Andava pelas calçadas tranquilas e sentia uma brisa gostosa da manhã. O cão farejava e seguia o caminho para a praça que sempre paravam para um descanso. Soltava Kid da guia e o deixava andar pelas proximidades, quando notava que ele estava distante, o chamava de volta. Via poucas pessoas caminhando e alguns bancos livres, escolhendo um deles para se sentar.
A conversa com o amigo na visita do dia anterior surgia em sua mente, acompanhada de questionamentos. Queria entender porque não tinha conseguido responder Eduardo e novamente se perguntava do porquê de ter dado tão pouca importância aos próprios documentos, cartões de créditos e dinheiro. Não tinha bloqueado os cartões e se preocupado com a identidade, mal pensava em si mesmo quando outra pessoa não saía de sua cabeça. Pessoa essa que até pensava ouvir a voz.
— Carlos? — A voz surgiu novamente e Carlos se deu conta de que Kid pulava no homem recém-chegado.
— Oi! — Se levantou com pressa do banco, quase tropeçando ao querer se aproximar de Fernando. — Oi! Nossa! Você tá bem?!
— Tô sim. — O artista respondeu, agora tirando sua atenção de Kid, antes abaixado para acariciá-lo. — Eu passei na sua casa e como você não atendeu, achei que estaria por aqui com ele.
— Ah! Que bom que me achou, então... — Carlos não sabia se segurava seu desespero para sobrecarregá-lo de perguntas. — Eu fiquei preocupado.
— Eu posso imaginar, me desculpe por isso. — Fernando viu-o voltar a se sentar e manteve-se em pé, deixando claro de que seria rápido.
— Tá tudo bem. — Carlos forçou um sorriso para não preocupá-lo. Não queria contar que passou a noite anterior completamente perturbado. — Então, você... Já tomou o café da manhã?
— Eu só quis te procurar pra dizer que eu achei um lugar pra ficar. — O artista respondeu, sem suspense.
Qualquer outra resposta teria doído menos. O instrutor tentou não parecer tão arrasado, apoiando a mão nos próprios joelhos, ainda sentado.
— Ah, isso faz sentido...
— Eu não te avisei antes porque eu não me lembrava do seu número. — Fernando respondeu, parecendo tomar cuidado com suas respostas, sentindo a necessidade de se justificar. — Eu saí mais cedo do trabalho ontem e quis ver como era o lugar que esse meu colega de trabalho tinha disponível. Ele vai "alugar" informalmente pra mim e aceita receber só daqui algumas semanas.
— Entendi... — Carlos agora perdeu seu olhar para a grama da praça, precisando recuperar as forças para continuar naquele diálogo.
— Lá não tem todos os luxos que você me oferecia, mas eu estou bem estabelecido. — Fernando continuou, olhando para o amigo, que ainda estava sem encará-lo.
O instrutor precisou de coragem para olhar para o artista, não só porque seu coração batia forte, mas também se contorcia em um apelo para conter a vontade de abraçá-lo e impedir que ele fosse embora.
— Eu fico feliz. — A frase não soou sincera para nenhum dos dois.
Um breve silêncio se formou e o artista se sentiu na obrigação de dizer algo, olhando rapidamente para os próprios pés e voltando a olhar para ele.
— Não esqueça que eu agradeço tudo o que fez por mim. Uma hora ou outra eu precisaria parar de te dar prejuízo. — Fernando tentou animá-lo, mas foi o único que riu com sua última frase.
— Eu não queria que você se sentisse obrigado a sair. — Foi a frase mais verdadeira que Carlos soltou, juntamente com um suspiro pesado.
— Não quero que pense assim... — O artista engoliu em seco, agora era ele que desviava o olhar, enquanto sentia que a atenção do outro se voltava em sua direção.
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Indigente [COMPLETA]
RomanceEm meio à olhares tortos de reprovação vindo dos clientes, apenas um olhar era de compaixão quando um andarilho adentrou uma lanchonete no centro da cidade. Carlos parou de comer ao ver o pobre homem chegando, sentindo seu peito apertar ao vê-lo lar...
Capítulo 29 - Escolha.
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