— Eu não entediei vocês? — Fernando abriu um sorriso sem jeito, sentindo a mão de Carlos procurar a sua.
— Não mesmo. — Entrelaçou suas mãos. — Eu gosto muito de quando você se sente à vontade para falar do seu passado... Eu sei que não é fácil.
— Agora não dói tanto. — Assumiu, olhando para suas mãos unidas.
— E falando nisso... Eu não sei se você gostaria da ideia, mas... O que acha de ir naquele galpão que você comentou comigo? — Carlos indagou, sem saber direito como formaria aquela frase. — Eu sei que quando você comentou disso comigo eu fiz parecer que você não tinha escolha, mas...
— Você quer ir no depósito? — Fernando indagou, percebendo que o outro se encolheu um pouco mais pela aparente timidez.
— Se você quiser, então sim. — Carlos olhou para os lados antes de encarar o artista. — Queria poder ver algumas das suas coisas, saber mais sobre você...
Fernando agora admirava os olhos azuis tão cativantes, vendo um dos momentos raros em que o outro se enchia de vergonha. Era adorável poder ver que o instrutor ficava sem jeito com pedidos como aquele, sem conseguir deixar de sorrir.
— Nós podemos ir. Eu só não tenho mais a chave e também não sei se o tempo que reservei já expirou, então tem chances de não ter mais nada meu lá...
— Então temos que ir logo. — Carlos garantiu, agora convicto, mudando a postura. — Você se importa de ir amanhã?
— Se não for ruim pra você, nós podemos.
— Então tá combinado. — Sorriu, beijando curtamente os lábios do artista.
♢♦♢
Segunda-feira, dia 3 de outubro.
Já haviam levantado e tomado o café. Carlos estava pronto para sair e enquanto Fernando não demonstrava muita pressa para chegarem logo ao depósito, o instrutor não conseguia disfarçar sua inquietação.
No carro, o artista passava o endereço conforme se lembrava e não foi difícil de localizarem. E antes que Carlos pensasse que Fernando parecia calmo, notou-o secando as mãos no tecido da calça quando estavam prestes a descer, provavelmente receoso.
Precisaram solicitar uma chave reserva na recepção, o que não levou muito tempo após Fernando apresentar sua identidade. Seguiram pelos corredores com a ajuda de um pequeno folheto com a localização do galpão.
— É um alívio que ainda faltem algumas semanas pra expirar seu aluguel com eles. — Carlos afirmou, parando de andar bruscamente ao encontrar o número do depósito. — É aqui?
Fernando apenas gesticulou afirmativamente, mesmo com a chave na mão, não conseguiu pensar no que deveria fazer. Olhou para a fechadura em sua frente e umedeceu os lábios secos.
— Nando... A gente não precisa fazer isso hoje. — Carlos sussurrou, tocando-o de leve no ombro. — Se quiser a gente vai embora e volta outro dia.
O artista olhou para os olhos azuis compreensivos e teve a coragem que precisava para seguir em frente. Encaixou a chave e girou, abrindo a porta pesada, tendo que procurar um interruptor em seguida.
Carlos precisou de alguns segundos para entender tudo o que estava acontecendo no local abarrotado de caixas e itens diversos. Não era diferente para Fernando, que também parecia perdido ao se deparar com a altura de tantos pertences abandonados há quase um ano.
Após o silêncio do artista, o instrutor seguiu-o, adentrando pelos cantos estreitos dentro do depósito. Não conseguia saber apenas pela expressão de Fernando como ele poderia estar, então fez questão de perguntar:
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Indigente [COMPLETA]
RomanceEm meio à olhares tortos de reprovação vindo dos clientes, apenas um olhar era de compaixão quando um andarilho adentrou uma lanchonete no centro da cidade. Carlos parou de comer ao ver o pobre homem chegando, sentindo seu peito apertar ao vê-lo lar...
Capítulo 40 - Romantismo.
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