Capítulo 30 - Distância.

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Capítulo 30 — Distância.

Carlos descia do próprio carro ao chegar em sua garagem. O porta-malas estava lotado de compras e até mesmo tinha ocupado alguns bancos de passageiros com o seu recente exagero no mercado.

Teve que fazer várias viagens até a cozinha para dar conta de levar tudo. Enquanto guardava, lidava com a exaltação do cão por vê-lo chegar, ao mesmo tempo que recebia beijos molhados.

O pensamento de que sua conta do cartão de crédito estava no limite e não tinha dinheiro para pagar a fatura, era a última coisa que o preocupava. Precisava urgentemente pensar no que prepararia para que pudesse arrebatar Fernando e que o convencesse de que ficar consigo era a melhor opção.

Sua incredulidade em sua própria persuasão não era de se surpreender, visto que o artista era o homem mais orgulhoso que conhecia. E no fim, o modo de ser do artista não era injustificável, Carlos sabia que não era o primeiro a magoar fortemente Fernando, mas esperava que fosse o último, ele não merecia tanto sofrimento. Apenas queria ter o conhecido antes de qualquer catástrofe, tinha curiosidade para saber quem o artista era sem aquela manta de orgulho que carregava.

Carlos não conseguia enumerar quantas vezes esses pensamentos sobre Fernando vieram durante todo o restante daquele dia. Estar com ele e junto dele agora era o seu propósito. Claro que gostaria de que ambas as coisas juntas, mas se apenas o trouxesse de volta para que pudesse cuidar dele e remediar o que fez, já tranquilizaria seu coração.

Carlos terminou de guardar os mantimentos nos armários da cozinha sem sequer prestar atenção onde tinha deixado cada coisa. Agora poderia se sentir um autêntico apaixonado, totalmente desviado do seu foco e tendo que procurar tudo novamente.

Mesmo já passando por um amor recentemente, tudo era novo. E o que mais o assustava, era a forma como aqueles sentimentos estavam evoluindo e se tornando tão reais. Não havia mais graça em qualquer outra coisa, com exceção de Kid, que ainda tinha boa parte da atenção do dono. Mas ainda assim, a mente de Carlos ficava nublada entre os desenhos os quais o amigo sugeriu que fossem eróticos e os possíveis sentimentos de Fernando por si.

Nada que fizesse diminuía aquela ansiedade e era torturante andar pela casa sem pensar que o artista viria em algumas horas. Tudo foi limpo com um capricho incomum. Um tropeço ou outro no caminho era inevitável, principalmente com a sede de fazer tudo perfeito para Fernando.

No fim, com a casa já não precisava se preocupar, então poderia partir para a cozinha. Tinha tudo cronometrado, faria primeiro o que iria para o forno por mais tempo e depois prepararia nas panelas os acompanhamentos.

E toda essa preocupação se devia ao fato de que ficar na cozinha por algum tempo lhe rendia o cheiro dos alimentos, normalmente não se importaria em ficar cheirando à alho refogado, mas gostaria de estar perfumado quando Fernando chegasse.

Como tinha se lembrado de que Fernando havia adorado uma das lasanhas que havia feito, fez questão de comprar tudo para repetir a receita. E por saber que era lento na cozinha, separou um bom tempo para iniciar os preparos.

Montou a lasanha, levou-a para o forno e fez tudo como o planejado. Deixou a salada pronta, os legumes picados para refogar, os frios já cortados e a mesa decorada. Não quis ser escandaloso demais, então não abusou nos enfeites da mesa, fez apenas o suficiente para que o artista notasse seu cuidado a mais com aquele jantar, mas sem deixar na cara que era quase um encontro.

Estava cronometrando o tempo de tudo o que fazia e tudo estava nos conformes — com exceção de que havia cortado o indicador e queimado uma parte do pulso na panela. Então quando pôde abandonar a cozinha, foi tomar um banho rápido, mantendo o timer do forno perto de si para evitar qualquer desastre.

Indigente [COMPLETA]Where stories live. Discover now