Capítulo 26 - Dilacerado.

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— Pode falar. — O artista quase não ouviu a própria voz pelo próprio nervosismo.

— Primeiramente. Saiba que eu não vou ficar chateado com você caso a resposta seja afirmativa. — O instrutor desviou o olhar, olhando para o resto de café em sua xícara.

— O que é? — Fernando podia sentir seu coração bater ainda mais rápido. Não esperava ouvir aquilo e agora sua desconfiança era de que o outro soubesse de sua paixão platônica.

— É que... — Respirou fundo. — Bom, eu sei que pode parecer isso, mas eu não estou te julgando... Eu só preciso mesmo saber se, por acaso, você pegou a minha carteira. Ou se viu ela por aí...

— A-Ah... Não, eu não a vi. — Esforçou-se para sua voz não falhar. Sem saber se tinha entendido a pergunta.

— Tem certeza? — Carlos sentia seu coração partir em estar insistindo no assunto. — Olha, Nando, eu não vou ficar bravo se você disser que pegou. Eu sei que aquele relógio foi caro e eu também sei que você estava querendo me agradar...

Os batimentos de Fernando estavam acelerados em um momento e, no outro, o pobre artista já não sentia mais nada. Sabia que o seu coração continuava batendo, mas era como se ele não estivesse palpitando mais.

— Eu realmente não a vi. — Reafirmou, o gosto do café não era o único amargo em sua boca. — Eu comprei com o que eu recebi nos dois dias de trabalho e mais umas gorjetas. Além de que o seu relógio era do mostruário... Então recebi um bom desconto.

— Ah. — A respiração de Carlos pareceu voltar a fluir normalmente.

— Foi até engraçado... Eu tive uma ligeira impressão de que as senhoras que me deram a gorjeta estavam tentando me paquerar. — Fernando contou, forçando um sorriso. Não sabia se estava sendo convincente, mas precisava mudar de assunto para não pensar na acusação que acabava de receber.

Carlos ainda olhava para baixo, sem saber o que fazia com tanto constrangimento. Se arrependia instantaneamente do que tinha perguntado, seu coração não estava em paz por ter tirado aquela dúvida e sim, o contrário.

— Ah, entendi... — Foi tudo o que o instrutor conseguiu dizer. — Me desculpa, mesmo. Eu não queria ter desconfiado. Eu não acreditava de verdade que você poderia ter pegado, mas eu precisava saber... Eu só...

— Tudo bem, você tem todo o direito de desconfiar. — Quis amenizar a situação, não queria continuar olhando para o rosto melancólico do outro à sua frente.

— Não, não é isso. — Contornou, podendo agora olhar para o amigo e ver que ele forçava uma expressão indiferente. — Não me leve a mal, por favor.

— Me colocando no seu lugar, eu entendo totalmente. Não se preocupe com isso. — Fernando insistiu, o que fez com que o coração de Carlos terminasse de se estraçalhar.

— Eu me sinto estúpido por isso. — Confessou, passando a mão pela testa. — A ideia não parecia tão ruim na minha cabeça. Eu realmente não queria que soasse tão estranho, nem que parecesse que eu não confio em você, porque eu confio, Nando.

— Fica tranquilo, eu entendo. — O artista expressou um sorriso quases nada convincente, tentando se livrar da enorme vontade de chorar presa em sua garganta.

Carlos apenas queria reparar seus erros, mas nada que pensava parecia ser a solução. Insistir em outro assunto não mudaria a tensão do momento, então o instrutor se levantou da mesa, dizendo instantaneamente:

— Eu vou levar o Kid pra passear. Já volto.

O artista assentiu e manteve-se sentado. Agradeceu mentalmente por não ter que continuar naquela situação. Carlos chamava o cão para ir colocar a guia para saírem e deixava o amigo sozinho na cozinha.

Indigente [COMPLETA]Where stories live. Discover now