Quando chegou na casa, Dybala demorou alguns minutos no carro que Cris o emprestou durante sua estadia. Ele pegou o celular novamente e releu várias vezes a mesma matéria. Não era possível. Realmente, os seus dois amigos eram quem estavam procurando? Mas não teria dado tempo de já falarem tudo para a imprensa. Sabia que Paredes tinha saído do jogo e já ido buscar Maria para que se encontrassem. Teriam tido pouco tempo para agirem. Ele viu a ligação, mas não atenderam. Única coisa que sabia, é que queria sair o mais rápido possível de perto, então tinha inventado uma desculpa qualquer e foi embora. Agora que se encontrava na frente da casa do amigo, se perguntou até quando iria com esses planos. Se já sabiam. Se tinham mais malícia que ele em entender algo, porque não queria compreender algo tão ruim igual ao que talvez esteja acontecendo.
Respirando fundo, ele sai do carro e rapidamente toca a campainha da casa, sendo recebido pela mulher que abriu um sorriso simpático ao vê-lo, mas demonstrou um certo receio ao perceber sua palidez na face.
- Oi, Paulo! Bem vindo de volta. -- o deu espaço para passar. -- Está tudo bem? Parece apavorado.
- Estou... -- ele engoliu em seco. -- Eles estão lá em cima?
- Uhum. Pode ir, já levarei um lanche para vocês. Está quase perto do outro remédio do Cris mesmo. -- ela continua o olhando. -- Olha... Pode confiar em mim, se é amigo dele, é meu também, estou aqui se quiser desabafar algo.
O argentino não queria. Contudo, precisava.
- Eu... Você lembra de quando falaram aquelas coisas na imprensa? -- a viu assentir. -- Agora falaram mais coisas.
Dybala pôde jurar que a mulher, em um tom de pele bronzeado, foi tomada por um branco estranho. Ele ergueu a sobrancelha e deu uns passos para trás, se xingando mentalmente por ter falado. Não deveria. Sabia que ela poderia agir de uma forma mais exagerada por nutrir sentimentos pelo português. Fazia sentido, ele não poderia a culpar, mas mesmo assim.
- O que falaram? -- ela questionou, agora com a voz cheia de raiva. -- Mais um problema. Ótimo.
- Bom, está nas redes sociais, se der uma olhada, deve encontrar facilmente. Perdão, vejo que ficou abalada com isso, não deveria ter contado nada...
- Não, não. Tudo certo. Eu só estou um pouco preocupada de como ele vai reagir a mais isso... -- ela esfrega os dedos, virando o rosto para o lado antes de voltar a atenção nele. -- Paulo, eu confio em você, mas não posso dizer o mesmo daqueles dois, então, por favor, não deixe o Cris confiar cegamente neles. Prometa-me, sim?
O argentino arregalou os olhos, sem acreditar no que acabou de ouvir. Ela desconfiava deles? Por que confiava justamente em sua presença por ali? Ao mesmo tempo em que era levado por tais questionamentos, Ramos teria aberto a porta e, como não viu nada, disse que iria ao banheiro para não levantar suspeitas, e caminhou pelo corredor. Algo naquela casa não o dava confiança, então quando ouviu a voz daquele baixinho conversando com a mulher, parou próximo à escadaria, atento.
- Eu? Mas eles não são ruins. -- olhou para a escada. Dybala, na verdade, preferia sair correndo pela milésima vez no dia, que ficar a escutando e desconfiar de todos.
- Não? Eles fizeram muito mal ao Cris quando saiu de Madrid! -- ela olhou brevemente ao redor para checar se não estariam sido vistos ou ouvidos. -- Aquele todo tatuado, nunca passou uma entrevista que citassem Cristiano que ele não fizesse cara de desprezo ou mudasse de assunto. Depois ainda brigam em campo! Não entendo o motivo de ele estar aqui, mas não me contam mais nada. Quanto ao Marcelo, ele era o melhor amigo de Cris, hoje não passa de uma visita que não se sabe se pode confiar. Paulo, você é o único em quem acredito ser bom, porque foi gentil com ele desde o primeiro dia. Então, não deixem que façam de Cristiano o que querem. Não posso dizer isso eu mesma, sendo assim espero que você o faça. Tudo bem?
O olhou com a expressão tristonha, o que o fez se compadecer. Sérgio, que ouvia tudo, sorriu de lado com maldade segurando a risada. Então era assim que a mulher os via? Que seja. Foi muito bom ter saído daquele quarto então para ouvir a verdade. Contudo, deveriam saber que com o espanhol ninguém pode ir contra, e nem o fato de ser uma mulher o fazia pensar de outro modo. Com rápidos passos descendo a escada, o zagueiro apareceu, causando um imediato susto em ambos, mas ainda mais nela.
- Hola! -- ele sorriu e passou um dos ombros pelo ombro de Dybala que o olhava surpreso, só que secretamente aliviado por o tirar daquela situação. -- Vim ver o motivo desse daqui estar demorando. Aliás, señorita, o Cristiano me disse para te lembrar de trazer alguns aperitivos para nós, já que não está fazendo nada, e parece tão solidária. Está demorando muito, e estamos sem comer há um tempo. Na verdade, é um pouco falta de educação deixar as visitas sem comer nada, é um costume em alguns países, com certeza não deve ser o seu, mas já estou avisando. -- olha o garoto. -- Vamos, então?! -- volta a olhá-la lembrando de mais algo. -- Ah, se puder trazer mais daquele suco vermelho também, seria muita gentileza.
Ele não espera ninguém responder e puxa o baixinho para subir as escadas também. A mulher os observa subir e fecha o punho, sentindo raiva por ter sido tratada dessa maneira desrespeitosa e bem machista. Quem ele pensava que era pra falar de tal forma? Ah, mas não ficaria assim. Tentando se acalmar, a moça andou até a cozinha, enquanto mandava uma mensagem para alguém. Enquanto iam para perto dos outros, o espanhol se desvincilhou do argentino e cruzou os braços, em silêncio.
- Você ouviu, não foi?! -- Dybala questiona, mas ele não responde. -- Sérgio... Eu não ia fazer o que ela pediu.
O homem nem demonstra estar ouvindo e continua caminhando até o pequeno entrar na frente, o parando.
- Está me ouvindo? Eu não ia! Mas não acha estranho você não ter me deixado falar e inventado aquilo para não dizer sobre alguém ter nos ouvido?
O maior suspira olhando para frente antes de abaixar para vê-lo bem. Paulo não soube dizer o que seu rosto mostrava, nem o misto de desconfiança e bondade quase não observada que sentia quando olhava em seus olhos. Ele queria acreditar que Georgina mentiu. Queria mesmo.
- Eu disse para confiar em mim. Só em mim. E não o faz. Você parece acreditar em qualquer um como ela, então não posso deixar que arrisque isso também. Eu não confio em você, criança.
Dybala o olhou sem acreditar e o viu passar por ele, entrando na sala em que estavam os outros. Estava indeciso. Bem indeciso sobre o que poderia falar. Ele queria acreditar em Ramos, mas como se não o conhecia bem? Adiantando os passos, adentrou a sala sendo olhado de imediato.
- Paulo, ainda bem que está aqui! -- Cristiano o olha aliviado. -- Assustei-me se poderia tê-lo confundido com esses pedidos todos. O que aconteceu?
O argentino parou de andar e olhou para ele. Não pretendia falar no momento, não se sentia bem e sabia que tinha que esperar os outros virem também. Pegando o celular, não teve outra escolha se não mostrar a matéria e o ver ler com surpresa, sendo seguido pelos outros dois. Um pouco mais cedo que isso, Léo também tinha percebido que teria sido marcado em milhares de postagens e pôde imaginar o motivo. Terminando o chá, ele apagou o fogo, despejando o líquido na xícara e dando um gole após assoprar, o que não ajudou, já que tinha queimado a língua, porque não foi o suficiente. Logo recebeu algumas mensagens no grupo e tratou de lê-las:
[Mi Cris]
- Léo, você viu as notícias?
- Não, não quis
- Mas já acho
que sei sobre o que
se trata
[Mi Cris]
- Então leia, o plano
deu certo
[Sérgio R.M]
- Tenho certeza de que pode
ter sido o Icardi
- Ele estava nas duas cenas
- Depois ficou digitando algo
Enquanto lia o que eles mandavam, Messi recebe uma ligação de Neymar e já podia esperar uma grande bronca vindo. Então tomou tranquilamente mais um gole de chá antes de atender.
- Oi.
- Está escrito "palhaço" na minha cara, mano? -- ele pergunta quase gritando, fazendo o argentino torcer os lábios para não rir, mesmo que a situação não seja para isso.
- Por que estaria?
- Ainda pergunta o motivo? Você chamou o Sérgio e Marcelo para lá? E nem me explica antes de eu fazer o papel de idiota em te ajudar?
- Desculpa. Fazia parte do plano.
- Plano? Que plano?
- Desde quando o Cris saiu do hospital, nós investigamos quem está falando de nós para a mídia. Já sabemos que é alguém do PSG. Mais pessoas, na verdade.
- Quê?
- Então hoje foi o momento em que separamos para ver quem iria reagir de modo diferente, quando e em que parte iriam divulgar o que tivéssemos feito.
- Quê?
- Bom, já temos alguns nomes em mente, pelo que me falavam. Sérgio e Marcelo estão ajudando, porque o Cristiano chamou, não gosto muito da ideia. Mas é preciso. Entende agora?
- Não! Claro que não. Vocês nem me chamaram? Eu já fui cupido dos dois várias vezes para ser trocados por duas cobras que nem eles?! -- se indignou. -- Você confia nos dois?
- Não, é difícil, mas até agora parece quererem ajudar.
O ouviu suspirar.
- Lá no Brasil, a gente fala que quando a esmola é grande demais, o Santo desconfia. Já que não me querem por perto, só cuidado em quem confia.
- Não, Ney... Eu queria que estivesse com a gente, mas não consegui te chamar. Foi muito de uma vez só para que eu processasse.
- Hum.
- Mas vou falar para eles que você vai participar, é o único que sempre esteve do meu lado, além do Dybala.
- Como assim? Não eram só os dois lá?
- Não, ele também está ajudando. Vou avisar o Cris e veremos o que podemos fazer daqui para frente. De acordo?
- Sei não, viu. Eu gosto muito do portuga, mas só chegados dele que estão participando dessa. Você não está percebendo?
Não, ele não percebeu. E, parando para pensar, Messi podia não ter tantos amigos iguais aos do CR7, mas os que tinha, como o brasileiro, sabia que poderia confiar, então por que só os de Cris estavam os ajudando? Com a mente ocupada por pensamentos, o cara não deu muito segmento a conversa e logo desligou, ficando a pensar sobre aquilo, enquanto seus olhos liam repetidas vezes as matérias que saíam, agora.