Capítulo 9 - Humano.

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— Ah, Carlos... — Fernando parou de caminhar para encarar o instrutor.

— Oi? — Voltou sua atenção a ele.

— O que nós vamos fazer com essas roupas? A gente já viu que não adianta guardar nada comigo... — O artista indagou, tentando não esboçar sua tristeza.

O outro paralisou com a pergunta, também não tinha a resposta que ele precisava, mas ao olhar para Fernando, não conseguia mais enxergá-lo nas ruas, aquilo não voltaria a acontecer, não deixaria mais.

— Espera um pouco, eu tive uma ideia.

Fernando olhou para ele sem saber o que ele faria, vendo-o tirar o celular do bolso, parecendo ligar para alguém, agora mantendo o aparelho à orelha, conversando com quem estava do outro lado da linha.

— Edu? Tá fazendo alguma coisa? Eu preciso de você, mas antes, eu quero saber, o quanto você é meu amigo?

♢♦♢

— O que é que você aprontou, hein? — Eduardo chegava ao endereço dado pelo amigo, logo notando a presença de alguém ao lado dele. — Oi! Você deve ser o Fernando!

— Sou sim, prazer. — O artista estendeu a mão para ele, saudando-o.

— Eduardo. — O recém-chegado cumprimentou-o de volta.

— Obrigado por vir, Edu. — Carlos agradeceu.

— Você conseguiu abrir a porta? — O amigo indagou, se aproximando de um antigo estabelecimento.

— Consegui, não era das fechaduras mais fortes. Aparentemente aqui tá abandonado mesmo. — O instrutor caminhou com ele até a entrada do local com a fechadura quebrada. — O Nando costuma ficar sempre por aqui e disse que nunca ninguém aparece pra visitar, então eu tive a ideia por isso.

— Entendi... E qual é o plano agora? — Eduardo adentrou o local com os dois.

— Limpar e não chamar muita atenção. — Carlos voltou a dizer, rindo baixinho. — A ideia é fazer um lar temporário enquanto eu não recebo retorno das casas de apoio da prefeitura.

— Pra deixar claro, eu fui contra essa ideia de início, mas ele é persistente. — Fernando esclareceu, rindo baixinho.

— Eu sei bem como ele é! — Eduardo riu com o artista. — Ok, eu trouxe tudo pra limpar, os baldes com água, os rodos, os panos. Vou lá no carro pegar.

— Eu te ajudo. — Carlos ofereceu, seguindo-o.

Antes de acompanhá-los, Fernando ficou para trás, analisando melhor o estabelecimento abandonado. Não imaginando que era assim por dentro, pois quase nada se conseguia enxergar pelas janelas altas. Ainda era o local de sempre, onde se acostumou a dormir debaixo da marquise, com a diferença de que agora tinham invadido uma propriedade privada.

Os amigos voltavam com as mãos ocupadas e o artista se ofereceu para dividir o peso. Com as funções sendo designadas, cada um limparia uma parte. Fernando ficaria com o banheiro e Carlos e Eduardo com o cômodo maior da frente, que era dividido por um balcão, provavelmente sendo o espaço do caixa de alguma loja.

O artista se ocupava no lavabo e os dois amigos esfregavam o chão com sabão. E enquanto Eduardo jogava água, Carlos se aproximou dele, dizendo em voz baixa:

— Espero que realmente não dê em nada o Nando ficar por aqui esse tempo... Eu sei que foi uma ideia meio impensada, mas eu não podia deixar ele nas ruas. — Afirmou, receoso.

— Fica tranquilo, não vai acontecer nada, foi um branquelo que arrombou a porta. Mas se fosse eu, a polícia já taria dando batida aqui. — Brincou, ouvindo o amigo rir.

Indigente [COMPLETA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora