Indigente [COMPLETA]

By OkayAutora

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Em meio à olhares tortos de reprovação vindo dos clientes, apenas um olhar era de compaixão quando um andaril... More

Capítulo 1 - R$ 1,45.
Capítulo 2 - Arte.
Capítulo 3 - Retrato.
Capítulo 4 - Trajes.
Capítulo 5 - Frio.
Capítulo 6 - Grãos.
Capítulo 7 - 38.
Capítulo 8 - Tempo.
Capítulo 9 - Humano.
Capítulo 10 - (Res)sentimento.
Capítulo 11 - Decisão.
Capítulo 12 - Recado.
Capítulo 13 - Rumos.
Capítulo 14 - Acolhimento.
Capítulo 15 - Insegurança.
Capítulo 16 - Recomeçando.
Capítulo 17 - Habituando.
Capítulo 18 - Provocação.
Capítulo 19 - Compensação.
Capítulo 20 - Aliviar-se.
Capítulo 21 - Despertar.
Capítulo 22 - Proteger.
Capítulo 23 - Início.
Capítulo 24 - Infância.
Capítulo 25 - Presente.
Capítulo 26 - Dilacerado.
Capítulo 27 - Arrependimento.
Capítulo 28 - Irremediável.
Capítulo 29 - Escolha.
Capítulo 30 - Distância.
Capítulo 31 - Inacessível.
Capítulo 33 - Inconsistente.
Capítulo 34 - Esperança.
Capítulo 35 - Esperar.
Capítulo 36 - Conquista.
Capítulo 37 - Saudosista.
Capítulo 38 - Diálogo.
Capítulo 39 - Queda.
Capítulo 40 - Romantismo.
Capítulo 41 - Necessidade.
Capítulo 42 - Transparente.
Capítulo 43 - Solucionando.
Capítulo 44 - Festejando.
Capítulo 45 - Reivindicando.
Capítulo 46 - Cuidando.
Capítulo 47 - Retorno.
Capítulo 48 - Vínculo.
Capítulo 49 - Elo.
Capítulo 50 - Calúnia.
Capítulo 51 - Testemunha.
Capítulo 52 - Convite.
Capítulo 53 - Negócios.
Capítulo 54 - Coragem.
Capítulo 55 - Namorando.
Capítulo 56 - Sociedade.
Capítulo 57 - Comoção.
Capítulo 58 - Ciclos.
Capítulo 59 - Prestígio.

Capítulo 32 - Flashback.

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By OkayAutora


Capítulo 32 — Flashback.

Carlos arregalava os olhos, se levantou em um impulso e até mesmo se sentiu ligeiramente tonto por estar de pé rápido demais. Correu até a sala, pensando ter ouvido um barulho no portão. Mal sabia que horas eram, mas fez questão de sair correndo, apenas de meias, pelo quintal. Abriu o portão com pressa, olhando para os lados, sem qualquer sinal de que o artista tinha voltado.

Voltou para dentro de casa e viu que Kid carregava um de seus ossos pesados na boca. Viu-o soltar no chão e fazer um barulho semelhante ao que tinha acabado de ouvir. Sentiu-se um completo idiota e apenas foi ao seu quarto, precisava escovar os dentes e colocar uma roupa mais confortável para dormir.

♢♦♢

Naquela noite, Fernando se mantinha perturbado. Não poderia dormir com sua cabeça dando voltas. E o que podia fazer era repassar tudo o que tinha ouvido. O que não melhoraria o que sentia, mas de certa forma, faria com que processasse o que escutou.

Era completamente plausível que Carlos tivesse recorrido a uma medida drástica para o convencer, mas não podia negar que as palavras dele mexeram com o mais fundo que alguém tinha chegado em seu peito. E sabia exatamente a sensação, porque já tinha vivido aquele sentimento antes.

Um pouco mais de um ano atrás estava com alguém que o fazia se sentir da mesma forma. Um homem que parecia ser sua versão mais jovem e bonita, era incrível como Natan tinha os mesmos traços que os seus. Não se cansava de o admirar de perto e apenas queria permanecer ao lado dele sempre que podia.

E em sua rotina tentava encaixar os períodos em que ficariam juntos. Durante os dias de semana, combinavam de se encontrar. Mas aos finais de semana e em datas especiais, muitas vezes não conseguiam. Na realidade, não podiam, o relacionamento deveria ficar escondido até mesmo dos amigos tão próximos que tinham em comum.

Com aquela lembrança surgindo, Fernando agora só conseguia pensar no seu último aniversário que passou ao lado do homem que mais amou na vida. Completavam oito meses desse relacionamento sigiloso e se encontraram na sua casa, como na maioria das vezes.

Sexta-feira, 4 de setembro de 2015.

— Feliz aniversário... — Natan suspirou, se encaixando perfeitamente nos braços do artista deitado.

— Ainda não é meu aniversário. — Fernando abriu um sorriso sem jeito, não conseguia lidar bem quando o outro o olhava daquela forma amorosa.

— Ah, mas falta só uns minutinhos pra meia-noite. Já tá valendo. — Riu baixinho e beijou a pele suada do namorado. — Eu te amo, você sabe né? Eu sei que eu não sou de falar muito, mas você é muito importante pra mim. Eu não conseguiria viver sem você.

O sorriso do artista se transformou, todo seu rosto se iluminou com aquelas palavras tão carinhosas. Apenas conseguiu o abraçar com força, juntando seus corpos nus na cama e apertando a pele dele com força. Por toda a sua vida quis encontrar um amor como aquele e finalmente tinha conseguido.

— Eu também... — Fernando falou baixinho, ainda dentro do abraço. — Não sei o que eu faria sem você, então obrigado por estar comigo.

Após aquilo, quis afastar-se do abraço apenas o suficiente para roubar seus lábios com vontade. Seu beijo não era o mais contido de todos naquele momento, queria mostrar o quanto o desejava e até mesmo que gostaria de repetir o que tinham acabado de fazer.

O artista descia com as mãos para acompanhar toda a pele quente abaixo de seus dedos. Sentia toda a textura lisa do corpo que tanto amava e não conseguia parar de sorrir. O outro retribuía seus beijos e esfregava suas pernas em resposta, gemendo baixinho quando os carinhos ficaram intensos demais para conter os espasmos.

— Calma... Calma... — Natan gemeu entre uma respiração e outra e teve dificuldade em afastá-lo. — Espera só um pouquinho.

Fernando deu-lhe espaço, vendo que ele escorregava para o lado, se levantando da cama. O outro voltou com uma caixa de tamanho médio em mãos, acendendo a curiosidade do artista.

— É um presente? — Quis saber, sentando-se na cama, cobrindo a parte debaixo do corpo.

— É claro que é. Ou tá achando que você só iria ganhar o meu corpinho lindo de aniversário? — Brincou, sentando-se ao lado dele. — Abre vai.

Natan se ajeitou na cama enquanto o outro recebia a caixa. Fernando retirou a embalagem que escondia o conteúdo e logo viu o que tanto quis nos últimos tempos.

— Eu juntei as minhas economias pra te dar... — Natan abriu um sorriso tímido, que apenas fez o coração do outro se derreter com tanta doçura.

— Você... — Olhou para a câmera digital profissional, carregando um sorriso grato e incrédulo. — Eu nem sei como te agradecer.

— Ah, sabe sim! — Brincou e arrancou uma gargalhada do outro, recebendo um abraço na cama.

Natan ria com as cócegas da barba pouco crescida do namorado em seu pescoço. Amava quando o via tão empolgado, geralmente o artista se mantinha mais fechado, então apenas aproveitava aqueles momentos de felicidade sincera.

Fernando o beijava e o abraçava com força, mal sabendo o que faria em seguida, sentindo a empolgação tomar conta de si. Apenas sentia a necessidade de tocá-lo, apertá-lo, sentir seu cheiro e o manter perto de si.

— Eu quero estar com você. Todos os dias. — O artista declarou de repente, convicto. — Esse é o meu maior desejo agora.

— E o meu também. — Acariciou o rosto de Fernando gentilmente, olhando-o de uma forma que o outro não soube como interpretar.

— Não. Você não entendeu...

— É claro que entendi, eu sei o que você quer dizer. — Natan reforçou, vendo a expressão notavelmente preocupada do outro.

— Sabe mesmo? — Fernando mordeu o lábio em descontentamento.

— É claro que sim! E eu quero que saiba que eu tô muito feliz com a gente! Eu não sinto necessidade de mudar nada. A gente se dá tão bem, né? — Quis confirmar com ele, vendo-o concordar. — Então... Ninguém precisa se intrometer. Até porque você sabe o que diriam, você sempre tá nas rodinhas comigo.

— E é só por isso que não podemos tentar fazer nada diferente? Como começar dizendo pra eles, por exemplo. — Fernando continuou, não muito satisfeito com a resposta. — Eu sei que estamos bem e é justamente por isso que deveríamos formalizar.

— E como a gente faria isso?

— É só um exemplo, mas você vindo morar aqui, acho que já passaria uma mensagem bem clara pra todo mundo. Até porque eles sempre nos veem juntos, não é possível que não pensem em alguma coisa. — O artista apenas deu mais argumentos para tentar convencê-lo.

— Eu acho que morar junto é um passo grande demais, Fer. — Olhou para baixo, já não muito alegre em estar tendo aquela conversa.

— Eu sei, você não precisaria vir, foi só um exemplo, já que você tá sempre por aqui. Mas não era esse o ponto... Eu só quero não ter que me preocupar em aparecer junto com você nos lugares e mentir pras pessoas próximas de mim. — Continuou, mostrando do que realmente se tratava aquela conversa.

— Pra ser bem sincero com você... Eu não estou pronto. Não ainda.

— Tudo bem, eu respeito isso. — Fernando queria mostrar que o apoiava, que não deixava de o amar apenas por pensarem de forma diferente.

E toda aquela tensão que durou poucos minutos, simplesmente evaporou conforme testavam o presente novo. Natan foi o alvo de várias fotos do outro, tendo que implorar em seguida para que o artista apagasse suas fotos completamente sem roupa.

Quando estavam juntos, era como se o mundo tivesse outra cor. Fernando conseguia enxergar as coisas de modo muito mais positivo apenas por tê-lo ao seu lado. Nunca foi tão feliz. E melhor que aquilo, era poder dividir a cama com ele. Quase não conseguiu convencê-lo a ficar para dormir, mas o artista tinha seus meios de fazer com que ele mudasse de ideia.

Então acordaram juntos e conforme o combinado, iam se reunir em um restaurante de alta gastronomia com os amigos. Toda a turma já esperava e ainda era difícil para Fernando ter que esperar alguns minutos para chegar ao local após a ida de Natan. Não fazia sentido chegarem separados quando tinham estado juntos anteriormente.

O artista apenas precisava manter a paciência. No fim, não deixava de entender o mais novo. Não teve coragem de contar para a própria família sobre sua sexualidade, então sabia que não deveria invalidar o receio dos outros.

Como mandava o roteiro, esperou para fora do restaurante por alguns minutos e entrou. Encontrou a mesa e precisou cumprimentar todos, até mesmo quem havia acabado de ver. Como foi o último a chegar, não gostou por não ter conseguido escolher um lugar próximo de Natan, preferia sempre ficar ao lado dele ou onde pudessem ter mais facilidade para conversar, mas naquele dia, não foi assim.

Na realidade, tudo após aquele jantar foi diferente. Fernando recebeu os presentes dos amigos e Natan inventou ter esquecido a sacola em casa. Apenas entrou no roteiro e agiu como se fossem só amigos. Foi então, logo após a sobremesa, que ouviu:

— Gente, na verdade, hoje é dia de comemoração dupla! — Ana Paula iniciou, olhando animada para os rostos curiosos dos amigos. — O nosso caçulinha ficou noivo!

— Como assim? — Igor assustou-se, olhando para o amigo. — Eu nem sabia que cê tava namorando!

— Ah, mas você é desligado, não vale! — Elisângela corrigiu, soltando uma risada que deixava claro que ela já havia bebido demais.

— Eu conheci ela. O Nat é um sortudo da porra. — Luan riu debochado.

— Essa ainda não era uma informação oficial, Ana. — Natan finalmente disse, ignorando o último comentário e olhando para a dedo-duro com um sorriso claramente forçado e desconfortável.

A forma de rebater a amiga apenas deixou claro para Fernando que ela estava certa. Como aquilo era possível, não fazia ideia, mas toda sua mente se tornou turva, como um céu nublado.

— Ah, por favor! Só vai ficar entre a gente! — A moça continuou, erguendo uma taça. — Vamos brindar!

O artista olhava indignado para Natan, não conseguindo assimilar aquilo de primeira. Pode ver que sua mão tremia levemente ao levantar a taça, seu peito queimava de ódio enquanto se esforçava para não esboçar qualquer expressão de repulsa naquele momento. Os amigos brindaram e se animaram pelo mais jovem, enquanto um deles apenas fingia.

— Parabéns. — Fernando afirmou friamente, encarando os olhos castanhos aflitos de Natan.

O outro não conseguiu respondê-lo, apenas bebeu todo o conteúdo de sua taça, pedindo por mais. Enquanto o artista olhava o desespero do homem que foi pego no flagra, tentava ligar as peças em sua mente, raciocinando sobre quando poderia ter começado a ser enganado por ele.

Quando toda a comida parecia indigesta e as conversas já difíceis demais de aguentar, Fernando se levantou da mesa, mal conseguindo pedir licença aos amigos. Apenas foi ao banheiro e parou em frente à pia.

Estava ali, se olhando no espelho com uma roupa que o próprio Natan havia o ajudado a comprar. Faziam tudo juntos, dividiam suas intimidades, faziam compras e planejavam o futuro. Agora se sentia estúpido, não sabia qual o motivo de tanta ilusão. Não entendia como aquilo poderia ter acontecido diante de seus olhos, nunca pensou antes que pudesse ser tão ingênuo.

— Fer... — Natan entrou no banheiro do restaurante, chamando-o.

— Não, nem vem. — O artista recusou qualquer iniciativa de conversa.

— Eu preciso te explicar isso. Eu quis te contar antes... — Tentou se aproximar mais uma vez.

— E vai dizer o quê? Que essa mulher te amarrou e te obrigou a se casar com ela? — Revelou, em um tom certo de desprezo e ironia. — Eu nem sabia que você gostava de mulher.

— E eu não gosto! — O outro se defendeu.

— Acho melhor falar mais baixo, não vai querer que seus amigos saibam que você tem um amante. Por que é isso, não é? Já que ela é a sua noiva. — Fernando declarou, sentindo uma fisgada no peito ao olhar para o outro através do reflexo.

— Não, não é assim. Você nunca esteve em segundo lugar pra mim, nunca... — Natan agora queria estar mais próximo, mas a distância que existia ali não era física.

— Ah, que alívio. — Fernando zombou, afastando-se do homem que chegava perto demais.

— Fer...

— Mas agora eu entendo... — O artista suspirou pesadamente, agora de costas para o outro. — Com certeza faz sentido tudo aquilo que conversamos ontem. Eu estava começando a acreditar que era tudo da minha cabeça e que eu estava te pressionando demais. Então ao menos a minha intuição estava correta.

— Eu não tive escolha e é isso que eu tô tentando dizer...

— Sai daqui. — Interrompeu-o, virando-se para ele.

— Por favor.

— Eu quero ficar sozinho. — Fernando se esforçava para continuar o olhando, não era fácil aceitar que tinha sido enganado.

— Eu juro que eu não queria que você soubesse assim. Eu me arrependo de não ter te falado tudo antes, se você me deixar explicar...

— Eu não quero saber. Não quero.

— Fer, me escuta!

— Não, não dá! — Revoltou-se, sua vontade era de estapear o homem mentiroso à sua frente. — Eu não quero conversar com você. Eu não consigo nem olhar pra você agora.

— Me ouve só por dois minutos, por favor!

— Olha, você viu que eu fiquei quieto quando a gente fez o brinde ao seu noivado, não viu? E tudo isso porque eu não gosto de escândalos. Então não me force a continuar aqui falando com você porque eu não sei até que ponto a minha paciência pode aguentar.

Natan não teve escolha, então após ficar em silêncio por alguns segundos, o deixou sozinho.

A mente de Fernando podia ser descrita como um céu, que antes nublado, agora estava com nuvens pesadas e escuras. A qualquer momento, todo aquele peso carregado, iria desabar em uma tempestade que destruiria tudo pela sua frente. 

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