Indigente [COMPLETA]

By OkayAutora

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Em meio à olhares tortos de reprovação vindo dos clientes, apenas um olhar era de compaixão quando um andaril... More

Capítulo 1 - R$ 1,45.
Capítulo 2 - Arte.
Capítulo 3 - Retrato.
Capítulo 4 - Trajes.
Capítulo 5 - Frio.
Capítulo 6 - Grãos.
Capítulo 7 - 38.
Capítulo 8 - Tempo.
Capítulo 9 - Humano.
Capítulo 10 - (Res)sentimento.
Capítulo 11 - Decisão.
Capítulo 12 - Recado.
Capítulo 13 - Rumos.
Capítulo 14 - Acolhimento.
Capítulo 15 - Insegurança.
Capítulo 16 - Recomeçando.
Capítulo 17 - Habituando.
Capítulo 18 - Provocação.
Capítulo 19 - Compensação.
Capítulo 20 - Aliviar-se.
Capítulo 21 - Despertar.
Capítulo 22 - Proteger.
Capítulo 23 - Início.
Capítulo 24 - Infância.
Capítulo 25 - Presente.
Capítulo 26 - Dilacerado.
Capítulo 27 - Arrependimento.
Capítulo 28 - Irremediável.
Capítulo 29 - Escolha.
Capítulo 30 - Distância.
Capítulo 31 - Inacessível.
Capítulo 32 - Flashback.
Capítulo 33 - Inconsistente.
Capítulo 34 - Esperança.
Capítulo 35 - Esperar.
Capítulo 36 - Conquista.
Capítulo 37 - Saudosista.
Capítulo 38 - Diálogo.
Capítulo 39 - Queda.
Capítulo 40 - Romantismo.
Capítulo 42 - Transparente.
Capítulo 43 - Solucionando.
Capítulo 44 - Festejando.
Capítulo 45 - Reivindicando.
Capítulo 46 - Cuidando.
Capítulo 47 - Retorno.
Capítulo 48 - Vínculo.
Capítulo 49 - Elo.
Capítulo 50 - Calúnia.
Capítulo 51 - Testemunha.
Capítulo 52 - Convite.
Capítulo 53 - Negócios.
Capítulo 54 - Coragem.
Capítulo 55 - Namorando.
Capítulo 56 - Sociedade.
Capítulo 57 - Comoção.
Capítulo 58 - Ciclos.
Capítulo 59 - Prestígio.

Capítulo 41 - Necessidade.

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By OkayAutora




Capítulo 41 — Necessidade.

Terça-feira, dia 4 de outubro.

Carlos tateou a mesa de cabeceira em busca do seu celular que tocava. Desligou o despertador e deixou o aparelho de lado, agora coçando os olhos. Ainda estava sonolento, mas não deixou de abrir um sorriso ao ver Fernando deitado ao seu lado.

Em todos os aqueles últimos três dias em que dividiram a mesma cama, o artista havia levantado mais cedo da cama e o deixado sozinho. Então Carlos ainda não sabia qual era a sensação de acordar ao lado de Fernando. Quis aproveitar a companhia e se aconchegou ao lado dele, não tinha nada de mais interessante fora daquele quarto.

Notou que o artista estava acordado quando abraçou-o, ouvindo seu bocejo e sentindo-o se remexer na cama até finalmente se virar. Antes de costas, agora Carlos podia vê-lo de frente.

— Bom dia, Portinari. — Cumprimentou-o, ainda mantendo-o em seus braços.

— Bom dia. — O artista respondeu, mantendo os olhos fechados, quase derrotado pelo sono.

— Quer dormir mais um pouquinho? — Carlos esfregou carinhosamente o ombro dele.

— Não... Não quero que fique tarde. — Fernando contestou, abrindo os olhos e se deparando com o sorriso doce do instrutor.

— Quer comer alguma coisa específica hoje? Acordei com vontade de cozinhar. Faz tempo que não faço um bolo, uma torta... — Ofereceu, vendo que o outro voltava a bocejar.

— No momento só estou com sono. — O artista riu baixinho, agora sentindo que, as mãos que antes estavam em seu ombro, agora subiam para seus cabelos.

Fernando notou um olhar diferente vindo do instrutor, pois ao mesmo tempo que ele se mantinha perto, o olhar dele estava distante dali, como se fizesse esforço pensando em algo. Foi então que ouviu-o quebrar o silêncio:

— Eu gosto tanto de morar com você. — Carlos continuou acariciando os fios curtos. — Você é importante pra mim, você sabe disso, não sabe?

Fernando apenas abriu um sorriso envergonhado, sem ser necessário verbalizar, seu olhar já era a resposta. O instrutor devolveu o sorriso, deixando claro que tinha entendido e mesmo assim, voltou a dizer:

— Nando... Eu sei que você já sabe e também sei que talvez isso pareça bobagem, mas... É sério, eu quero que se sinta seguro aqui. — Carlos desceu a mão para o braço do artista, acariciando-o calmamente. — Eu quero ser a pessoa que você precisa... Quero que se sinta à vontade para se abrir comigo e que saiba que eu nunca nessa vida vou te julgar. É uma promessa.

Fernando não estava esperando por aquilo, sem contar que mal havia acordado, então seu coração ainda sequer estava preparado para receber tanto amor pela manhã. Carlos abriu um sorriso completamente perdido, sem saber se deveria ter dito aquilo, então o artista quis tranquilizá-lo, fazendo questão de responder.

— Eu agradeço. — Fernando também subiu com sua mão para o ombro do instrutor, acariciando-o de leve.

Carlos apenas manteve-se calado enquanto puxava-o para um selinho e nada mais. Queria que ele se sentisse bem ao seu lado e para aquilo, precisava se controlar. Conteria a vontade de pular sobre o corpo dele e lotá-lo de beijos e dos mais diversos carinhos. O seu único empecilho, era justamente estar dormindo ao lado de quem era o motivo de seus desejos, o que não ajudava nem um pouco.

Tinha que entender que ele ainda não estava preparado para tanta proximidade. Compreendia o lado dele, sabia que morarem juntos e já dividirem a mesma cama com tão poucos dias, poderia ter sufocado Fernando, então não forçaria a barra.

Sabia que tudo aconteceria no momento certo. Carlos olhou para o sorriso adorável de Fernando à sua frente na cama e apenas desejou que esse momento certo estivesse próximo.

♢♦♢

Ao fim daquela semana, Fernando voltou a trabalhar alguns dias na pizzaria e, durante o tempo livre, voltava a praticar seu antigo trabalho. Carlos, por vezes, o acompanhava enquanto ele estava em meio às pinturas, mas não gostava de incomodá-lo. Na maior parte das vezes, deixava o artista exercer seu ofício em silêncio.

O instrutor não conseguia ficar tempo demais dentro de casa sem querer sair para tomar um ar. Seja se exercitando, passeando com Kid ou fazendo compras, dava um jeito de se distrair, principalmente quando ainda estava perturbado pela ideia de ser paciente.

Dormir ao lado de Fernando não era a tarefa mais fácil do mundo e controlar seus impulsos de fazer uma cantada maliciosa também não, principalmente quando o via andando bonito demais pela casa. Todas as suas ideias do que poderia fazer para evitar de ter segundas intenções estavam se esgotando.

A casa estava perfeitamente limpa, a geladeira organizada e em seu guarda-roupa, tudo dobrado e alinhado. De toda forma, não podia reclamar de como o relacionamento andava, o artista ainda se mostrava interessado e aberto e tudo parecia evoluir, mesmo que devagar.

Sua opção no momento era dar uma volta, combinando de se encontrar na casa de Eduardo. O amigo estava de folga, então aproveitou para levar algumas compras já que passaria a tarde por lá. Deixou o carro estacionado do lado de fora, não demorando para ser recebido.

— O que é tudo isso? — Eduardo indagou, ajudando o amigo com as sacolas.

— Só umas coisas pra gente comer...

— Só a gente? Tem certeza que não tem mais uma gangue de motoqueiros pra chegar daqui a pouco? — O amigo brincou, ouvindo-o rir enquanto iam para dentro da casa. — Mas sério, cara. Não precisava trazer tanta coisa.

— Não é nada. É o mínimo que eu posso fazer pra te agradecer. Você ajudou muito pedindo emprestado a caminhonete do seu primo, pra gente levar as últimas coisas do galpão.  — Carlos afirmou, deixando as sacolas sobre a mesa de jantar do amigo. — Quebrou um galho enorme pra gente.

— Não tinha que agradecer coisa nenhuma. O tanto de coisa que você já fez por mim sem reclamar... — Cotovelou-o de leve. — Mas valeu mesmo.

— Posso pegar uma bandeja no seu armário? Pra arrumar os frios?

— E precisa perguntar? — O amigo riu outra vez, encontrando uma longneck gelada em uma das sacolas, abrindo-a. — Achei que o Fernando viria. Como é que ele tá?

— Ah... Ele quis ficar em casa, mas ele tá bem sim. — Carlos respondeu, após lavar as mãos. — Onde você guarda a faca de queijo?

— Na segunda gaveta. — Mostrou, apontando a direção.

Eduardo ajudou-o a tirar as compras das sacolas, enquanto Carlos colocava uma tábua sobre a pia.

— O Nando tá trabalhando bastante nos quadros nesses últimos dias. — Falou, enquanto cortava os pequenos cubos de queijo.

— Eu fico feliz por ele. — Eduardo apoiou-se no balcão, dando um gole na cerveja. — Eu vi a foto daqueles quadros que vocês tiraram do galpão. Eu já sabia que ele era bom, mas não sabia que o cara era foda! Queria eu ser bom em algo assim...

— É, ele é bem perfeccionista. Fica horas pra fazer uns detalhezinhos pequenos, ou tentando acertar a tonalidade da tinta. — Abriu um curto sorriso, deixando a faca de lado, indo para a mesa.

— É impressão minha ou você tá meio borocoxô? Tá tudo bem?

— Tá, tá sim. Eu só ando meio preocupado... — Carlos encarou-o, franzindo o cenho. — Às vezes eu começo a duvidar dos sentimentos do Nando por mim.

— Por quê? Ele tá te tratando mal ou coisa assim? — Eduardo deixou a cerveja sobre a mesa, parando para prestar atenção ao amigo.

— Não, o Nando é perfeito. Ele é atencioso, carinhoso... O único problema é que... — Suspirou, pensando em como explicaria aquilo. — Bom, teve um dia que a gente tava se beijando e eu tava quase subindo pelas paredes. Foi aí que eu chamei ele pra ir tomar um banho comigo, você sabe o que isso significa.

— Pra irem pra cama depois, obviamente.

— Exato. Só que ele ficou meio ansioso com a pergunta e travou. Eu não quis que a situação ficasse chata, então falei que não tinha problema, que a gente podia esperar. — Carlos olhou um momento para baixo. — Isso já faz uns dias e eu nem toquei mais no assunto. Ele também não falou mais nada.

— Eu até entendo que vocês começaram a meio que namorar tem pouco tempo, mas é ruim ficar sem uma explicação... Eu te entendo.

— O problema é que a gente mora junto e também tá dormindo na mesma cama. É complicado ter que controlar a vontade de provocar ele toda vez que tô do lado dele, porque não sei se isso deixa ele desconfortável.

— Não tem outra forma de saber se você não perguntar. — Eduardo aconselhou-o, voltando tomar da garrafa.

— É que eu tenho medo de saber a resposta. — Carlos suspirou, passando a mão nos cabelos.

— Mas você não parece ter outra opção.

— Eu pensei em esperar, dar o espaço dele e tudo mais. Só que, ao mesmo tempo, eu tento me distrair pra parar de pensar tanto nisso... Vou correr, passo um tempo com o Kid, vou no mercado... — Reclamou, voltando a arrumar a mesa. — E ainda por cima, ainda falta uma semana pras minhas férias acabarem e, até lá, eu já não tenho mais o que fazer pra me distrair. Tentei tudo o que você possa imaginar. 

— Tá tão feia a coisa assim?

— Você nem imagina! Limpei a casa toda umas duas vezes, a casa tá um brinco, Edu! Nunca esteve mais limpa! Só Deus sabe o quanto eu quero dar pra esse homem! — Queixou-se, ouvindo o amigo rir de sua desgraça. — Eu só penso nisso, não sei mais o que eu faço...

— Talvez você deveria começar tomando um banho de água fria e indo se benzer, sei lá. Não acho que essa vontade toda deve ser normal, não. — O amigo brincou, ouvindo-o gargalhar. — Mas por que isso te incomoda tanto?

— É que depois de um tempo, eu pensei... E se ele não quiser transar? Tipo, nunca? Ele pode ser assexual e tá com vergonha de falar, eu não sei... É uma possibilidade.

— Você acha mesmo que pode ser esse o caso?

— Sei lá, pode ser que sim. — Ergueu os ombros.

— Eu acho que você tá pensando demais nisso... — Deu outro gole na cerveja. — E outra, caso ele realmente seja assexual, você deixaria de amar ele?

— É claro que não. — O instrutor torceu o lábio.

— Então... Tu tá só se estressando à toa, cara.

— É... Você tem razão. Às vezes eu acho que eu preciso de um hobby. — Carlos revelou, pegando um palito para espetar um cubo de queijo.

— Hobby? — O amigo o encarou, curioso.

— É. Eu sei que eu já tenho o Kid, a casa pra cuidar, os exercícios, o trabalho... Mas ainda acho que se tá sobrando tanta energia, que eu poderia gastar em uma coisa boa e produtiva... Por exemplo, eu admiro muito o Nando por ser tão talentoso no que faz, ele lutou muito pelo sonho dele, arriscou tudo. — Explicou, após comer o queijo e deixar o palito de lado. — Eu quero ter esse sentimento por alguma coisa também, você me entende?

— Eu te entendo, real... — Concordou, agora vendo seu último gole ir embora da garrafa.

— E vai além da questão de me distrair por causa do Nando... Acho que seria bom ter uma motivação a mais.

— Eu concordo com você... E, pra ser sincero, eu penso muito nisso também. Principalmente agora que a Mô tá internada e eu preciso me distrair com outra coisa... — Eduardo afirmou, deixando a garrafa vazia sobre a mesa, encarando-a como se houvesse algo de muito interessante nela. — Eu já pensei muito em ter meu próprio negócio.

— Sério? Acho que é a primeira vez que você comenta isso comigo. — Carlos se surpreendeu, puxando uma cadeira para perto dele e se sentando. — O que você quer fazer?

— Eu gostaria de ter minha própria academia, sei lá, parece meio bobo, mas... acho que poderia dar certo. Nem precisaria ser algo grande como a Extreme Fitness, até porque eu nem teria cacife pra isso.

— Eu gosto da ideia, você tem o perfil pra isso. — Carlos balançou a cabeça positivamente. — Eu poderia ser o seu sócio.

— Mas eu teria que ser a cabeça da operação, você consegue ser muito desligado, cara! — O amigo soltou, sem conseguir conter o riso.

— Ah, isso com certeza! Eu não confiaria a parte financeira a mim! Eu consigo ser um belo de um tapado às vezes. — Carlos riu de sua própria lerdeza. — Mas eu acho que a gente trabalharia bem junto.

— Cada um com a sua turma pequena de alunos, um lugar tranquilo, não muito grande, também acho que a gente se sairia bem... — Eduardo imaginou, não deixando de abrir um pequeno sorriso. — Mas e você, cara? Hoje em dia, tu tem algum sonho?

— Faz muito tempo que quero poder ajudar mais instituições de caridade. — Afirmou, pegando uma garrafa de água do meio da mesa, enchendo um copo. — Hoje eu já contribuo com algumas, mas eu queria fazer parte de algo grande...  Imagina se um dia eu fundasse a minha própria?

— Já até imaginei o nome da instituição... Algo meio Xuxa, tipo, "Carlos só para Mendigos".

— Você não presta, Edu! — O outro não conteve a risada e quase espirrou a água que bebia.

♢♦♢

— Oi, Kid! Você tava com saudade, filho?! — Carlos cumprimentou o cão enquanto entrava na sala de estar, deixando as chaves de lado. — Nando, cheguei!

O instrutor acariciou o bichinho por alguns segundos antes de voltar a chamar pelo artista. Continuou a andar e encontrou-o de frente ao espelho do banheiro no corredor, penteando os cabelos molhados.

— Oi, não ouvi você chegar. Como foi lá? — Fernando indagou, olhando-o de relance antes de voltar a olhar para o espelho por um minuto.

— Ah, foi legal. A gente só comeu e falou bobagem a tarde toda. — Carlos se aproximou para roubar um beijo rápido. — Você já vai sair?

— Tenho que ir, mas posso esperar um pouco. — Deixou o pente que usava sobre a pia, após terminar de alinhar os cabelos.

— Não, não quero que se atrase por mim... Eu só não me lembrava que você ia trabalhar hoje. — O instrutor apoiou-se na parede, sem deixar de olhar para ele. — Vai querer carona?

— Não precisa. — Tampou o gel de cabelo e pegou um pano para secar a pia molhada.

— Nem pra voltar?

— Não, até porque eu não sei que horas eu volto. Não quero que fique me esperando acordado, provavelmente eu não saio antes da meia-noite.

— Então leva meu celular, aí você me liga qualquer coisa, ou chama um táxi se não tiver mais ônibus. — Carlos tirou o aparelho de seu bolso e passou para o dele, encaixando na calça do artista.

— Não vai te fazer falta? — Encarou-o, receoso em aceitar.

— Não. E, se eu precisar ligar pra alguém no telefone fixo, eu tenho os telefones importantes anotados. — Sorriu graciosamente. — Olha, você tá muito bonito... Eu devia ter voltado mais cedo, tô triste agora.

Fernando abriu um sorriso tímido, enquanto guardava os produtos que tinha usado de volta ao armário.

— Tá tudo bem, você já passa todos os dias comigo, deve estar enjoado. — O artista disse simpaticamente, fechando o gabinete. — E eu vou te trazer uma pizza, só pelo elogio.

— Com um elogio eu ganho uma pizza? Tô pensando no que eu ganharia se fizesse outra coisa. — Carlos o provocou, rindo travesso enquanto via-o estreitar o olhar em resposta.

— Ok, deixa eu ir trabalhar. — Fernando declarou, roubando uma risada do outro ao se esquivar do que ele tinha dito.

— Espera, me dá mais um beijo antes de ir?

Carlos tinha medo de estar forçando Fernando ou encurralando-o em situações em que ele ficasse desconfortável. No entanto, quando o artista voltou a ficar próximo, sentiu as mãos dele pousarem confiantes em seu quadril.  Ouvindo-o dizer:

— E você acha que eu sairia sem isso?

O instrutor sorriu naturalmente com a resposta, sem deixar de levar seus braços para o pescoço de Fernando. Trouxe-o para mais perto, sentindo o artista o pressionar de leve contra a parede, encostando-se por completo em seu corpo enquanto o beijava.

Carlos quase perdeu a força nas pernas, sua mente toda estava voltada para os lábios que massageavam os seus e na pressão que recebia das mãos dele em seu quadril. O instrutor não precisava dizer que sentiu a falta dele em sua ausência, seu corpo já falava por si.

Carlos aproveitou o abraço e desviou-se apenas por um segundo do beijo, para cheirá-lo no pescoço, voltando para a boca dele poucos segundos depois. Se viciava em sentir as reações do artista toda vez que o fungava no cangote e achava adorável vê-lo se contraindo com o gesto.

Fernando voltou a fechar os olhos quando suas bocas se encontraram outra vez, mas sentiu que precisava abri-los, nem que por um mísero segundo. O artista necessitava ver a expressão que o outro estaria esboçando nesse momento.

Sem deixar de movimentar seus lábios gentilmente contra os dele, Fernando abriu vagarosamente os olhos. Quando percebeu, Carlos também estava encarando-o durante o beijo, o que fez com que o artista fechasse os olhos no mesmo instante, em uma falha tentativa de disfarçar.

O beijo foi cessado carinhosamente, com o ritmo diminuindo e as bocas se distanciando devagar. Eram como se fossem atraídas uma para a outra em magnetismo, o que os levou a trocarem beijos curtos antes de finalmente se afastarem.

Carlos nada comentou sobre estar olhando-o durante o beijo e Fernando também não perguntou. Por mais que os dois estivessem curiosos para saber o que haviam pensado, nada disseram sobre aquilo. Sorriram juntos, com Fernando finalmente podendo se despedir para sair.

O instrutor acompanhou-o até a entrada e recebeu um último beijo antes do artista deixar o portão. Carlos voltou para dentro, acompanhado de Kid. O cachorro parecia entristecido pela partida de seu segundo pai, exclamando seus grunhidos de insatisfação.

Carlos encostou a porta da sala e encarou o cômodo vazio. Não era justo ter aproveitado tão pouco dos beijos dele,  só pensava no quanto gostaria de ter voltado mais cedo. Porque ainda sentia seu corpo pegar fogo onde as mãos dele haviam tocado e aquilo elevava seus pensamentos para outras questões.

Queria se manter firme e respeitar o espaço do artista, ao mesmo tempo que gostaria de saber caso o outro estivesse lhe dando sinais. Fernando não parecia ser o tipo de pessoa que conversava abertamente sobre suas intimidades, então queria poder saber o que se passava na cabeça dele.

— Nando, Nando... — Suspirou para si mesmo, passando as mãos nos cabelos.  — O que é que você quer me dizer? Eu só queria entender...

Carlos não podia reclamar totalmente da ida de Fernando, porque sabia que, caso ele ficasse, seria ainda mais difícil. Estar em frente ao artista, vendo-o aparentemente à vontade com suas aproximações, era algo que não imaginava ver uma semana atrás.

E ao mesmo tempo que sabia que ainda levaria mais algum tempo para que avançassem um pouco mais no relacionamento, o instrutor pensou que não faria mal algum aproveitar que estava sozinho naquela noite.

Ainda com a lembrança vívida do beijo que tiveram, chegou ao chuveiro. Não foi a primeira vez que sentiu o volume na calça de Fernando apenas por se esfregarem em meio aos amassos e também não seria a última que sentiria desejo de se tocar apenas por senti-lo.

Já estava sem as suas roupas quando a água morna o abraçou. Sabia que não pensava direito quando sua excitação praticamente latejava em seu ventre e, impossível ou não, no momento só queria uma coisa. Desejava internamente que o artista não tivesse ido trabalhar e pudesse lhe ajudar a se satisfazer.

Carlos se lavou antes de qualquer coisa. E quando levou sua mão para baixo, não queria apenas se livrar de um desejo, queria também o calor da presença do artista naquele banho e o corpo dele. Queria a voz de Fernando sussurrando em francês no seu ouvido e as mãos dele lhe dando atenção.

Não acreditava ser possível desejar tanto alguém como o que sentia, pensava ser talvez apenas tesão acumulado, mas não parecia querer se resumir apenas naquilo. E era por aquele motivo que, mesmo com os movimentos gostosos da sua mão, ainda parecia faltar algo.

Carlos precisava dele e o queria dentro de si, então não bastava estar ali em pé se tocando, queria mais. Suspirou, mordendo o próprio lábio quando decidiu desligar o chuveiro para ir ao quarto.

Enrolou a toalha no quadril, com sua ereção marcando o tecido enquanto andava até o quarto. Abriu seu guarda-roupa e retirou uma caixa escondida de uma prateleira alta, deixando-a sobre o colchão.

— Kid, você vai ter que sair agora. Você não pode ver o que o papai vai fazer. — Olhou para o cachorro deitado no tapete ao lado da cama.

Conseguiu levar o bichinho para fora do quarto e encostou a porta. Quando voltou sua atenção para a caixa de acessórios íntimos sobre a cama, sua toalha foi jogada automaticamente ao chão.

Seus brinquedos eróticos estavam reunidos ali e longe de olhos curiosos. Fazia tempo que não brincava sozinho e mais ainda desde que não tinha outras partes estimuladas. Não tinha nem um pouco de saudade do período em que foi virgem e não queria que seu corpo se esquecesse de como fazer.

Seu antigo companheiro foi retirado do fundo da caixa, uma prótese com ventosa que já havia o ajudado durante seus períodos  de solteiro e que agora voltaria a ser bem-vinda.

Preparou tudo e finalmente subiu na cama. O brinquedo foi acoplado com facilidade na parede e Carlos não deixou qualquer constrangimento o impedir de lambuzar o pênis de borracha com lubrificante. Ajoelhado na cama, agora se provocava enquanto esfregava a prótese contra o espaço entre suas pernas.

Estava de costas para a parede onde o brinquedo pendia. O instrutor já tremia apenas por sentir a ponta pressionar a região que estava prestes a ser penetrada. E sem precisar de aviso, porque era seu corpo que controlava os movimentos, Carlos jogou suas costas para trás.

Empinava sua bunda, que descia atrevida, sendo invadida pelo pênis suspenso. Primeiramente acostumava seu corpo, para então repetir o movimento, antes de finalmente poder rebolar livremente contra o brinquedo.

Um gemido nada tímido escapou e relembrou de como era gostoso poder estar com alguém que pudesse o fazer gemer, ou melhor ainda, gritar. Não gostava de silêncio, queria poder demonstrar tudo o que estava sentindo e naquele momento agradeceu mentalmente por estar sozinho em casa.

Desceu seu quadril, com uma das mãos apoiadas na cama, enquanto a outra estava ocupada lá embaixo, se masturbando no ritmo em que se movia. Seus cabelos caíam em seu rosto, contornando suas bochechas completamente vermelhas. Sentia-se fervendo, não apenas pela pose, mas também por precisar fazer tudo sozinho.

Sentia sua boca salivar e suas mãos se movimentarem mais rápidas pelo próprio membro enquanto escorregava até a base da prótese. Tentava não fazer barulho, mas a cada vez que o pênis voltava a escorregar para dentro de si, gemia de prazer.

Sempre voltava a jogar o corpo para trás, buscando sentir mais daquilo. Era bom, mas ainda faltava algo, mal se comparava com o calor do corpo de outra pessoa. E com pessoa, se referia apenas a quem dominava todos os seus pensamentos. Carlos se recordava de todo o calor do corpo de Fernando quando se abraçavam e de toda a vontade de subir nele a cada vez que se deitavam para dormir.

Não se cansava de imaginar seu quadril sendo puxado pelas mãos dele enquanto se movimentava nos vais e vens. Tentava, inutilmente, morder a boca para conter os gemidos, mas eles não deixavam de escapar, ainda com mais frequência.

Sua mente estava completamente nublada entre pensamentos sórdidos com seu artista e apenas queria que ele estivesse ali, reproduzindo todas as piores indecências que imaginava com ele.

Carlos fazia a cama se deslocar minimamente do lugar com seus movimentos, principalmente agora, ao começar a se estimular com pressa. Seu corpo já estava completamente revestido de suor enquanto buscava intensificar cada vez mais as sensações.

Os gemidos aumentaram o volume, no canto dos lábios machucados, por tanto serem mordidos, uma gota de saliva escorria. Carlos arfava, sentindo todo seu ventre queimar enquanto aproveitava as contrações involuntárias em seu abdômen.

Suas pernas pareciam enfraquecer enquanto deslizavam sobre o colchão. E seu corpo todo estremecia em resposta ao calor que subia de seu quadril. O lençol, antes em perfeito estado, agora estava completamente amassado e sujo de seu esperma.

O instrutor respirava ofegante enquanto movia seu corpo para frente. O brinquedo saiu de dentro de si, fazendo com que a parte agora esvaziada, se contraísse. Carlos lembrava-se muito bem de como gostava de sentir o interior de suas coxas escorrendo após uma transa bem executada e aquilo era um prazer que o acessório não poderia lhe dar.

Deixou com que seu corpo caísse na cama, se deitando para recuperar o fôlego. Esperou até que o calor de sua pele se esfriasse enquanto pensava se por acaso teria sido ouvido por algum vizinho.

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