Indigente [COMPLETA]

Από OkayAutora

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Em meio à olhares tortos de reprovação vindo dos clientes, apenas um olhar era de compaixão quando um andaril... Περισσότερα

Capítulo 1 - R$ 1,45.
Capítulo 2 - Arte.
Capítulo 3 - Retrato.
Capítulo 4 - Trajes.
Capítulo 5 - Frio.
Capítulo 6 - Grãos.
Capítulo 7 - 38.
Capítulo 8 - Tempo.
Capítulo 9 - Humano.
Capítulo 10 - (Res)sentimento.
Capítulo 11 - Decisão.
Capítulo 12 - Recado.
Capítulo 13 - Rumos.
Capítulo 14 - Acolhimento.
Capítulo 15 - Insegurança.
Capítulo 16 - Recomeçando.
Capítulo 17 - Habituando.
Capítulo 18 - Provocação.
Capítulo 19 - Compensação.
Capítulo 20 - Aliviar-se.
Capítulo 21 - Despertar.
Capítulo 22 - Proteger.
Capítulo 23 - Início.
Capítulo 24 - Infância.
Capítulo 25 - Presente.
Capítulo 26 - Dilacerado.
Capítulo 27 - Arrependimento.
Capítulo 28 - Irremediável.
Capítulo 29 - Escolha.
Capítulo 30 - Distância.
Capítulo 31 - Inacessível.
Capítulo 32 - Flashback.
Capítulo 33 - Inconsistente.
Capítulo 34 - Esperança.
Capítulo 35 - Esperar.
Capítulo 36 - Conquista.
Capítulo 37 - Saudosista.
Capítulo 38 - Diálogo.
Capítulo 40 - Romantismo.
Capítulo 41 - Necessidade.
Capítulo 42 - Transparente.
Capítulo 43 - Solucionando.
Capítulo 44 - Festejando.
Capítulo 45 - Reivindicando.
Capítulo 46 - Cuidando.
Capítulo 47 - Retorno.
Capítulo 48 - Vínculo.
Capítulo 49 - Elo.
Capítulo 50 - Calúnia.
Capítulo 51 - Testemunha.
Capítulo 52 - Convite.
Capítulo 53 - Negócios.
Capítulo 54 - Coragem.
Capítulo 55 - Namorando.
Capítulo 56 - Sociedade.
Capítulo 57 - Comoção.
Capítulo 58 - Ciclos.
Capítulo 59 - Prestígio.

Capítulo 39 - Queda.

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Capítulo 39 — Queda.

Carlos agora contemplava os olhos castanhos tão doces e que raramente via de forma tão entregue. Fernando não costumava baixar sua guarda e agora o instrutor podia enxergar que ele o aceitava com mais facilidade. Subiu as mãos para as laterais do rosto do seu artista e sorriu, completamente feliz por ter sido abraçado por ele de forma espontânea.

Tudo o que Carlos gostaria de fazer naquele momento, era poder dizer repetidamente o quanto o amava e amava estar com ele. Torcia para que seus olhos passassem aquela mensagem, porque não sabia quando Fernando estaria pronto para ouvir sua declaração novamente, visto que na última, ambos não estavam no melhor momento.

— Você tá lindo, sabia? — O instrutor disse baixinho, subindo seus dedos para os cabelos recém-cortados.

— Por sua causa. — O outro respondeu, sorrindo sem mostrar os dentes. — Tenho que limpar aqui para te retribuir.

— Deixa disso... — Carlos iniciou a frase, logo percebendo que seu celular no bolso chamava sua atenção. — Ele respondeu...

— E o que diz aí? — Fernando quis saber.

— Ele falou que o cachorro chamava "Gárgula''. Não é um bom nome, quem escolhe esse nome pra um bichinho tão fofo? — O instrutor se queixou, enciumado.

— Vai lá ver o Kid. Faz alguns testes chamando ele por esse nome. — Reforçou a ideia que tinha dado mais cedo. — Enquanto isso eu vou pegar o aspirador pra passar aqui no chão rapidinho.

— Você não quer ir comigo? — Carlos indagou, completamente apreensivo.

— Eu já vou, vai ser rápido aqui.

— Tá. Tá bom. — O instrutor aceitou, não conseguindo sequer recusar a ideia de deixá-lo arrumar tudo sozinho, de tão ansioso que estava.

Ao vê-lo sair do banheiro, o artista removeu todos os cabelos picotados do chão com o aspirador e terminou de arrumar a pia um tanto quanto bagunçada pelos pertences. Guardou tudo em seu devido lugar e foi se encontrar com Carlos.

Na cozinha, o encontrou agachado, abraçado de Kid. Seu coração gelou por alguns segundos ao pensar que ele estaria chorando. No fundo sabia que tinha grandes chances daquelas fotos que viu mais cedo corresponderem com Kid e se tratarem dele, mas não desejava verdadeiramente que assim fosse.

Apressou seus passos e antes que se abaixasse para ficar ao lado de Carlos, notou que ele virou a cabeça e o olhou com uma expressão completa de felicidade. O instrutor se colocou de pé e saiu de perto de Kid, indo agarrar o artista pelo pescoço, em um abraço desajeitado.

— Não é ele! Não é ele! — Declarou entusiasmado, sem querer se afastar do abraço. — O Gárgula tinha uma pintinha branca em uma das patas de trás e eu estava olhando agora e não encontrei nada! O Kid é nosso!

Fernando não conseguiu responder naquele primeiro minuto e apenas devolveu o sorriso de felicidade. Carlos agarrou-o mais uma vez pelos ombros e depositou um selinho firme em sua boca. Ainda comemorando pela alegria de saber que, o vira-lata caramelo mais dengoso que já encontrou, não iria embora.

♢♦♢

As alianças brilhavam contra a luz e Eduardo não tirava os olhos da joia que segurava, sentindo um constante pesar no peito. Parecia completamente impossível que fosse trocar os anéis com Monique.

Esperaria por esse um mês de recuperação da namorada, mas não sabia o quanto poderia aguentar sem vê-la. O que estava acontecendo era uma completa injustiça e apenas torcia para que ela não desistisse do relacionamento nesse meio tempo. Não sabia o que pensar, muito menos o que esperar disso tudo.

Eduardo já havia recusado um convite de uma reunião de família, porque tinha certeza de que sua mãe poderia ter contado aos outros parentes sobre a internação de Monique. E não queria ter que responder perguntas pessoais e comprometedoras. Sabia que se sentiria recuado e não estava pronto para vê-los ainda.

Seus primos poderiam entender e algumas tias também, mas não queria que tivessem a impressão errada de Monique sem que a conhecessem direito. Então mesmo que quisesse fazer algo diferente, escolheu ficar em casa.

Trocou algumas mensagens com Carlos pela manhã e quando pensava que passaria o domingo todo jogado na cama, recebeu um convite do amigo para almoçar. Não queria se lamentar pelo restante do dia por não estar recebendo notícias de Monique, então tratou de se levantar.

No horário combinado, chegou à casa dele. Podia ouvir os latidos de Kid do outro lado do portão e em seguida, os passos do amigo.

— Boa tarde, cara. Como você tá? — Eduardo exclamou ao vê-lo.

— Fora aquilo que eu te falei, sobre o susto que o Kid me deu, eu estou bem. — Carlos riu baixinho, lhe dando espaço para entrar enquanto segurava Kid para não escapar.

— Ainda bem que deu tudo certo. Se até eu me apeguei com esse carinha, imagina você.

— Eu falo pro Fernando que ele é o nosso filhinho. — Riu com o amigo, agora fechando o portão. — Inclusive, foi o Nando que cozinhou hoje. Vamos ter quibe de forno.

— Cara, vocês estão muito casados. — Eduardo riu debochado, caminhando ao lado dele.

— E vê se não fala esse tipo de coisa na frente dele. Você só falta me matar de vergonha! — Carlos repreendeu-o, sem conseguir segurar a risada por muito tempo.

Eduardo fez questão de fazer outra piadinha para o amigo antes de entrarem na casa e assim que passou pela porta de entrada, sentiu o cheiro gostoso vindo da cozinha. A mesa já estava posta e Fernando retirava as luvas térmicas da mão, tendo colocado a travessa sobre um apoio na mesa.

— Nossa, que chique! Mais alguém vai vir comer também? Por que tô me sentindo um convidado especial. — Eduardo afirmou, tomando um sorriso envergonhado do artista. — Mas sério, até cheguei a salivar. Só pela cara, isso deve estar muito bom.

Fernando quase não quis aceitar o elogio, mas Carlos também teve que concordar que a comida estava lindamente decorada. Uma perfeita obra de arte no prato e no paladar.

Eduardo não se sentia nem um pouco arrependido de ter saído de casa. Ele sabia que poderia não enfrentar uma reunião de família, mas agora sabia que estava em um lugar livre de julgamentos.

Era gostoso passar esses momentos com o amigo, principalmente ao vê-lo feliz ao lado de alguém. Isso fazia seu peito apertar de saudade de Monique, mas só podia desejar o melhor para Carlos e Fernando.

Carlos queimava a língua pela pressa em começar a comer, tendo que dar um gole em seu suco para esfriar sua boca. Mal precisou explicar o que tinha acontecido, rindo sozinho pela sua fama de rei dos desastres.

— Então Fernando... — Eduardo iniciou um assunto. — Você me deixou super curioso com a história do evento ontem. Queria saber se você tá a fim de contar o resto pra gente. Quer dizer... Eu não sei se o Carlos já sabe, mas eu tô bem curioso.

— Não, não tenho problemas em contar... Só é uma história um pouco revoltante. — Puxou uma cadeira ao lado de Carlos, sentando-se. — Caso queiram saber, eu posso falar do que aconteceu antes do evento. Que foi o que fez com que ninguém fosse na exposição.

— Eu tô doido pra saber. — Eduardo deixou claro, enchendo seu copo de suco.

— Eu também. — O outro concordou, com os dois olhando para o artista.

— Pois bem, então... Para isso eu preciso voltar um ano no tempo.

Outubro de 2015.

Era o aniversário de Rebeca, filha caçula de Ana Paula, a mulher que Fernando considerava ser a mais animada em seu grupo de amigos. Isso significava que, mesmo após um mês depois de ter se separado de Natan pela traição, que provavelmente o encontraria nesse dia.

Poderia muito bem ficar em casa e evitar ir à festa de Rebeca, poderia entregar depois o presente da garota que tanto adorava brincar e passar bons momentos. Mas não faria nada daquilo, a menina contava com a presença do artista e ele não a decepcionaria.

Ana Paula, sempre que precisava, podia contar com a ajuda de Fernando para cuidar da garota. Ela era uma menina doce e extremamente curiosa, então gostava de passar um tempo no ateliê do artista, que por sua paciência com as muitas perguntas dela, se tornou o adulto preferido da menina.

A festa de Rebeca seria temática, a menina escolheu a famosa animação da gatinha Marie para a decoração. Pois a garota, desde sua primeira viagem à Paris, se encantou com o idioma e se identificou com a personagem francesa da animação da Disney.

Desde então, ela se dedicou aos estudos do francês e sempre ficava empolgada para mostrar os seus progressos para Fernando. O artista a considerava a criança mais inteligente que conheceu e viu-a se tornar um pequeno prodígio. E assim virou tradição, todas as vezes em que ia visitar Ana Paula e sua família, ele sempre tirava um momento para conversar em francês com a garota.

Já estava pronto para sair e olhou-se no espelho. Se preocupava com sua aparência, mas neste momento, sequer pensou em colocar uma roupa diferente do habitual. Não queria que um certo alguém pensasse que estava querendo atenção.

Ajeitou o blazer e lembrou-se de pegar o presente de Rebeca, no qual era um projeto em que trabalhou por alguns dias. Ela havia deixado claro que queria uma obra feita por ele e especificamente: moldada.

Saiu de casa e, ao chegar, deixou o carro junto aos outros e pôde notar que o carro de Natan já estava ali. Precisou de alguns segundos para reunir forças e seguiu. Chegando na casa, encontrou a organizadora da festa arrumando os presentes e entregou a ela o que tinha feito especialmente para Rebeca.

Olhou para os arredores para procurar a aniversariante e precisou andar um pouco mais até vê-la. A garota loira estava simplesmente adorável com um rabo de cavalo lateral e boina, além de um lenço amarrado delicadamente em seu pescoço.

— Tio Fê! — Ela chamou-o, correndo até ele e o abraçando rapidamente.

Ça va?

(Como vai?)

Je suis content! Je fête mes 9 ans!

(Eu estou feliz! Estou fazendo nove anos!)

Oui! Je te souhaite un Joyeux Anniversaire!

(Sim! Eu te desejo um feliz aniversário!)

Qu'est est-ce que tu en dis d'aller à la piscine?

(O que você acha de ir à piscina?)

Je ne peux pas, ma chérie.

(Eu não posso, minha querida.)

— Você devia ter vindo com roupa de nadar, tio Fê! — Ela retrucou, ligeiramente desapontada.

— Na próxima, pode ser? — Inquiriu, vendo-a sacudir a cabeça positivamente. — Eu deixei seu presente junto com os outros. E eu tenho a impressão de que você vai gostar bastante.

— É a escultura da Marie?! Fala que é a escultura da Marie!

— Você vai ter que abrir pra saber... — Afirmou, com Rebeca arregalando os olhos.

— Então eu vou ver agora! — A garota falou em voz alta, logo diminuindo o tom de voz e chegando mais perto para sussurrar. — Mas não fala pra mamãe... Pra ela não saber que eu tô abrindo presente agora.

— É o nosso segredo. — Concordou, fazendo um gesto de zíper na boca.

Au revoir, tio Fê! — Ela despediu-se, saindo saltitante de sua frente.

À bientôt!

(Até logo!)

Fernando sorriu de alegria ao ver aquela criatura tão especial. Pensando que algum dia gostaria de ter uma filha como ela, mesmo que nesse momento achasse improvável adotar uma criança, por sua vida estar uma completa bagunça.

— Você sempre foi bom com crianças. — Uma voz familiar chamou sua atenção.

Os olhos de Fernando reviraram tão rapidamente que quase saíram da órbita. Ainda de costas para Natan, começou a caminhar para evitá-lo, podendo ouvir os passos dele o seguindo.

— Fer! Por favor! — O ex-namorado insistiu, alcançando o ombro dele. — Eu preciso muito falar com você! A gente precisa conversar!

— E temos alguma coisa para conversar? — Tirou a mão dele de seu ombro, parando de caminhar próximo a entrada de serviço dos funcionários.

— Eu sei que pode não fazer diferença alguma pra você, mas eu queria te falar de como foi que tudo aconteceu... — Olhou para os lados, conferindo se estavam mesmo longe de todos os outros convidados. — Eu só quero a oportunidade de te explicar.

— Então fale... Mas não espere que eu vá te perdoar depois disso. — Fernando deu a permissão, mantendo sua expressão firme.

— Eu agradeço, de verdade... — Olhou esperançoso para o artista. — A minha intenção nunca foi te magoar, eu estava certo de que te deixaria por dentro de todos os meus planos... Mas eu tinha medo de como você aceitaria isso e eu não queria que você me abandonasse. Por fim, eu não te contei e ainda aconteceu o pior.

— Pois é, parabéns pra você. — Fernando debochou, sem conseguir rir.

— Fer... — Suspirou, olhando para os próprios pés antes de encará-lo de volta. — Eu não amo ela, da mesma forma que eu acho que ela não me ama também.

— Se for pra ir por essa linha, nem começa... — O artista rolou os olhos.

— Espera! — Natan quis mantê-lo por perto, se aproximando dele. — Eu só quero que saiba que, nem eu e nem ela tivemos segundas intenções. Mas aconteceu das nossas famílias se encontrarem e falarem do meu futuro e do futuro dela. Da forma doente e controladora que você conhece!

— Não sei, eu nunca pude conhecer muito bem a sua família. — Rebateu, prestando atenção no barulho da porta próximo de onde estavam.

Uma funcionária saiu da cozinha carregando uma bandeja de petiscos e o artista aproveitou para pegar um dos canapés. Colocou-o inteiro na boca, apenas precisava de alguma coisa para se distrair da vontade de estapear o homem à sua frente. Agora ela caminhava para longe e Natan voltava a dizer:

— Meus pais e os pais dela decidiram "nos juntar". Eu não consegui dizer que estava comprometido... Porque isso causaria muita comoção na frente de muita gente. — Natan contava, ao mesmo tempo que se recordava de tudo. — Meus pais são assim, eles são mestres em colocar as pessoas em saia justa, para que não consigam negar os desejos deles. Foi tudo arquitetado perfeitamente, na frente de gente importante e sabe lá Deus o que aconteceria se eu não seguisse o roteiro deles.

— E quando todos fossem embora, você não poderia ter falado com seus pais em particular? — Fernando quis saber, parecendo mais suscetível a estar na conversa.

— É claro que eu poderia e foi isso que eu tentei fazer, mas eu nunca dou a palavra final. Não importa o que eu faça. E se eu pisar firme na minha decisão, o meu futuro é questionado e o meu direito de estar na família também. — Natan respirou fundo, passando a mão pelos cabelos antes de voltar a olhar para o artista.

— E você está tão preocupado assim com a herança? Se eles são mestres em te destratar, você deveria ter dado um jeito nisso...

— Fer, eu sei que você se afastou e cortou totalmente os laços com a sua família. Mas não é tão simples pra todo mundo, principalmente quando sua família tá por toda parte, mandando e desmandando na cidade... E eu não quero sair daqui, eu gosto daqui. Por favor, tenta me entender. — Natan implorou, com os olhos marejados, sem querer perder a esperança. — Eu juro que eu não fiz de propósito, eu não fiz isso pra te magoar... Eu sempre te amei muito e ainda amo. Só queria que você pudesse entender.

— E como a sugestão de um possível namoro com você e essa sabe-se-lá-quem virou um namoro oficial?

— Íris. — Informou-o, curtamente.

— Íris, ok. Como aconteceu tudo? — Cruzou os braços, olhando-o atentamente.

— Eles exigiram que eu desse uma chance. Que eu conhecesse ela melhor, fizeram tudo por mim, até marcaram um jantar pra gente se conhecer. E, de novo, em situações que eu não tinha escapatória. — Natan continuou, olhando a expressão rígida do artista.

— A gente sempre tem uma escolha e você fez a sua.

— Só me deixa terminar...

— Eu não estou te impedindo.

— Então... De início eu e ela até tiramos sarro disso tudo. Depois de um tempo, a pressão para um possível casamento aumentou. E embora ainda eu não tivesse nem namorando com ela, ela estava constantemente frequentando a casa dos meus pais e a nossa família se reunindo. — Natan engoliu em seco, sentindo suas mãos suarem. — E nem teve pedido de namoro, era uma convenção de que eu e ela estávamos namorando. Foi assim, sem qualquer interação romântica entre nós dois.

— Então você quer que eu acredite que você ficou noivo dela apenas por pressão da sua família e que ela não te ama?

— Não é isso... Não só isso. Eu acho sim que hoje ela gosta de mim, mas a Íris é um pouco mais velha que eu, percebo que ela tá aflita com essa questão de casamento. Sempre que eu e ela conversamos, ela me diz que se casaria mesmo que fosse para se separar depois de pouco tempo. Porque talvez assim a família fosse parar de cobrar tanto isso dela... — Voltou a explicar, colocando as mãos suadas nos bolsos de sua calça. — Sei que isso ainda não é uma desculpa para eu ter escondido de você, mas eu queria que soubesse como tudo aconteceu.

— E faz quanto tempo que tudo isso começou a acontecer? — Fernando quis saber, descruzando os braços.

— Quatro meses. — Abaixou a cabeça, repleto de vergonha.

— Uau, quatro meses são necessários para que você fique noivo de uma completa desconhecida. — Fernando ironizou, levantando uma das sobrancelhas. — E como quer que eu acredite que eu era importante pra você? Porque completamos o dobro desse tempo juntos e nunca recebi a mesma consideração...

— Eu sei, eu sei disso... — Natan murmurou, completamente arrependido. — Depois que tudo isso começou, eu apenas pensei que poderia aproveitar a oportunidade. Me oferecem um alto cargo na empresa da família dela, então comecei a me deixar levar pela ideia de não depender tanto da minha própria família e construir meu próprio futuro.

— E depois de quanto tempo você a abandonaria depois de se aproveitar dela e da família dela? — O artista alfinetou, vendo que o outro não se desestabilizou pela acusação.

— Fer, eu não estou aqui dizendo que o que eu fiz foi algo admirável ou bonito. Estou sendo verdadeiramente sincero com você, da forma que você sempre mereceu. — Falou firmemente, agora dando um passo a mais para frente, percebendo que dessa vez o artista não recuou. — Eu só queria te explicar isso... Porque eu confio em você e não queria que parecesse o contrário.

— Então eu agradeço a sinceridade. Mas eu não sei se posso te perdoar.

— Você não precisa, mas... Eu faria qualquer coisa, qualquer uma, só pra ter você de volta. — Natan insistiu, agora conseguindo tocar mais uma vez o ombro do artista, vendo que dessa vez ele não recusava.

— O que eu sempre precisei, você não pôde me dar. — O artista abaixou o olhar, também sentindo a mão dele deslizar para seu pescoço.

— E o que é? É só me dizer. Eu quero te provar que eu posso fazer. — Sorriu em meio a um possível choro.

— Você sequer teria coragem de estar comigo em uma festa como essa, na frente de todos os nossos amigos. — Fernando engoliu em seco, fechando os olhos por alguns segundos enquanto aproveitava o toque dele em seu pescoço. — E era só isso que eu te pedia...

Natan deixou uma lágrima escorrer, sentindo seu coração apertar ao olhar para o artista completamente emotivo. Não pensou e avançou tão rápido para a boca de Fernando, que mal deixou tempo para ele raciocinar.

O artista não queria aceitar, não totalmente, então tentou afastá-lo uma ou duas vezes e subiu as mãos para o tórax de Natan. Precisou desviar seu rosto do dele, enquanto Natan ainda perseguia sua boca em meio às suas tentativas de fugir.

Quando o Fernando rendeu-se, afrouxou seu toque sobre a camisa do outro, deixando seus lábios serem tomados. Não queria pensar em toda a dor e mágoa que Natan o causou, apenas no sentimento que nutria por ele e que era tão difícil de se livrar.

O artista deixou que seu coração mandasse e o aceitou por um curto instante, agora mantendo suas mãos aos ombros dele. Sem ter a mínima noção do que estava acontecendo ao seu redor, Fernando foi atingido pelas mesmas mãos que o aproximavam, no minuto seguinte Natan o empurrava bruscamente.

Quase não teria entendido a motivação dele do súbito afastamento, caso não fosse pela presença de um de seus amigos saindo da cozinha. Luan olhava estático para os dois, nem conseguindo piscar pela total surpresa. Natan mudou sua expressão do pleno desespero para uma completa fúria.

Fernando ignorou a presença do amigo, ficando calado e agora completamente indignado. Esperava explicações do ex-namorado, as quais não vieram. Como se a situação constrangedora já não bastasse, o artista viu-o erguer o braço, recebendo de Natan um tapa com tanta força que fez sua bochecha formigar.

— Você tem que parar de beber! — Exclamou, abaixando a mão após atingi-lo. — É por isso que ninguém gosta de viado!

Fernando soltou o fôlego que prendeu, cobrindo o local afetado, olhando para seu agressor. Podia não acreditar no que ele havia feito, mas sua bochecha ainda ardia para confirmar que realmente tinha apanhado. Poucos funcionários saíram pela porta da cozinha para entender o que era aquela gritaria e aquilo apenas chamou mais pessoas para perto.

Quando os burburinhos começaram, Natan olhava para as pessoas à sua volta, sem conseguir falar. Queria reunir palavras ou frases para se explicar, mas ao mesmo tempo, olhava para os olhos em pânico do artista. Teve certeza naquele momento que, ao ter tomado aquela decisão, havia o perdido para sempre.

Ainda com a mão sobre o lado do rosto que ardia, Fernando não se deu o trabalho de falar qualquer coisa. Se sentia pequeno e completamente humilhado ao receber os olhares de julgamento de todos os que se aproximavam. Passou por todas aquelas pessoas, desviando delas e saindo dali sem nem mesmo desmascarar o homem covarde que o agrediu.

Andou com pressa, enxergando o caminho completamente borrado pelas suas lágrimas. Dentro de seu carro, pôde finalmente respirar e gritar para libertar o ódio contido. Abrir seu coração foi um erro que esperava nunca mais cometer. 

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