— Consegui, minha querida amiga! — Elizabeth expressou em empolgação entrando pela porta da cozinha com sua cesta de frutas e a posicionando sobre a mesa.
— O quê? — Madalena perguntou com medo do que poderia ser, já que a outra moça não parava de comentar sobre assuntos um tanto diferentes de um tempo para cá.
— Uma sessão com a vidente e cartomante. — Comemorou sorridente tirando o chapéu da cabeça e levando as frutas até um balde para lavar. — E você irá me acompanhar. — Intimou fazendo a moça gelar e parar exatamente tudo o que fazia.
— Eu já disse que você precisa aprender a não brincar com esse tipo de coisa. — Resmungou apontando o dedo para a amiga. — Você ainda irá aprender uma lição. Não acha que o puxão de orelha que levamos semana passada já não foi o suficiente, Beth? — Cruzou os braços em total indignação e ouviu a mulher bufar.
— Estamos vivas, não estamos? — Ela brincou esfregando as maçãs vermelhas entre as mãos. — Prontas para outra.
— Não pense que irei, pois não irei. — Cortou a expectativa por inteiro voltando ao seu trabalho de picar legumes e verduras.
— Ah, mas é claro que irá. Marquei em seu nome. — Revelou atrevida ainda mexendo no balde de madeira com um sorriso travesso no rosto. — Você sabe... Por causa do que aconteceu da última vez.
— O que aconteceu? Ah, você está falando... — Pronunciou fingindo estar pensativa. — De você ter colocado nessa sua cabeça dura de que a cartomante estava tentando te dar algum tipo de sinal? E que ela era o amor da sua vida e que você tinha sido escolhida pelo destino para viver em outra época assim como diz na lenda? Aí você causou uma bela de uma encrenca, perseguiu a moça por dias e ficou mal falada na cidade inteira? Tanto que nenhuma cigana quer te atender mais. — Relembrou fazendo a amiga revirar os olhos. — Nem pensar, eu não irei passar por isso novamente. Descanse, Beth.
— Eu estive um pouquinho equivocada. — Se defendeu organizando agora os talheres expostos. — Mas todo mundo merece uma segunda chance.
— Segunda chance? Em meio a quantas que você já teve? — Madalena começava a realmente ficar brava.
— Eu prometo que levarei em consideração o que essa me disser e não irei mais atrás de outra. — Uniu as mãos em um pedido e fez a sua melhor expressão de súplica.
— Todas dizem as mesmas coisas, mas você só está disposta a absorver aquilo que lhe convém. — Foi extremamente dura enquanto jogava o que havia picado em uma panela com água borbulhando.
— Essa doeu. — Fingiu estar ofendida e se recostou na mesa de jantar. — Dessa vez é verdade o que eu digo, dizem que essa cartomante é uma das melhores.
— Não irei me consultar com ela. — Negou com a cabeça salgando os alimentos com calma.
— Só te usarei de pretexto, quero apenas que me acompanhe. Você não me deixaria ir sozinha, deixaria? — Encarou a melhor amiga sem deixar-se intimidar pelo fuzilamento que recebia e enrolou um dos seus cachinhos no dedo.
— Elizabeth... — Chamou temerosa e irritadiça.
— Madalena... — A mulher respondeu docemente em uma inocência falsa. — A última vez. — Propôs.
— A última vez. — Cedeu novamente para a amiga que comemorou em uma dancinha.
De fato era algo que lhe deixava apreensiva, era meio cética demais para esse tipo de coisa, não se importava e não gostava de mexer com nada que não tivesse a comprovação de que era real. Não gostava de lugares encantados, coisas com feitiço, magia e tudo que viesse desse meio, mas inventou de se tornar melhor amiga de uma mulher extremamente fascinada pelo assunto e precisava carregar o “fardo”, precisava escutar Elizabeth falando sobre isso a todo instante.
Não conseguia ser uma má amiga e deixar com que ela passasse por tudo sozinha, Madalena era mais velha e tinha um instinto protetor exacerbado, justamente por isso topava tudo ao lado da outra mulher, mesmo que com medo.
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Em Outra Realidade - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)
RomanceRezava a lenda, há um tempo, de que o destino era o real regente de absolutamente tudo no mundo, havia se personificado e por meio disso escolhia pessoas "aleatórias" para viverem novamente em outra época por meio de um feitiço. A sociedade, temente...