Os dias que se seguiram passaram como se alguém tivesse segurado eles. Ambos estavam à beira do nervosismo, Léo sentia sua ansiedade consumi-lo, o que o impossibilitou de sequer dormir direito e estava mais imerso em seu próprio mundo que nunca. Não comia muita coisa, apenas tomava os remédios, tentava andar e tentava imaginar o que iria acontecer naquele sábado que teriam marcado. Cristiano por sua vez, tentava manter o foco em seu rendimento físico para conseguir mantê-lo em melhor estado, ao mesmo tempo em que tinha que dar atenção para a família. Desde aquele episódio, sua mãe estaria o evitando, e Georgina dirigia-lhe curtas palavras. Apenas os filhos realmente notavam sua presença naquela casa, mas era deles que retirava forças para aguentar tudo aquilo. Sentia que alguns jogadores lhe olhavam cochichando, porém disfarçavam se ele os questionava, então decidiu deixar para lá.
Entretanto, o dia do encontro deles tinha chegado. No momento, Cris estava na cozinha preparando uma comida, enquanto a irmã o instruía pelo facetime. Ele preparava uma receita de família que passava gerações, queria que a mãe o orientasse, porém entendeu que o melhor seria deixá-la em paz.
- Então quebres quatro ovos nesta travessa e mexas bem. -- a irmã dizia o observando fazer o que havia dito. -- Queria estar aí para ajudá-lo, certamente deve ser uma refeição especial. Não terias tanto trabalho à toa, huh?
O homem dá um sorriso de lado, mexendo na travessa do jeito que havia explicado.
- Bastante, e por isto pedi ajuda a melhor.
Levanta a cabeça dizendo um pouco aquilo com ironia e rindo em seguida. A mãe deles tinha ouvido algumas risadas e notado o filho estranho naquela semana. Não se surpreendeu, claro, ele deveria estar mesmo depois do que fez, porém era como se estivesse escondendo algo há mais, então decidiu espiar por si só. Aproximando -se da porta, a mulher abriu devagar, vendo o filho de costa e o celular em cima com a imagem da filha.
- Oi, mamãe! -- a mulher no vídeo a notou e sorriu, fazendo com que Cristiano se assustasse um pouco, e virasse para trás, a olhando também.
- Oi, meu amor. -- a mãe se aproximou, cruzando os braços, olhando para a cena. -- O que está aprontando? -- pergunta para a filha, ignorando Cris que respirava fundo, virando-se para o outro lado, a continuar com os preparativos.
- Estou ajudando o meu irmão na comida que está a fazer. Ele não queria te incomodar.
- Estou vendo. -- a mulher suspira.
- Mãe, já que está aqui, avise a Georgina para se arrumar e se arrume também, estou fazendo um banquete para nós. -- diz sem a olhar.
- Algum motivo especial? Poderia mandar alguém fazer isso por você... Ou é algo além do que está falando? -- a mãe pergunta desconfiada.
- Creio ser melhor desligar. Falo com vocês depois. Cris, se tiver alguma dúvida, estou aqui. Amo-vos! -- a irmã desliga a chamada percebendo o clima.
- Só faz isso, por favor. Os meninos eu arrumo.
Ela fica o olhando por algum tempo. Tinha medo do que seu próximo questionamento teria como resposta, então apenas olhou para o chão antes de afirmar com a cabeça.
- Certo. -- ela se vira preparando para sair da cozinha. -- Antes que eu me esqueça, se quiseres fazer o bacalhau de molho, terás que abaixar este fogo ou o caldo não engrossará.
A mãe comenta fechando a porta atrás de si. Ela tinha um palpite forte sobre o que seria, então tentava se acalmar de todas as formas. A felicidade de seu filho era a principal coisa para ela, só que é claro que não podia não deixar de achar tudo isso errado. Vai completamente contra o sentido da vida, do que acreditaram há anos, e não queria vê-lo pagar futuramente com isso, e nem que acabassem com a carreira. Em meio a esses pensamentos e com o coração apertado, dona Maria para em frente à porta que estaria sua ex-nora e bate na porta, a vendo abrir.
- Oi -- a moça sorri. -- Entra, eu só estava arrumando minhas roupas. -- dá espaço para que passasse.
- Eu só vim dar um recado do Cristiano. Ele quer que nos arrumemos para a refeição que está fazendo agora. -- a vê erguer a sobrancelha em dúvida. -- É, também pensei isso. Até pediu ajuda a Kátia para que fizesse a comida de nossa família.
- Então deve ser um almoço especial... Não acredito que ele vai nos apresentar a.. aquilo... -- ela respira fundo, segurando na porta e abaixando a cabeça. Aquilo, era claro, se referia ao cara que estaria com Cris.
- De certo sim, querida. Mas ao menos poderemos ver quem foi tão ousado assim de chegar na nossa casa, pegando tudo de nós. -- coloca a mão em seu ombro, tentando a passar confiança. -- Vamos, fique linda, tenho certeza de que, independente de quem for, tu serás a mais bela, ok, filha? -- sorri para a mulher que volta a erguer a cabeça.
As duas se abraçam e partem a se arrumar.
Léo novamente teria passado a noite em claro. No momento, seu reflexo no espelho o aterrorizava. Era isso que teria a oferecer à família dele? Estar com olheiras e mais pálido era estar à altura de Cristiano? Não mesmo. Messi deveria se cuidar mais, só que não é como se estivesse fazendo de propósito. Respirando fundo, ele termina de colocar a camisa social e o blazer vermelho-vinho por cima. Olhando-se de cima a baixo, não viu mais maneira alguma de salvar sua aparência. Tinha comprado aquela roupa há tempos, mas não sabia se era o suficiente. Se estava arrumado demais ou vestido de um jeito estranho para um almoço com a família dele. Mas se não fosse vestir isso, o que iria colocar? Pegando o celular, o mesmo entra no chat com Neymar. Óbvio que iria correr atrás dele para que, mais uma vez, o salvasse.
- Ney, você acha que uma
camisa social e blazer
é bom para encontrar a
família dele?
Não demora muito para que o amigo visualizasse e respondesse.
- Dele quem?
- ah, lembrei
- hm
- É muito formal, mano
- Tira o blazer, sobe as
mangas, deixa acima
do cotovelo, e abre alguns
botões da frente
- Coloca o óculos que eu te
dei de aniversário
- E VOCÊ NUNCA USOU
- Mas é feio.
- É um juliet, você não
entende de estilo, né
- Quando é que eu tenho que
encontrar vocês?
- Sei de um lugar top, vou te
mandar a localização
- Ok. Depois do almoço
nos vemos
- Te aviso. Obrigado
Mesmo em dúvidas sobre o que daria, Léo decidiu ouvir o amigo e se pôs daquele jeito. Neymar tinha estilo, apesar de tudo, um estilo duvidoso, era fato, mas mesmo assim o fazia legal. Então quem sabe também poderia conseguir o mesmo. Quanto aos óculos, optou por deixá-los até entrar na casa. Quando terminou de se arrumar, ele viu uma mensagem do Cris o chamando para que fosse. Engolindo em seco, ele se olhou novamente e saiu de casa, ensaiando mentalmente o que falaria lá. Tinha que estar pronto para tudo. Cristiano também estava terminando de se aprontar, já que teria que cuidar do almoço e dos meninos ao mesmo tempo. Seus filhos estavam uma verdadeira fofura sentados nas cadeiras já. Cris tinha escolhido uma camisa branca que era apertada em pontos estratégicos como os músculos que adorava exibir e uma bermuda escura, além de seus acessórios. Terminando, desceu novamente para a sala terminando de arrumar a mesa, e impedindo que sua filha enfiasse a mão no macarrão.
- Nada disso, mocinha. Nada de se sujar. -- ele sorri dando um beijo em sua bochecha.
Logo as outras duas descem as escadas. Sua mãe estava impecável, vestia trajes simples, porém lhe caíam bem, de qualquer forma. Já Georgina parecia querer chamar atenção para si, já que seu vestido também era um pouco chamativo. E, de qualquer forma, ela era linda, então chamava atenção sempre. Só que podia imaginar o motivo de ter se esforçado mais. Claro, em vão.
- Estão lindas. -- o homem sorri para elas e as ajudam a se sentar.
- Vamos comer então? -- Gina pergunta, enquanto a mãe o encara temendo o que viria.
Cristiano abaixa a cabeça lendo uma mensagem em seu celular antes de se dirigir a porta.
- Falta mais alguém. -- ele abre a porta, mostrando a figura de Léo ali parado.
Logo o mesmo entra pedindo licença e olha a família do amado reunida antes de seus olhos descerem pelas vestimentas do maior que o olhava intensamente, vendo o jeito que teria se vestido para aquela ocasião. O argentino tirou os óculos, colocando-os no bolso, e retribuiu o olhar de forma tímida, mas também bem fixo nele.