Capítulo 26 - Dilacerado.

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Capítulo 26 — Dilacerado.

Carlos agora estava em seu quarto, completamente exausto. Tinha certeza de que sua carteira não estava em lugar algum da casa. Sua dor de cabeça aumentava por saber que se caso ela não estivesse com Fernando, teria que cancelar seus cartões e pedir novas vias. Suspirava, cansadamente, a hora da conversa desagradável havia chegado.

Pegou o presente que ganhou do amigo e o vestiu, ajeitando em seu pulso. Encarou o relógio por alguns minutos e se levantou. O artista ainda dormia no sofá e Carlos não se atreveria a acordá-lo naquele momento. O instrutor preparava o café da manhã com calma, tentando fazer o mínimo de barulho. O que não era uma tarefa fácil visto que era desastrado, agora mesmo deixava um talher cair, tilintando alto por toda a cozinha.

Carlos soltava um palavrão internamente. Por um momento, acreditou que o outro não teria acordado, mas logo notou a presença do amigo na cozinha. Não tinha sequer planejado o que diria para ele, não estava pronto para aquela conversa.

— O café na garrafa tá fresco, você não precisa fazer. — O artista foi o primeiro a dizer, bocejando em seguida.

— Ah, eu vou pegar. Obrigado. — Carlos agradeceu, engolindo em seco enquanto abria o armário.

O instrutor não sabia se seu nervosismo transbordava, mas suas mãos já suavam e mostravam que em breve ficaria cada vez mais difícil de raciocinar perto de Fernando. Era impossível pensar no que diria a ele sem que a tensão aumentasse.

Agora ambos estavam à mesa e duas xícaras de café foram servidas. Nem mesmo a presença de Kid em um canto do cômodo tornava aquele momento mais leve. Carlos não queria pensar em qualquer tipo de maldade do amigo, sabia que ele nunca lhe roubaria. O sentimento de culpa apenas por cogitar que ele tivesse pego qualquer quantia emprestado e sem sua permissão era o que apertava seu peito.

— Bom dia, né? — Carlos cumprimentou, forçando um sorriso nervosamente. — Você nem conseguiu cochilar no sofá sem ser acordado pelo furacão que eu sou.

— Você não me acordou. Eu já estava te esperando para o café da manhã. — O artista riu, observando a timidez se formar nas expressões do outro.

— Menos mal, então. — O instrutor respondeu, parecendo completamente sem jeito.

— Você dormiu com ele? É confortável? — Fernando apontou para o relógio no pulso do amigo.

A frase parecia completamente indevida, como se soltasse um dizer de baixo calão. O artista não entendia o porquê daquilo mudar completamente o outro à sua frente. Carlos abaixava sua xícara, deixando claro que algo deixava sua mente completamente nublada.

Fernando estava confuso, não sabia se perguntava o que tinha acontecido ou se esperava o outro dizer. Tinha medo de que fosse parecer invasivo demais, então apenas esperou que o amigo quebrasse o silêncio.

— Não, eu não dormi com o relógio... — Carlos constatou, seriamente. — Eu coloquei ele agora de manhã justamente pra falar com você...

— Algum problema?

— Nando, eu preciso falar com você. — Nessa altura o estômago de Carlos revirava em desconforto, mas precisava continuar. — E eu quero que seja sincero comigo.

— Tudo bem. — Agora ambos estavam sérios e o artista tinha quase certeza de que o amigo iria dizer que não gostou nada do presente.

— Olha, eu quero saber... — Carlos mordeu o lábio inferior com força antes de continuar. — Quer dizer, poxa... Não vai ter um jeito melhor de perguntar isso.

Indigente [COMPLETA]Where stories live. Discover now