Capítulo 6 - Grãos.

1.9K 206 103
                                    


Capítulo 6 — Grãos.

O silêncio e a calmaria da noite foram substituídos pelos primeiros raios de sol da manhã e a sensação morna que ele trazia. Carlos foi o primeiro a abrir os olhos, se assustando por já ser dia, procurando seu celular para ver que horas eram.

Fernando agora acordava com a agitação do outro ao seu lado, sentando-se vagarosamente no chão enquanto via o homem ao lado parecer preocupado.

— Me desculpa... — O artista pediu, sentindo-se mal.

— Por que está se desculpando? — Carlos agora largava o celular, encarando o homem ao lado.

— Eu peguei no sono ontem, eu devia ter te acordado... — Desanimou-se, dizendo em voz baixa.

— Qual é o problema nisso? — O instrutor abriu um sorriso meigo, agora sentando-se também, tirando o cobertor de cima de seu corpo. — Tá tudo bem, Nando. Na verdade, eu dormi incrivelmente bem.

Fernando abriu um sorriso envergonhado, não querendo dizer em voz alta que havia acontecido o mesmo consigo, tendo adorado a companhia dele a noite consigo.

— O único problema é que já tá quase na hora de eu ir trabalhar, não vou poder nem passar em casa... Mas pelo menos vou chegar a tempo, já que é pertinho daqui. — Carlos afirmou, agora ficando de pé. — E eu também tenho as minhas coisas por lá, então vai dar tudo certo...

— Que bom, me sinto menos culpado assim. — O artista riu baixinho, sem coragem de encará-lo por alguns segundos.

— Bom, eu te vejo depois, Nando... Até mais.

— Até.

Fernando viu-o ajeitar a roupa amassada antes de começar a andar e admirou-o até vê-lo virar a esquina. E mesmo com ele distante, não conseguia tirar o rosto de Carlos de sua cabeça. Normalmente as pessoas não acordavam tão bonitas.

Levantou-se depois de um tempo apenas para ir ao banheiro público e, ao retornar, enrolou-se na coberta e ficou em um canto iluminado pelo sol, sentindo o calor do dia e lembrando-se da noite anterior.

Recordava-se exatamente de quando foi a última vez que recebeu uma companhia tão agradável para dormir. Mas, nem de longe, comparava-se à sensação de ter Carlos consigo.

O artista sentiu um aroma diferente e procurou sentir mais daquele cheiro na coberta que estava enrolado. Foi então que notou que o perfume de Carlos estava presente e agora tomava conta das suas narinas, fazendo com que fungasse o tecido com vontade.

♢♦♢

Carlos chegou ao trabalho e procurou seu armário para pegar um uniforme e a escova de dente. E enquanto se arrumava, ainda era difícil de acreditar que tinha passado a noite na rua.

Pensou em conversar com o amigo sobre sua noite, mas não sabia como Eduardo interpretaria aquilo e tinha medo do julgamento dele, não queria ser taxado como louco ou sem juízo. Mesmo assim, queria falar com ele sobre Fernando e, quem sabe, conseguir um apoio.

Terminou de se trocar e encontrou o colega de trabalho chegando, andando enquanto retirava a mochila das costas, indo ao próprio armário.

— Bom dia, Edu. — Carlos saudou-o, começando a caminhar ao lado dele.

— Bom dia, chegou cedo. — O colega observou. — Geralmente você chega um pouco depois de mim.

— É verdade... — Carlos assumiu. — Ah, eu queria te perguntar uma coisa.

— Manda aí. — Afirmou, agora abrindo seu armário.

— Queria saber se por acaso você conhece algum albergue... — Carlos falou, recebendo a atenção dele.

Indigente [COMPLETA]Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz