Após as apresentações, o técnico tratou de retornar o treinamento. Faltava pouco tempo para a nova temporada começar e, querendo ou não, o objetivo do time francês é vencer a Champions League. E esse desejo nunca esteve mais prestes a se concretizar que agora.
- Formem duplas, quero todos em forma! -- o técnico apitou e fez um sinal para onde deveriam ir.
Messi olhou de relance para Cristiano, sabendo que não iria participar já que chegou por agora. O português se afastou do gramado e sentou-se no banco, tentando não encarar aquele argentino mesmo sentindo seus olhares perfurarem a pele perfeitamente bronzeada dele. Quando Neymar se aproximou de Lionel, com seu sorriso malicioso estampado em sua face, o amigo já sabia que iria comentar algo, então apenas revirou os olhos brevemente.
- Cara. -- ele riu e colocou a mão no ombro dele começando o alongamento. -- Eu nunca te vi mais estranho do que agora. Certeza que vocês não vão sair se matando? -- volta a rir.
O argentino sorri envergonhado e balança a cabeça negativamente, se alongando também, apoiado ao outro.
- Se ele não provocar. Mas vamos ficar focando apenas no time. -- tratou de cortar o assunto e se inclinou para o lado quando o brasileiro fez o mesmo. Tinha sentido falta desses momentos, Neymar sempre foi seu amigo, independente de estarem no mesmo time ou não.
Inquieto no banco, Cristiano observava de forma discreta aquela interação. Não sabia o motivo que o levou a estar com o semblante sério e a mandíbula travada. Sentia uma sensação estranha, estava incomodado com a cena, no entanto não deveria. Sabia que eram apenas amigos. Neymar costumava ser um cara bem para frente, e talvez aquilo fosse influenciar Leonel de alguma forma. Mas o que estava pensando? Por céus! Messi já era um homem feito, não precisava se preocupar ou sentir isso por um cara desses. Na verdade, por um cara. O que era mais estranho ainda.
- Cris! -- foi tirado de seus pensamentos pelo goleiro que limpava o suor que escorria na testa, ao se aproximar dele. -- Que bom te ver aqui. Estamos todos felizes com sua vinda.
O português sorriu amigável e levantou-se abraçando o amigo.
- Creio que nem todos. -- respondeu se referindo à aquela olhada de Dí Maria para ele quando tinha chegado.
- Sempre tem invejosos, você vai se acostumar. -- ele sorri e se senta ao lado. Ambos voltam a observar o treino. -- Cá entre nós, por que está aqui? -- o português iria abrir a boca, mas o goleiro continuou. -- A resposta de verdade.
Bom, aquilo era difícil. Nem ele sabia o porquê estava lá. Novas aventuras? Tinha isso na liga italiana. Novas conquistas? Um cara como ele já teve quase tudo. Entretanto, seu olhar fixou-se nos movimentos que Messi fazia. Bastou Navas acompanhar isso e ergueu as sobrancelhas, surpreso.
- Sério? -- Cristiano arregalou os olhos se virando para ele. -- Essa sua obsessão pelo argentino é meio maluca, sabia?
- Não há obsessão aqui, apenas... Bom, não vem ao caso. -- diz com o semblante mais sério, voltado novamente para frente.
- Está aqui para arrancar a chance dele de ser novamente considerado o "melhor do mundo", não é? Devo admitir, isso é usar a cabeça.
O amigo dá alguns tapinhas no ombro de outro. Não, aquilo não era verdade. Cristiano sempre teve capacidade de ganhar o que quisesse, não precisava atrapalhar aquele cara pequeno do campo. Seria como falar que a única oportunidade que pode ter de vencer seria assim. Contudo, se não fosse concordar com o Keylor Navas, iria ter que arrancar uma outra explicação, e não vinha nada de melhor em sua cabeça. Mesmo que não devesse satisfações a ninguém.
- É isso mesmo. -- disse após um tempo. -- Eu não vou deixar que ele vença injustamente de novo. Comigo aqui, vai ser sempre o segundo. -- o goleiro ri com as palavras do amigo concordando.
O que ambos não sabiam, é que nas cadeiras de trás, Dí Maria ouvia tudo. Ele já havia treinado mais cedo e ainda voltava de uma lesão, então estava descansando um pouco, o suficiente para projetar um plano que faria Lionel parar de dar importância a esse português metido, arrogante e, agora, desesperado. No fundo, estava feliz. Podia usar isso ao seu favor. Maria se levantou, ainda encarando os dois e saiu de lá de forma discreta.
Dias depois, estavam todos prontos para a grande estreia daquele time que dava inveja aos demais. Era um jogo local, nada de tão disputado, mas já deixaria claro as intenções do time francês. O técnico se encontrava com uma prancheta na mão fazendo um gesto com a caneta, enquanto indicava os titulares e reservas.
- ... E, Neymar, você entra, claro. Vai ficar mais pela esquerda. -- assina algo. -- Messi, você no meio. E... Icardi na outra ponta.
Cristiano encara o homem no final de suas palavras. Ele não ia ser escalado, é isso?
- E quanto a mim? -- o técnico virou o rosto em sua direção. De longe, deu para ver que Dí Maria estava com um sorriso irônico nos lábios, adorando que o outro foi escalado no lugar de Cris.
- Eu não me importo de ficar no banco, Cristiano merece sua estreia. -- Icardi se pronunciou meio envergonhado por ganhar a atenção do português sob si, e o olhar de recriminação do argentino.
- Não me esqueci de você, Cristiano. Vai entrar no segundo tempo. Todos vão ter alguma chance.
Diz por fim parando de anotar. Os titulares saem para o campo, enquanto os demais se sentam nos bancos. Cristiano passa a mão na nuca ainda sem acreditar e se aproxima.
- Com licença? -- chama a atenção do técnico. -- Eu sei que cheguei agora, e longe de mim pegar o lugar de alguém, mas eu realmente devia estrear como titular. -- fala tentando fazê-lo ceder.
- Na verdade, isso quem decide sou eu. Icardi vai ficar por enquanto, se precisar de você, eu chamo. -- se vira saindo de lá.
Sorte que havia saído, pois a expressão do português não era nada boa. Como se não bastasse, o argentino passa ao lado dele dando uma risada baixa. Cristiano o acompanha com o olhar, já tinha notado que esse cara não gostava dele, mas não ia tolerar que ninguém o zombasse.
- Qual o problema? -- deu um passo para frente, fazendo o homem se virar para ele.
- Problema nenhum. Só achei engraçado algumas coisas mesmo... -- ri cruzando os braços o olhando de forma debochada.
- E por acaso, seria sobre mim? -- Cris cruzou os braços também e o encarou odiando aquela cara que Dí Maria fazia.
- Nem tudo é sobre você. Tem que parar de ser tão egocêntrico.
- Me chamou de quê?
Ele dá um passo para frente sem desviar seu olhar em momento algum. Ao longe, os jogadores tinham parado o aquecimento e observavam a cena. Messi já tinha parado seus chutes quando ouviu a reclamação de Cristiano, sabia que ele não ia gostar de ser reserva de ninguém. Porém, não imaginava que Dí Maria fosse provocá-lo. Então se aproximou na última frase, encarando o amigo o repreendendo.
- Ei! Para que isso?
- Diz para ele, Cris. -- ri irônico. -- Fala o que disse dias atrás para o Navas quando tinha acabado de chegar.
Cristiano arregala os olhos sem acreditar. Então ele estava ouvindo?
- Mas que...
- Dizer o quê? -- Lionel questiona encarando os dois.
- Você fala ou eu? -- Maria o olha tranquilamente.
No momento em que o português falaria algo, o técnico se pôs no meio dos dois nitidamente zangado pela confusão.
- Podem ir parando com isso ou nenhum aqui vai jogar nada! -- afasta um de perto do outro.
O camisa 7 começa a andar para o lado dos reservas, meio contra vontade e irritado por aquele afrontamento. Lionel aproxima do maior ainda meio curioso sobre o que estavam falando.
- O que o Dí Maria quis dizer agora a pouco? -- anda ao lado dele, o olhando.
- Nada.
- Se não era nada, por que não me fala? -- franze o cenho tentando entender aquilo.
- Porque... -- para de andar bruscamente e suspira, levando uma das mãos até a nuca e esfregando sem saber o que dizer. -- ... Porque é algo estúpido que eu falei. Não devia ter dito.
Lionel para também e leva as mãos até a cintura, ainda o observando.
- Bom, eu não sou de guardar rancor... Era sobre mim, não? -- observa o português engolir em seco. Ele está nervoso, então devia ser algo grave.
- Sim.
- Não vai me dizer o que era?
Cristiano pensou um pouco sobre. Alguma hora iria acabar sabendo, não duvidava nada que o outro argentino usaria aquilo para o que quisesse. Ele respira fundo, olhando para Lionel que mantinha sua atenção toda voltada ao português.
- Eu disse que o motivo que me levou a estar aqui era para deixar você para trás. Navas me perguntou, se eu falasse outra coisa, não iria acreditar.
Encarou o homem que pareceu ficar meio decepcionado. Nem de longe Messi achou que fosse isso.
- Eu sei que não é. Não se preocupe, até porque... Bom... Você me ajudou de alguma maneira. Não acho que me odeie a esse ponto. -- diz incomodado.
- Eu não te odeio.
Messi ergueu novamente o olhar para ele. Os jogadores ficavam observando a cena, enquanto tentavam se aquecer. A maioria achava que os dois iam sair se matando, outros achavam que iria acabar até mesmo em namoro de tamanha confusão. No fundo, apenas uma dessas opções era a certa.
-... Só... -- completou o CR7. -- ... tome cuidado com aquele seu amigo. Ele parece querer me afastar de você.
Diz tocando suavemente em seu braço. Os dois viram devagar os rostos para a figura do argentino que lançava a bola com força para dentro das redes.