Capítulo 27 - Arrependimento.

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Capítulo 27 — Arrependimento.

Carlos acordava assustado outra vez. No relógio ainda eram dez da noite e Fernando provavelmente levaria um pouco mais de tempo para chegar. Kid ainda dormia ao seu lado no sofá, sem sequer abrir os olhos para a inquietação do dono.

O instrutor não queria ir para a cama dormir enquanto o amigo não chegasse. Um aperto ruim tomava conta de seu peito e trazia a sensação de que o outro não voltaria naquela noite.

Sabia que Fernando precisava pegar ônibus e isso fazia com que levasse um pouco mais de tempo para chegar. E em todo esse tempo em que esperava por ele, não se tranquilizava.

Sentou-se no sofá e acariciou a cabeça do cão sonolento. O arrependimento vinha cada vez com mais força a cada minuto que não recebia sinal de Fernando. A espera parecia cada vez mais insuportável e o relógio parecia travado.

Relógio esse que parecia debochar de sua cara. Seus ponteiros não queriam colaborar consigo e para Carlos era óbvio que não colaborariam. Afinal, o instrutor esnobou o presente que foi escolhido com tanto carinho. Aquilo só deixava claro o monstro que era, não merecia aquele agrado, não merecia a amizade de Fernando.

Kid pulou do sofá, chamando a atenção do dono. Carlos ficou atento aos sinais que o cão dava, ficando de prontidão ao lado dele. O cachorro grunhiu alto, em um choro de felicidade, percebendo antes do instrutor que seu outro dono estava chegando.

Apenas depois o barulho no portão foi notável. Os passos ficavam mais próximos e Fernando logo chegava, aparecendo na entrada da casa. Kid não era o único que queria pular no colo do recém-chegado. O coração de Carlos batia com tanta força que sua felicidade era quase descrita como a do cãozinho contente.

— Boa noite. — O instrutor se adiantava, vendo o amigo abaixado para acariciar o bichinho que clamava por atenção.

— Boa noite. — Fernando primeiro falou e apenas depois olhou para ele. — Achei que estaria dormindo. O Kid te acordou?

— Não. Eu estava vendo TV. — Carlos respondeu, vendo que ele agora se levantava e tirava a mochila das costas. — Não sei se já jantou, mas tem comida na geladeira.

— Já comi, sim. Só quero ir me deitar agora. — O artista voltava a andar, desviando do amigo.

— Eu também vou dormir. — O instrutor dizia, ligeiramente desapontado por ter sido abandonado. Uma parte de si acreditava que ainda poderiam conversar naquela noite.

Carlos não conseguiu dizer mais nada, então foi deixado sozinho na sala. Nem mesmo Kid estava ali, tinha seguido Fernando até o quarto dele. Então tudo o que restava, era lidar com aquele sentimento ruim por conta própria. Tinha que colher as consequências dos seus atos.

♢♦♢

Domingo, 25 de setembro.

Carlos já tinha tirado cochilos pequenos e desconfortáveis esperando o amigo chegar e após aquilo sua noite toda tinha sido desconfortável. Os sonhos ruins não lhe davam sossego e sua cabeça agora parecia pesada.

Seu celular lhe mostrava que eram oito da manhã. Tinha decidido que daria um tempo no relógio de pulso que zombava de sua cara, talvez voltaria a usá-lo quando sua consciência não estivesse tão pesada.

Se arrumou da melhor forma que sua falta de ânimo deixou e saiu do quarto. Kid não o tinha acordado para ir ao quintal fazer suas necessidades, então de cara imaginou que Fernando já estava de pé.

Ao contrário do que imaginou, não sentiu cheiro de café. A cozinha estava completamente arrumada e viu Fernando sentado, com um copo de água ao lado e parecendo concentrado em alguma coisa. Por ele estar de costas, teve que se aproximar mais até perceber que ele desenhava.

Indigente [COMPLETA]Where stories live. Discover now