Capítulo 9 — Humano.
Eles andavam pelas calçadas conversando, não conseguindo parar de citar por um minuto a mudança radical que apenas um corte e barba haviam feito. Com Fernando parando para acariciar o próprio rosto em alguns momentos.
Os dois pararam de caminhar quando ficaram em frente a um restaurante sofisticado, o que fez as pernas do artista tremerem por um segundo por notar que o outro parecia interessado em entrar.
— Eu sei que já passou da hora do almoço e que você já comeu um lanche, mas o que acha de almoçar comigo? — Carlos indagou, vendo a reação preocupada do outro.
— Acho melhor não... — Fernando respondeu, envergonhado.
— Por quê? — O instrutor quis saber, vendo-o parecer sem saber o que dizer.
— Ainda é meio estranho entrar nos lugares... Principalmente em um restaurante desses. — Desviou rapidamente o olhar, engolindo em seco. — E outra, você já fez muita coisa por mim, então... Não se preocupa.
— Mas eu quero comer um bolo de aniversário com você. — Carlos abriu um sorriso meigo. — E quanto a entrar ali, você pode ficar despreocupado, você com certeza vai ser o homem mais elegante de lá.
Fernando encarou os olhos azuis e confiantes do instrutor, era bom ouvir elogios sobre sua aparência, mas ainda não conseguia enxergar a si como o outro lhe enxergava.
— Por favor, Nando. — Carlos insistiu, amolecendo o coração do artista.
— Tem certeza que quer gastar mais comigo? — Foi o que conseguiu dizer, coçando a nuca.
O instrutor abriu um sorriso largo e Fernando correspondeu, mostrando os dentes, era impossível não sentir o peito aquecer ao se deparar com a expressão reluzente de Carlos.
Deu o primeiro passo para dentro do restaurante, ainda segurando as sacolas. Levando sua atenção para as pessoas na mesa, vendo que estavam vestidas normalmente, sem formalidades, o que deixou-o um pouco mais confortável.
Fernando tinha que se reafirmar de que daria tudo certo e de que estava bem, até amenizar o seu nervosismo. A sensação de formigamento e estômago embrulhando já diminuía. Agora sentia um calor bom irradiar dentro de si, abrindo espaço para um sentimento há muito tempo esquecido.
Sentia-se humano outra vez.
♢♦♢
— Eu não me lembrava de como bolo era bom. — Fernando riu, após saírem do restaurante.
— Para ser sincero, eu também não. — Carlos riu com ele, enquanto ambos caminhavam pela calçada.
— Você mantém uma dieta muito rigorosa? — O artista quis saber.
— Sim e não. — Respondeu, rindo baixinho. — Eu tento sempre manter a dieta e diversificar bastante o meu cardápio pra não cair na rotina. Eu também não como açúcar no cotidiano, então, com isso, acabo não sentindo muito a falta de "guloseimas", sabe? Só que às vezes é bom enfiar o pé na jaca, quem diz muito isso é o meu nam...
— O quê? — Fernando inquiriu, vendo que ele havia interrompido a frase bruscamente.
— Um amigo meu. — Carlos sorriu, tentando disfarçar. — Ele é como aquele diabinho que fica no nosso ombro, nos tentando a comer porcarias. Sempre me chama pra comer comida fora.
— Sei. — Soltou outra risada. — Deve ser difícil resistir com alguém provocando.
— É, é difícil sim. — Olhou para baixo, tentando não se entristecer ao lembrar-se de André.
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Indigente [COMPLETA]
RomanceEm meio à olhares tortos de reprovação vindo dos clientes, apenas um olhar era de compaixão quando um andarilho adentrou uma lanchonete no centro da cidade. Carlos parou de comer ao ver o pobre homem chegando, sentindo seu peito apertar ao vê-lo lar...