Jogando.

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Essa era uma das noites em que Rosalinda temia voltar a viver, se sentia tão vazia e solitária mesmo que rodeada de gente, não tinha sono.
Havia se recolhido cedo, pois concluiu que não conseguiria ser uma boa companhia, às vezes uma angústia invadia seu coração sem motivo algum e sentia vontade de se isolar, tinha preguiça de socializar e de conversas superficiais, como cumprimentos e elogios, se cansava até da gentileza tamanha que estava em si, para não estragar o dia de ninguém, se mantinha sozinha.

Deitou-se na cama decidida a dormir, tomou um belo e forte chá de camomila, mas nem isso resolveu a sua insônia e vontade de chorar. Parecia ficar mais vulnerável nesses tempos, mais sensível a tudo, todo barulho diferente a assustava, todo tom de voz um pouco mais ríspido a fazia ter vontade de chorar, toda ausência era suficiente para que ela se sentisse ainda mais solitária.

Não sentia falta do seu marido, sentia falta de alguém ao seu lado. Mas nem ela sabia quem era e por causa disso que ficava assim, era só uma sensação que ela tentava lidar só, como sempre.

Decidiu levantar-se, visto que não conseguiria dormir pois estava a horas olhando para o teto e o sono não havia lhe feito ao menos cócegas, arranjou um robe leve e o colocou por cima da camisola, ligou uma lamparina e saiu a caminhar pela casa. Parou no escritório, tentou ler um livro, mas não conseguia se concentrar no que estava escrito, se irritando ainda mais com sua falta de foco.
Então seguiu pela sala, olhou por um tempo as janelas e a rua que estava bem pouco movimentada, vez ou outra ainda passava alguém, assistiu o céu estrelado e por fim se sentou em uma poltrona, tentava se distrair com qualquer coisa.

— O que ainda faz acordada, senhora? Já está tarde. — Surgiu do nada e depois a lamparina se acendeu iluminando o rosto de Madalena, no meio da sala.

— Pergunto o mesmo a ti. — Rosa respondeu observando a sua serviçal.

Era bonito como o fogo reluzia em seu rosto, deixava seus cabelos mais chamativos, iluminava mais seus olhos e os traços que ela tinha. Parecia limpa, algumas gotículas de algo escorriam em seu rosto e o cheiro do pós banho logo invadiu as narinas da senhora que o inalou com vontade, se agradando.

— Estava ouvindo Rubens falar e acabei perdendo a hora. Terminei de banhar-me agora, escutei alguns passos e segui o barulho, achei que poderia ser algo porque o escritório estava um tanto revirado. — Justificou-se depositando a lamparina em cima de uma cômoda e passando os dedos em seus cabelos brancos que iam até a cintura, iria trançá-los.

— Perdoe-me pelo descuido. — Apressou-se em dizer, era algo que não tinha se atentado em arrumar. — Não. — Impediu a mulher. — Não amarre os cabelos, estão tão bonitos assim. Não costuma deixá-los soltos? — Questionou em curiosidade.

— Não, senhora. Isso é somente para moças como você, eu não podia em minha antiga casa. — Disse admirando seus fios, era bom ser elogiada e parece que da boca de Rosalinda saía com uma enorme facilidade essas palavras.

— Tudo bem que para cozinhar é necessário por questão de higiene, mas seus cabelos são belos e caso se sinta confortável, solte-os vez ou outra. É saudável até para seus fios. — Permitiu sorridente, tinha uma imensa vontade de tocá-los, mas não cedia. — Pode ir dormir agora que já checou a casa, está tudo bem. Foi somente eu sendo, mais uma vez, descuidada.

— E a senhora irá ficar aí? — Deu um passo a frente, jogou seus cabelos longos para o lado. — Está acontecendo alguma coisa? Está bem? Não me diga que o resfriado lhe pegou novamente. — Despejou suas preocupações. — Posso lhe fazer um chá? Preparar alguma comida? Está com fome ou sede? Posso resolver para que volte a dormir.

— Estou bem, não se preocupe. Irei ficar aqui, por favor vá dormir, já basta aquela noite em que cuidou de mim. Você também precisa descansar. — Mexia no couro dos detalhes da poltrona em que estava sentada, evitando encarar Madalena.

Em Outra Realidade - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now