino que estava acolhendo-a.

— Com você era assim. — Genevive respondeu baixinho, cedendo a sua outra mão para que ela se entretece. — Mas deduzo que sente isso por Madalena.

— Não sei o que ela tem, mas até quando nos lança esse olhar. — Apontou com o queixo para a albina que virou o rosto de imediato ao ser pega. — Até quando nos lança esse olhar tão enciumado quando estou com você, sinto vontade de ir até ela e beijá-la até ficar sem fôlego.

— Nossa, por que você não dizia essas brutalidades quando estávamos juntas? — Resmungou em uma brincadeira, gargalhando e fazendo Rosa rir, atraindo outra vez os olhos claros.

— Viu? — Se praguejou. — Conviver com ela não é nada fácil quando precisa se controlar.

— E o que te impede? — Respondeu inalando o cheiro dos cabelos escuros da morena. — Por que esse controle todo?

— Vivo em conflito, Gen. — Foi sincera abaixando mais o seu tom de voz. — Às vezes a Rosa do passado me acerta com tanta força...

— Se essa Rosa do passado está voltando, é porque existe um motivo para tal. Qual é ele? Seu pai anda lhe assustando novamente? — Sabia que era sua hora de adentrar mais naquela conversa e livrá-la da dor, visto que suas amigas haviam tentado, mas tinham coisas que a morena desabafava e só sua companheira sabia. E ela até acertou o motivo, parte dele, sentiu Riveira puxar o ar por um tempo antes de responder.

— Também. Surtei para cima de Dalila jogando a culpa da minha loucura em vocês. — Teve coragem o suficiente para admitir. — Disse que ela não poderia quebrar meus limites, falei que não estava me reconhecendo, mas no fundo eu sempre soube que isso tudo vinha de mim. E no final das contas, eu tenho medo de mim.

— O que seu pai fez? — Genevive já se encheu de raiva só de ouvir aquele discurso.

— Nada além do de sempre, nunca me valorizar. Sabe que eu tenho deveres a cumprir e desconfia de mim, o tempo inteiro. Quer que eu seja falada como um bom exemplo extremo, até minhas saídas estão começando a observar. — Desabafou tentando não chorar, ainda seguia brincando com os dedos.

— Logo notei você sempre presente aqui, eles iam reparar. — Suspirou em cansaço. — Mas no que impede de viver seu romance com Madalena? — Também entendia que a mulher enrolava.

— Estou apaixonada. — Dessa vez não usou de conversas fiadas, foi direta. — Estou completamente apaixonada por Madá. — Sussurrou e escondeu seu rosto no colo de Genevive que ria ainda sentindo aqueles olhos claros, do outro lado da sala, em si. Mal sabia que falavam dela, que era a pauta principal. — E me perco, tenho medo de me perder mais ainda.

— Se perder? — Não entendeu o que significava.

— Digo, toda a situação é muito complicada. — Corrigiu. — Por eu estar casada e precisar ficar casada por um tempo. Temo perder minha cabeça por ela, temo começar a ser descuidada por querê-la perto, temo que eu bote tudo a perder antes do que eu devia, temo que ela não entenda meus motivos de não poder assumi-la verdadeiramente, temo ser uma esponja. — A voz foi embargando e limpou os olhos disfarçadamente, Madalena notou e Gen também viu que ela tinha notado, mas nada fez, fingiram que nada estava acontecendo ali.

— Uma esponja você é, nós sabemos disso e por esse motivo estamos cuidando da sua cabeça. — Lembrou em paciência.

— Temo tomar as dores dela, e tudo o que a prende, temo ser muito ciumenta, temo confundir os papéis. Temo que meu lado ruim transpareça. — Revelou de peito aberto.

Em Outra Realidade - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now