Dalila e o fechamento de ciclo.

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Aviso de conteúdo extremamente sensível.

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Endireitou-se por inteiro, arrumando sua postura, adotando um semblante penoso e de dar dó. Extremamente cínica, assim como sua mulher havia lhe ensinado.

— Eu queria... — Umideceu seus lábios adornando mais sua voz de uma falsa inocência. — Eu queria falar com o padre dessa paróquia. — Sorriu gentilmente e o soldado da porta se comoveu com tamanha doçura, tamanha pureza.  Era uma moça casta, de cabelos grandes, muito bem arrumada, limpa, parecia uma senhora rica ou talvez fosse de uma família modesta. Tirando o fato de ser branca, bem mais do que deveria, quase loira e de olhos claros, era óbvio que o racismo falava antes de tudo.

— Pode entrar, moça. Ele está no fim da capelinha. — Abriu a porta para ela. — Mas talvez esteja um pouco ocupado, então chame-o.

Sem nem agradecer entrou, caminhando lentamente com suas mãos cruzadas na frente do seu corpo, seu olhar encarou cada canto daquele lugar porque nunca havia entrado em uma daquelas. Sabia que o pecado contido ali não era do Deus que eles adoravam, eram os seres humanos que deturpavam os seus ensinamentos e queriam ditar regras na Terra em nome dele, tentava não sentir ódio, mas a raiva já corroía seu coração.

Aquele lugar era um palco de gente hipócrita.

— Padre Gregório? — Ela chamou abrindo a portinha que dava para a segunda parte da paróquia, depois do altar com inúmeras imagens.

Apertou mais suas mãos contendo-se ao ouvir um som nada agradável, eram gemidos? Eram quase gritos? Estavam maltratando uma mulher ou fodendo uma? Madalena quase gargalhou em um escárnio que tomou parte do seu corpo, seria cômico se não fosse trágico. Quanto mais achava que veria menos coisas, mais elas apareciam... É como diria o antigo ditado "Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece".

— Gregório? — Chamou outra vez adocicando sempre a sua voz.

Na mesma hora o barulho da cama rangendo parou depois de um tapa bem estalado, e então o homem apareceu com sua bata, terminando de fechar as calças e a albina fingiu que não viu porque seu palel era de pura demais para notar qualquer maldade presente ali.

— A benção, padre. — Pediu abaixando a cabeça em respeito. Precisava ser incrível em sua atuação, já que seria a última.

— Deus lhe abençoe, filha. — Ele fez o sinal da cruz com a mão, na frente do corpo dela, como se estivesse benzendo-a.

— Eu vim atrás do senhor porque tenho alguns pedidos a fazer... Será que tem um tempinho para mim? — Colocou os cabelos atrás das orelhas e interpretou o seu melhor olhar inocente, acompanhado de um sorriso que era capaz de encantar.

— Pra você, todo tempo do mundo. — Sorriu, mas sua alma podre não conseguia nem segurar o papel de bom moço por muito tempo, seus olhos correram da boca para os seios dela.

— Em primeiro, eu queria que o senhor me ensinasse a rezar... A falar com Deus, eu não sei. Ando um tanto angustiada, perdi alguns entes queridos e imagino que irá me fazer bem. — Sua expressão mudou para uma triste, era tão teatral que chamava ele de tosco mentalmente por não desconfiar.

— Claro, claro. Que bom que temos uma jovem tão interessada na religião. — Assentiu com a cabeça se sentindo lisonjeado por presenciar algo assim. — Podemos começar agora mesmo.

— Sim, senhor. — Preparou-se, mostrando a ele que estava bem atenta ao que ouvia.

— A primeira oração que sempre ensinamos é a do Pai Nosso, a base. — Iniciou em sua explicação toda orgulhosa, mas seus olhos não saíam dos seios dela. —  Eu irei recitar verso por verso quero que repita, está pronta?

Em Outra Realidade - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora