Olá, olá! 😉😆
Mais um capítulo! Boa leitura!
****************************
Quando menos esperava, nos braços da minha amada, a minha visão foi me roubada. Tive uma visão dos infernos! Paredes de pedras frias e escuras erguiam-se, para lá de um fosso, para formar a fortaleza da Bruxa. Foi naquele lugar horrível que vivi ou perdi oitenta anos da minha vida. Através de uma janela suja de pó, vi a Bruxa a conversar com o corvo. A maldita ave estava empeloirada no parapeito da lareira, enquanto ela lhe falava, falava, falava... O timbre da sua voz era demasiado baixo para perceber fosse o que fosse. O Justiceiro encontrou-o e agora era uma questão de tempo para o ter no meu poder.
- Filipe, tenho que ir - desprendeu-se do meu abraço.
- Já? - quase gritei, tal foi o meu espanto. Ou tempo passou a correr e não dei conta ou... - Estás a fugir de mim, Rosa?
A minha visão estava turva e não a conseguia ver. Bolas! Pestanejei duas vezes com a esperança de recuperar a minha visão mais depressa.
- Claro que não! Hoje, prometi às minhas tias que as ajudava a escolher os tecidos para os novos vestidos da rainha. Tenho que ir mais cedo para casa. É só isso, Filipe.
Entristeci. Estivemos tanto tempo separados e agora que voltamos a reencontrar-nos, a estar juntos, o tempo voou e parecia que me doía a ideia da separação.
- Rosa - peguei-lhe nas mãos, carinhosamente -, quero te pedir que tenhas cuidado. Não converses com estranhos, não confies em ninguém...
Ela riu-se.
- Nesse caso, não deveria estar aqui a conversar contigo e pressuponho que também não deva confiar nas tuas palavras.
Sem dúvida que o meu pedido era irónico. Sorri-lhe.
- Vivemos tempos perigosos, Rosa. Eu apenas te quero proteger. Se vires algo estranho, o que seja, quero que me contes. Promete-me que vais ter cuidado.
- O que é que se passa, Filipe? - o seu tom de voz parecia assustado.
- Conflitos entre reinos - menti. - Aparentemente, vives afastada de tudo, mas na verdade vives na fronteira de Olisipo e Aragão. Podem passar por aqui pessoas com más intenções como espiões ou pássaros que nunca vistes antes...
- Pássaros? Que mal pode fazer um pássaro?
- Eles são portadores de cartas secretas. Não te aproximes de nenhum pássaro que nunca tenhas visto, porque se ele pousar aqui é porque o dono não deve estar muito longe.
- Devo ficar preocupada?
- Não. Apenas, deves ser cuidadosa e não confiar em ninguém além das tuas tias... e em mim, por mais irónico que pareça. Se algo te acontecer, Rosa, o que será de mim? Não te posso perder. Tu és a minha vida!
- Não digas essas coisas, Filipe - baixou a cabeça para fugir ao meu olhar, talvez por tímida. - Deves conhecer muitas raparigas... mais bonitas e requintadas.
- Sim, conheço. Mas nenhuma é tão bela como tu! - contraponho eu, com um sorriso.
Ela corou e ficou com um encanto enternecedor.
- Prometes-me que vais ter cuidado - insisti.
- Sim, eu prometo. Agora, devo ir.
- Oh, não - disse eu, com queixume.
- Tenho mesmo que ir, Filipe.
- Encontramo-nos, amanhã, à mesma hora?
Ela abanou a cabeça afirmativamente.
- Até amanhã, meu amor - depositei-lhe um beijo na testa, um na face, outro no canto na boca e por fim, nos lábios. Perdi-me naquele doce beijo. - Estou tão feliz por voltar a estar contigo - murmurei.
- Eu também estou feliz - disse ela, enquanto as suas faces voltaram a ganhar uma cor rosada. - Preciso ir.
Contra a vontade do meu coração, deixei-a partir. Fiquei a vê-la correr rumo a casa e não conseguia desfazer o sorriso dos meus lábios. Por fim, voltei a sentir um pouco de felicidade! Mas só seria completamente feliz quando a salvasse da maldição e partilhasse todos os dias da minha vida com ela.
- Vendaval, meu companheiro, precisamos regressar a casa - afaguei-lhe o pescoço e num salto ágil, monto-o. - Preciso ver a minha mãe - confessei-lhe.
Mal estive com ela. O único abraço que tive dela foi quando se agarrou às minha pernas completamente perdida de desgosto ao ver o seu filho amaldiçoado pela velhice. E para bem de todos nós, foi colocada a dormir como um dia Aurora esteve, um sono enfeitiçado. Tinha muitas saudades do seu abraço, do seu sorriso alegre e dos seus carinhos de mãe. Puxei as rédeas ao cavalo para dar meia volta e cavalguei de regresso ao meu reino, ao meu castelo.
💖💖💖
Era como um sonho bonito, na entrada do castelo, o meu pai beijava a mão da minha mãe como o primeiro cumprimento formal e depois beijou-a nos lábios diante de toda gente. Para além de serem o rei e a rainha de Aragão, um reino próspero, são um casal apaixonado que conquistava a admiração da corte, que tanto os admiravam pelo seu amor como os invejavam por não terem algo semelhante.
- Mãe! - exclamei eu, cheio de alegria por a ver tão bem e feliz.
O meu chamamento quebrou o olhar ternurento entre eles e desviaram-no para mim, o seu único filho. Saltei do cavalo e corri para a abraçar, sem pensar duas vezes e sem controlar as minhas vontades que podiam ser vistas como exageradas.
- Filipe, meu querido - ela enlaçou-me com o carinho que sempre recordava.
Era um abraço de mãe e não havia nenhum igual aquele! O mais próximo que tinha era o da minha madrinha. Abracei-a como nunca mais a fosse largar e voltei a sentir o doce perfume a rosas da sua pele. Sentia vontade de chorar, mas proibi-me de o fazer. Ultimamente, vivia sempre uma explosão de sentimentos.
- Hoje, ainda não te tinha visto. Onde é que foste? - perguntou ela, com uma voz suave. - Ainda pensei que tivesses ido com o teu pai, para apreenderes os teus deveres de rei.
- Fui passear, mãe. Sabes como gosto de cavalgar pelos campos - respondi eu, tentando manter a voz firme. Não queria que suspeitassem que eu estava emocionado.
- E pela floresta - acrescentou o meu pai, num tom baixo e reprovador, mas só eu o entendi.
- Pai! - exclamei eu, com os braços abertos para o acarinhar num abraço. Não sentia as mesmas saudades dele, porque tive oportunidade de disfrutar da sua companhia, mas era uma boa oportunidade para disfarçar a sua acusação.
- Meu filho... - ele abraçou-me com umas palmadinhas nas costas e murmurou-me ao ouvido: - Continuas a visitar a rapariga da floresta?
A minha resposta é um sorriso, um sorriso demasiado alegre. E mesmo sem ouvir a confirmação da minha boca, ele tem a certeza de que eu fui visita-la.
- Ana, julgo que o Filipe precisa da tua ajuda para escolher um presente para a sua noiva. Há dois dias que lhe peço que receba o ourives e ainda não o fez. Penso que o nosso filho está indeciso no que há-de escolher.
Ele sabia qual era a verdadeira razão do meu adio, dia após dia. Eu tinha esperanças de o convencer a desfazer o noivado e não colaborava com nada para que a oficialização do noivado se arrastasse por mais tempo. Mas mais uma vez, tive uma atitude diferente de outrora e mostrei-me pronto para colaborar.
- Adoraria ter uma opinião sua, mãe - disse eu, radiante.
Recordei-me de o Príncipe Ricardo de Olivais oferecer-lhe um valioso colar, num outro passado, num baile destinado a escolher o seu marido e senti uma pontada de ciúmes. Custou-me vê-lo a colocar-lhe o colar. Eu queria ser o primeiro príncipe a oferecer-lhe uma jóia, a ter aquele contacto intimo de coloca-lo no seu alto e esbelto pescoço e como ela era a minha noiva prometida tinha as maiores riquezas ao meu dispor.
- Amanhã, logo pela manhã, mandem vir o ourives - ordenou a minha mãe a uma das suas damas de companhia.
- Sim, Vossa Graça.
- Também pensei que lhe podia oferecer um vestido, um rico vestido ornamentado a arminho* para o dia em que iremos oficializar o noivado.
Ele olhou duas vezes mim, incrédulo, por uns instantes. Não sei se ficou convencido da aparente aceitação do meu noivado, mas disse:
- Fico muito contente em que penses na tua noiva e como agradá-la, Filipe.
- Eu só quero que ela se sinta feliz e que goste do meu presente de noivado.
O meu pai observava-me atentamente, mas com um sorriso nos lábios. Deveria estar a perguntar-se: porquê é que eu continuava a visitar a rapariga da floresta, se aparentemente aceitava o meu noivado.
- Carlos, pensei oferecer meia dúzias de pipas do nosso melhor vinho aos reis de Olisipo.
- Parece-me bem. A rainha Helena aprecia muito o nosso vinho. Sempre atenta e certeira, a minha rainha - elogiou-a o meu pai, enquanto lhe pega na mão e a leva aos lábios para depositar um beijo.
Olhei ao redor à procura da minha madrinha, mas só via as damas de companhia, os homens de confiança do meu pai, os soldados e os criados. Precisava saber se ela tinha falado com as fadas de Olisipo e se, hoje, viriam ao meu encontro.
- A madrinha? - perguntei.
- Não está aqui? - o meu pai olhou ao redor e ficou surpreendido. - Que estranho! Pensei que ela estivesse à minha espera para conversarmos sobre as terras que visitei.
- De certeza que ela está a tratar de algum assunto. Sabes, como ela é, quando estás ausente, Carlos. Se ela puder resolve os problemas todos.
- Sim, a madrinha é incansável - acrescentei eu.
Eu sabia muito bem o que ela estaria a fazer, senão estivesse no castelo. Não estava a tratar de assuntos do rei, mas do príncipe. Mas iria-me certificar, porque não me custava correr o castelo todo, se fosse preciso. Benditas, pernas!
- Vamos entrar - disse o meu pai, oferecendo o braço à minha mãe.
Juntos, como a família que eramos, caminhamos para o nosso castelo seguidos pela corte. Atrás de mim, ouvi burburinho e risinhos. Sabia que eram as damas de companhia da minha mãe, as mais jovens, que sempre se desfaziam em risos por estarem perto de mim. Seria por ser apenas um príncipe ou seria por ser um belo príncipe? A verdade é que elas não resistiam aos meus encantos! Eu estava habituado a ser apreciado pelas raparigas e sentia-me orgulhoso e bem pelos olhares caírem novamente sobre mim, apesar de o meu coração estar guardado apenas para uma. Era só dela!
*******************************
Estamos em contagem decrescente para a maldição. As fadas e o Filipe precisam traçar um plano!
O que é que gostaram mais deste capítulo? A vossa opinião é muito importante para a construção da história e a vossa estrelinha mágica também. 😉 Sintam se à vontade para partilhar a vossa opinião. Beijo enorme