Capítulo 4 - Trajes.

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— Como assim? — Carlos quis saber mais, entregando o caderno para ele.

— Eu não vou dizer que nunca quiseram me machucar, mas... Eu nunca apelei para coisas ilícitas... — Esclareceu, vendo o outro erguer as sobrancelhas em surpresa.

— Fico feliz em saber disso, eu acho que nem eu mesmo conseguiria não ir para esse lado se acontecesse o mesmo comigo... Você é forte. — O instrutor elogiou. — Eu te admiro muito, Fernando.

O andarilho desviou o olhar e abriu um sorriso tímido, porém carregado de orgulho, algo que ele não se lembrava de ter sentido há muito tempo. Carlos olhava para as expressões do homem à sua frente, sem acreditar em como tinha sorte de ter cruzado seu caminho com ele, ficando grato por poder ter a oportunidade de conhecê-lo.

♢♦♢

Alguns dias depois, manhã de sábado.

A semana se passou e Carlos continuava com as visitas ao artista, às vezes as conversas eram rápidas e apressadas e em outros momentos, não. Mas o instrutor já se sentia mais aliviado por ver que o homem agora conseguia manter uma boa higiene e também parecia mais confortável para entrar nos estabelecimentos e passar algumas horas do dia.

Levava para Fernando alguns alimentos saudáveis e que duravam vários dias, como suplementos e barras proteicas, Carlos sabia que poderia não ser o suficiente, mas fazia o que estava ao seu alcance para melhorar, pelo menos um pouco, a qualidade de vida daquele homem.

E durante esses dias, ainda não havia conversado com o namorado sobre o auxílio que dava ao artista. André era imprevisível e gostaria de poder entrar naquele assunto pessoalmente. Como ele estava chegando de viagem, deixou a casa arrumada e assim que fez seus exercícios da manhã, viu-o chegar.

Viu-o abandonar a mochila na sala e o recebeu com um abraço gostoso, não economizando nos beijos, vendo o namorado exibir uma expressão de cansaço.

— O que foi? Tá cansado de dirigir? Quer descansar um pouco? — Carlos indagou, ainda abraçado com ele.

— O próximo fim de semana é a sua vez de viajar. — André comentou, subindo suas mãos pelas costas dele. — Já estou vindo aqui pela segunda semana seguida.

— Eu sei... O próximo fim de semana eu tenho que trabalhar, mas no outro eu vou sem falta. — Carlos afirmou sorrindo, lhe dando um beijo na bochecha. — Tá com fome?

— Tô sem apetite...

— Comeu alguma coisa antes de sair de casa ou durante a viagem?

— Não, mas não se preocupa...

— Você tem que tomar o café da manhã — O instrutor reforçou.

— Eu sei, é a refeição mais importante do dia... Me senti uma criança agora. — André soltou uma risada fraca.

— Uma criança teimosa, principalmente. — Reafirmou, afastando-se do abraço. — Bom, senta aí no sofá que eu vou fazer alguma coisa rápida pra você comer.

O advogado obedeceu, pegando o controle da televisão, passando os canais enquanto esperava. Quando largou o controle sobre a mesa de centro, viu um papel que chamou sua atenção.

André tomou a folha em mãos e desdobrou-a, revelando um lindo retrato do namorado, feito aparentemente por lapiseira ou lápis. Os detalhes estavam nítidos e cada curva, seja do seu rosto ou de seus dedos que seguravam um talher na imagem, estavam perfeitamente alinhados.

Olhou atentamente para a ilustração até Carlos voltar da cozinha, interrogando-o com pressa:

— O que é isso aqui?

Indigente [COMPLETA]Where stories live. Discover now