Capítulo 29 - Escolha.

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Capítulo 29 — Escolha.

A pergunta mexeu com todas as estruturas de Carlos, era difícil se manter indiferente enquanto pensava em Fernando. As palavras não surgiam, não conseguia sequer gesticular sua cabeça para respondê-lo, repleto de vergonha e medo.

Pensa nisso por hoje. — Eduardo aconselhou, sem insistir mais naquela questão. — Passa amanhã na academia pra gente conversar. Você precisa sair um pouco de casa, talvez te ajude.

— Eu vou, sim. Valeu Edu. — Sorriu fracamente.

— Então eu acho que é melhor ir agora. — O amigo arrastou a cadeira para trás.

Eduardo teve a atenção roubada pelo cão carinhoso que se esfregava em suas pernas. E depois de dar atenção ao pequeno, se despediu. Carlos acompanhou-o até o portão e não evitou o impulso de ficar ali fora por alguns minutos. Olhou para o carro do amigo desaparecer virando a esquina e permaneceu parado, encarando o final da rua na esperança de ver seu artista voltar.

♢♦♢

Ao acordar, Carlos sequer escovou os dentes antes de ir para o quarto hóspedes procurar por Fernando. Ao não encontrá-lo, lembrou-se de que o artista tinha saído sem as chaves e se sentiu estúpido. A situação que se encontrava era constrangedora, sua barba completamente desgrenhada e seus olhos remelentos pediam urgentemente para parar por um segundo e voltar para a realidade.

Se arrumou devidamente, tomou seu café e se trocou para dar um passeio com Kid. O cachorro já se agitava para sair enquanto via o dono colocar o tênis, impacientemente esperando para ser levado para a rua. Mas Carlos não poderia atender aquele pedido imediatamente, porque ao mesmo tempo que se abaixava para amarrar os cadarços, teve sua atenção tomada por algo no chão próximo de seus pés.

Pegou o objeto pequeno e de couro em suas mãos. Agora parecia óbvio demais onde sua carteira estava escondida. Nunca odiou tanto uma simples fresta debaixo do sofá, odiava ela como odiava a si mesmo. Voltou a recostar-se no sofá, suspirando ao mesmo tempo que olhava para a carteira. Seus documentos, cartões de crédito e tudo que se lembrava, em seus devidos lugares.

Suas palavras ditas a Fernando voltaram a surgir e o medo de não vê-lo ainda era palpável. Cada expressão dele de decepção com o que ouvia se transformava diante de seus olhos como se ele ainda estivesse ali para ouvir o que tinha para acusar. Não parecia ter volta para o que fez com ele, principalmente ao se imaginar sendo o dono do interesse do artista.

Aquela era uma felicidade que durou tão pouco que mal pôde pensar com calma sobre o assunto. Não teve sequer a oportunidade de imaginar como seria um relacionamento com aquele homem que definitivamente estava em seus pensamentos boa parte do dia. E assim continuaria, tudo por sua culpa.

Era difícil querer simplesmente seguir e ao saber que Fernando não voltaria. Tinha em mente que não podia esquecer de si mesmo, mas aquela dor estava acabando com sua vontade de ficar de pé e prosseguir. Revivia a última memória que tinha do artista, lembrando-se dele saindo de casa e pedindo para que fechasse o portão.

Estava claro agora que o artista já tinha em mente que não ficaria mais em sua casa, então tentava se conformar de que ele preferia assim. A tristeza maior era saber que ele deixou seu teto com o coração partido. Queria ter feito tudo diferente, queria poder ter sido o suficiente para Fernando.

Um choramingo alto do cachorro roubou a atenção de Carlos. Kid não deixava de olhar esperançoso para o dono, sem perder a esperança de que ganharia um passeio. O instrutor deu um riso baixinho, não poderia recusar aquele pedido com os olhos pidões do bichinho, se levantando dali para pegar a guia. Sair com o cachorro brincalhão conseguiu amenizar sua ansiedade, era bom colocar a cabeça no lugar e pensar nas coisas com uma perspectiva diferente.

Indigente [COMPLETA]Where stories live. Discover now