Indigente [COMPLETA]

By OkayAutora

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Em meio à olhares tortos de reprovação vindo dos clientes, apenas um olhar era de compaixão quando um andaril... More

Capítulo 1 - R$ 1,45.
Capítulo 2 - Arte.
Capítulo 3 - Retrato.
Capítulo 4 - Trajes.
Capítulo 5 - Frio.
Capítulo 6 - Grãos.
Capítulo 7 - 38.
Capítulo 8 - Tempo.
Capítulo 9 - Humano.
Capítulo 11 - Decisão.
Capítulo 12 - Recado.
Capítulo 13 - Rumos.
Capítulo 14 - Acolhimento.
Capítulo 15 - Insegurança.
Capítulo 16 - Recomeçando.
Capítulo 17 - Habituando.
Capítulo 18 - Provocação.
Capítulo 19 - Compensação.
Capítulo 20 - Aliviar-se.
Capítulo 21 - Despertar.
Capítulo 22 - Proteger.
Capítulo 23 - Início.
Capítulo 24 - Infância.
Capítulo 25 - Presente.
Capítulo 26 - Dilacerado.
Capítulo 27 - Arrependimento.
Capítulo 28 - Irremediável.
Capítulo 29 - Escolha.
Capítulo 30 - Distância.
Capítulo 31 - Inacessível.
Capítulo 32 - Flashback.
Capítulo 33 - Inconsistente.
Capítulo 34 - Esperança.
Capítulo 35 - Esperar.
Capítulo 36 - Conquista.
Capítulo 37 - Saudosista.
Capítulo 38 - Diálogo.
Capítulo 39 - Queda.
Capítulo 40 - Romantismo.
Capítulo 41 - Necessidade.
Capítulo 42 - Transparente.
Capítulo 43 - Solucionando.
Capítulo 44 - Festejando.
Capítulo 45 - Reivindicando.
Capítulo 46 - Cuidando.
Capítulo 47 - Retorno.
Capítulo 48 - Vínculo.
Capítulo 49 - Elo.
Capítulo 50 - Calúnia.
Capítulo 51 - Testemunha.
Capítulo 52 - Convite.
Capítulo 53 - Negócios.
Capítulo 54 - Coragem.
Capítulo 55 - Namorando.
Capítulo 56 - Sociedade.
Capítulo 57 - Comoção.
Capítulo 58 - Ciclos.
Capítulo 59 - Prestígio.

Capítulo 10 - (Res)sentimento.

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By OkayAutora


Capítulo 10 — (Res)sentimento.

— Eu prometo que vou pensar nisso com carinho, tá bom? — Carlos concluiu.

— Só não me deixe esperando demais... — André reclamou.

♢♦♢

Eduardo, já no restaurante, começou a se preocupar quando havia se passado mais de quarenta minutos e ainda não havia recebido notícias de Monique. Já estava prestes a mandar outra mensagem quando recebeu uma notificação de quem tanto esperava.

"Me desculpe por desmarcar em cima da hora, mas não poderei ir. Por favor, não fique chateado comigo."

Suspirou, passando a mão pela testa, pensando duas vezes antes de responder. Mesmo chateado, não queria parecer grosseiro.

"Está tudo bem." Digitou.

Se levantou da mesa que havia reservado e assim retirou-se do local.

Quarta-feira, dia 7 de setembro.

Eduardo foi trabalhar com um crescente mau humor, resultante de uma noite mal dormida. Havia ficado a madrugada toda pensando no porquê de Monique ter desmarcado o encontro, não conseguindo simplesmente mandar mensagens ou ligar perguntando o motivo da desistência dela.

Após algumas horas passadas, encontrou-se com Carlos no horário de almoço, na cozinha da academia, que foi quando o colega teve a deixa para dizer:

— Eu sei que tem alguma coisa te incomodando e com certeza não é o fato de que a gente tem que trabalhar no feriado... Você quer me falar ou...? — Carlos abriu um sorriso empático, mesmo sem saber o que se passava com ele.

— É, eu não consigo disfarçar essas coisas. — Confessou, juntando-se à mesa.

— Se não quiser me falar, tudo bem, também. — Desembrulhou os talheres que trouxe.

— É que a Monique me deu um bolo ontem. — Resumiu, ainda indignado. — Ela só disse que não poderia ir, sem falar mais nada. Nisso, eu já estava esperando ela há quase uma hora.

— É sério? — Arregalou os olhos, sem acreditar.

— Aham. — Suspirou, envergonhado.

— Poxa, por que será que ela fez isso? Será que aconteceu alguma coisa?

— Você é desses todos positivos mesmo, hein. — Eduardo soltou uma risada. — Chega até ser irritante, de tão ingênuo.

— É que eu nem sempre gosto de pensar o mal das coisas e das pessoas. Às vezes ela realmente teve um bom motivo para cancelar, sei lá.

— Tá, talvez ela tenha tido realmente alguma coisa pra fazer, mas ela poderia ter me avisado... Tipo, bem antes, né? Pelo menos antes de eu chegar no restaurante. — Bufou, passando a mão na testa. — Eu só passei vergonha reservando a mesa para dois e depois indo embora.

— Bom, eu sei que ela pode ter tido uma emergência, mas também podemos pensar na possibilidade de ela ter feito isso por outro motivo. — Carlos sinalizou, demonstrando uma expressão que o amigo não reconheceu.

— Explique melhor. — O amigo pediu, curioso.

— Você me disse que ela era um pouco insegura, principalmente por causa do peso, não seria por algo assim? Às vezes ela tem medo de que fique mais sério e você a rejeite depois, vai saber. — Carlos levantou os ombros.

— Eu não quero dizer que isso não faz sentido, eu até entendo a preocupação, caso seja essa. Só que ela já está cansada de ouvir de mim que isso não é problema algum e que eu não quero mudá-la. — Eduardo olhou por um segundo para o chão, pensando naquela possibilidade.

— Se você diz isso com frequência, então pode ser um indicativo de que ela está desconfortável, mas olha, eu realmente não sei. — Carlos afirmou, com medo de não estar ajudando. — Não entendo nada de mulheres. Mas se precisar de conselho sobre homens, eu até que posso ajudar.d

— Por enquanto, eu passo. — Eduardo riu com o amigo.

— Mas não fica assim, tenho certeza de que ela vai te mandar alguma mensagem te explicando o que houve, em breve. — Carlos tranquilizou-o, pousando por poucos segundos a mão sobre o ombro do amigo. — Relaxa.

— Eu ficaria feliz se ela fizesse isso, porque eu não tenho coragem de perguntar. Eu sei que pode parecer besteira, ou parecer que estou me achando o "gostosão irresistível", mas é muito ruim ficar plantado esperando por alguém, eu nunca tinha passado por isso. — Revelou, ainda constrangido.

— É, tudo tem uma primeira vez. — Riu com ele. — Eu sei que vai dar tudo certo.

Os dois terminaram seus pratos, ainda conversando sobre seus frustrados relacionamentos amorosos, até o horário do fim do almoço chegar. Se levantaram da mesa, recolhendo suas coisas quando Eduardo chamou o colega novamente.

— Ah, Carlos, deixa só eu te perguntar uma coisa...

— Diga.

— Tem compromisso pra hoje? Eu sei que você não bebe, mas eu quero afogar as mágoas... Tá a fim de um happy hour quando a gente sair?

— Eu não poderia negar isso pra você nesse momento. — Carlos brincou, vendo o sorriso do amigo. — Vamos sair sim, faz tempo que a gente não faz isso.

— Fica combinado, então.

♢♦♢

Naquele mesmo dia, Fernando desenhava com a claridade que entrava da janela de vidros embaçados, ocasionalmente parando para observar o local que estava, com o chão limpo e um colchão confortável, debaixo de si.

Carlos havia chegado cedo, antes de seu expediente, para ajudá-lo, trazendo mais algumas coisas de sua casa, que Fernando agora poderia guardar consigo, já que ali dentro, ninguém poderia tomá-las.

O artista olhou em volta mais uma vez, vendo, além das coisas que havia ganhado de Eduardo, as sacolas que eram de Carlos. Dessa maneira, sempre se pegava sorrindo ao lembrar-se dele tão carinhosamente, não sabendo como teve tanta sorte em encontrá-lo.

Quando sentiu a fome lhe incomodar, comeu uma das frutas que o amigo havia deixado, voltando a concentrar-se nos desenhos, mesmo que com a mente longe daqueles papeis.

Estava satisfeito e se sentia seguro. Porém, uma sensação ruim sempre lhe apertava o peito, como se lhe dissesse que não deveria fantasiar situações demais. A voz interna soava, igual a um alarme e Fernando tinha que lidar com ela.

Sabia que teria que se afastar de Carlos uma hora ou outra, principalmente caso ele não conseguisse o abrigo que tanto estava à procura. Sentia que estava se aproveitando do amigo e não queria continuar com aquilo por muito mais tempo.

♢♦♢

Carlos comemorou mentalmente quando o fim do seu expediente chegou, logo indo tomar uma ducha e arrumando-se para encontrar-se com o amigo no bar.

Não precisou dirigir até lá e essa era uma das coisas de que mais gostava por trabalhar em pleno centro comercial. Andou poucas quadras e logo entrou no estabelecimento, achando a mesa que o amigo havia escolhido.

— Para quem está em um happy hour, você não me parece muito animado. — Carlos afirmou rindo, após sentar-se.

— Posso realmente me considerar o cara mais azarado da face da Terra? — Eduardo iniciou, atiçando a curiosidade do amigo.

— O que houve? — Indagou, colocando as mãos sobre a mesa.

— É a Monique...

— Sem suspense, conta logo! — Carlos pediu, com os olhos atentos.

— Olha na reta daquele quadro ali, mas na parede do outro lado do bar. — Eduardo pediu, cautelosamente. — Veja quem está na mesa naquela direção.

Os olhos de Carlos percorreram a localização que o amigo tinha indicado, demorando alguns minutos até perceber que a mesma mulher da foto que Eduardo o tinha mostrado uma vez, estava ali.

— É ela? — Perguntou, assustado.

— Sim, é.

— Ela te viu? — Inquiriu, falando mais baixo. — Você quer ir embora daqui? Se você tivesse me falado antes, a gente poderia ter ido pra outro lugar.

— Pra ser sincero, que eu fiquei com vontade de ir embora, eu fiquei. Mas eu não sei. — Suspirou, olhando para os lados discretamente. — Principalmente porque ela parece estar em um encontro com alguém...

— Será? Aquele cara ali pode ser irmão, primo... — Carlos tentou acalmá-lo.

— Ah, cara! Qual é a probabilidade de ela estar aqui simplesmente bebendo com um parente? Eu não conheço muita gente que faz isso... Além de que ela me dispensou outro dia, então esse pode ser um motivo bem plausível. — Fechou a cara, encarando o amigo.

— Ah, Edu, eu não sei se você deveria ficar pensando nisso, sinceramente. — Carlos tentou amenizar a situação. — Você me chamou aqui pra gente se distrair, então se você não estiver confortável, a gente tenta outro lugar.

— Não vou mesmo, quero que ela me veja aqui. — Continuou a falar, seriamente. — Poxa, ontem ela nem me disse o porquê que não pôde sair comigo, nem me ligou, foi por mensagem! Agora saio e a primeira pessoa que encontro é ela? Ah, vai tomar no...

— Calma. — Carlos riu, interrompendo o palavreado. — Desse jeito, lá de longe, ela vai te ouvir.

— É que eu acho que se ela não tivesse interessada, ela poderia ter me dito antes, que saco! — Bufou, irritado.

— Tem certeza de que não quer ir em outro lugar? — Sugeriu.

— Vou tentar fingir que ela não está aqui, afinal, eu já até fiz o meu pedido e tudo. — Ergueu os ombros.

— Então tudo bem, vou escolher algo pra mim, também. — Carlos deslizou o cardápio em sua direção. — Sinceramente, eu já comi muita porcaria nesses últimos dias e bebi além da conta, mas eu acho que a gente merece esquecer os nossos problemas e hoje é um bom dia pra isso.

— Eu gosto assim, quando você decide deixar o Sr. Certinho para lá! — Eduardo concordou, fazendo-o rir.

O pedido foi retirado, com o garçom trazendo primeiro as bebidas. E não demorou muito para que Carlos voltasse a falar com o amigo, revelando:

— Então, o André me ligou ontem à noite, perguntando se eu já tinha pensado a respeito da nossa pausa. Acredita nisso?

— É sério? — O outro indagou, surpreso, dando um gole na cerveja.

— É, não faz nem uma semana e ele já tá no meu encalço. Não que eu saiba exatamente o dia que eu vou me decidir, mas nem esfriar a cabeça eu consegui, Edu. — O instrutor continuou, angustiado. — Eu não tenho sangue de barata.

— Eu imagino, mas eu não sei como você consegue ser paciente com ele... — Eduardo pontuou, com agora sendo o amigo que bebia. — E as suas férias estão chegando, né? Até lá você acha que vai falar com o André?

— Eu vou ser sincero, eu gostaria muito de pegar esse mês livre e ficar ao lado dele, viajar. Mas hoje, não consigo imaginar passar trinta dias ao lado dele sem nenhuma briga. — Carlos abandonou o copo sobre a mesa.

— Então você acha que vão terminar?

— Eu não sei sobre isso, também... — Suspirou, cansado. — É complicado demais.

— Nem me fala, nesses lances de amor eu sou o pior.

— Tim-Tim. — Carlos riu, levantando o copo para brindar com o amigo.

Quando as refeições chegaram, estavam tão entretidos contando ocasiões do passado sobre momentos de vergonha alheia, que se desmanchavam em risadas. Com ambos distraindo-se por um tempo do que os incomodava.

Mais bebidas chegaram e eles continuaram. Bateram papo até não se darem conta de que já pediam a quarta rodada, parecendo ter passado poucos minutos, quando na verdade, completaram mais de uma hora no local.

Carlos bebericava o copo estreito de cerveja quando viu que a expressão do amigo mudou, percebendo que seus olhos iam em uma direção específica. Assim olhou para o mesmo local, tentando achar o motivo de sua distração.

Viu Monique de pé, como se caminhasse para a saída, até que ela ficou ainda mais próxima da mesa de ambos e já não estava mais acompanhada, o que gerou pensamentos rápidos na mente de Carlos, que criava situações hipotéticas enquanto ela caminhava.

Como imaginava, a mulher ficou poucos centímetros da mesa dos dois amigos, o que deixou Eduardo sem saber o que fazer, enquanto ela olhava-o nos olhos. Carlos levantou-se, afirmando precisar ir ao banheiro, deixando Eduardo sozinho na mesa.

Cumprimentou a moça e saiu do local. Contando no relógio um pouco mais de dez minutos para retornar para a mesa, querendo deixar o amigo conversar a sós com a mulher. Então quando voltou, viu que Monique levantava-se do lugar antes ocupado por ele.

Eduardo, que ainda estava sentado, se despediu e após ela estar a alguns passos dali, Carlos olhou-o curioso, querendo saber imediatamente o que tinham conversado, se aproximando de lá.

— Ela se desculpou. — Eduardo revelou, quando ele se sentou. — Disse que não era a intenção cancelar de última hora, também tentando me convencer de que não era por desinteresse...

— Mas se ela está falando isso, é porque tem um motivo. — Carlos informou, sorridente. — Até achei que ela não viria aqui, mesmo se te visse. Então isso é algo bom, né?

— O problema é que eu ajo como um bobo quando ela está por perto.

— E qual é o grande problema nisso? — Quis saber, vendo Eduardo fechar a expressão.

— Eu dou muito na cara, pareço um babaca, fico todo ansioso, me embolando em tudo o que falo. — Bufou. — Que droga, viu. Eu nem consegui ficar bravo com ela.

— Isso é bom, porque ela sabe que você está interessado, acredite. — Aconselhou-o. — Não é legal sair com uma pessoa que você não faz ideia do que ela está pensando, pode até ter aquele lance do mistério e tal, mas acaba se tornando enjoativo quando a pessoa não demonstra nada.

— Se eu fosse tão interessante, ela não teria desistido.

— Deixa esse complexo. — Finalizou o último gole de seu copo. — Se for pra ser, será.

— E sabe? Você estava certo, era o irmão dela.

— A-há! — Apontou, rindo. — Tá vendo, não machuca ser positivo às vezes.

— Ok, eu assumo. — Soltou uma risada. — Enfim, você quer finalizar por aqui? Eu já estou satisfeito.

— Eu estou bem também. Cheguei no meu limite, se eu beber mais, fico alegre. — Carlos respondeu.

— Mais do que já tá? — Eduardo indagou, rindo.

— Tá, você me pegou.

Se levantaram e já no caixa, dividiram suas despesas, pagando-as e se encaminhando para a saída.

— Vou de táxi, vai querer uma carona? — Eduardo indagou.

— Eu vou depois, quero aproveitar para passar em um lugar antes, mas valeu. — Agradeceu.

— Quer que eu vá junto? Se for rápido, eu espero.

— Sem problemas, pode ir.

— Então tá certo, até semana que vem! — Despediu-se. — Não vai dirigir, hein?

— Não vou, pode deixar.

Carlos acenou e tornou a andar pelas calçadas. Seguiu reto por algumas quadras, virando algumas vezes quando já estava perto de onde pretendia ir, caminhando animado até onde Fernando agora "morava", demorando poucos minutos para chegar.

Aproximou-se da porta de madeira e deu alguns toques.

— E aí, Portinari, já foi dormir? — Perguntou, do lado de fora.

Após alguns instantes, a porta foi aberta por Fernando, que parecia surpreso.

— Portinari? — Fernando abriu a porta, rindo. — Quem me dera...

— Eu saí com um amigo meu e aí resolvi dar uma passadinha para ver se você está bem. — Carlos se explicou.

— Tô sim. — O artista respondeu, sorrindo. — Quer entrar?

— Eu não quero te atrapalhar, você estava dormindo?

— Não, não estava. — Respondeu, dando-lhe passagem. — Vem, entra.

Carlos viu-o fechar a porta quando entrou, ficando ambos no quase completo escuro, com a luz do poste entrando pela janela.

— Senta aqui. — Fernando afirmou, ajeitando-se no colchão. — Eu vou acender as velas.

— Que romântico. — Carlos brincou, com o outro rindo enquanto sentava-se ao seu lado. — E então, o que você fez de bom hoje?

— Eu desenhei um pouco, quer ver? — O artista indagou, deixando o isqueiro de lado, com as velas já acessas.

— É claro que sim. — Apoiou suas costas na parede. — Ah, já vou me desculpar por antecedência por provavelmente estar fedendo a cerveja, meu hálito sempre fica péssimo depois de beber.

— Não, tudo bem. — Fernando afirmou, colocando o caderno sobre o colo dele.

— Vou ver tudinho. — Carlos abriu o caderno, começando a folhear e passando as folhas das artes que já havia visto antes. — E então como é estar aqui? Tá dando tudo certo?

— Não sei se é estranho dizer isso, mas eu mal consigo me lembrar de como era antes, o que é maluco, porque essa vai ser a minha segunda noite aqui. — O artista confessou, vendo-o admirar os desenhos.

— Isso é bom, fico feliz. — Sorriu, encarando o amigo por alguns segundos, voltando sua atenção ao desenho. — Nossa, isso tá lindo...

— Esse é de hoje, tentei desenhar a praça com fidelidade, mas confesso que a embelezei um pouquinho a mais. — Fernando manifestou-se.

— Poxa, mas o banco pichado com uma rola enorme ia ficar tão charmoso aqui. — Carlos brincou, tentando segurar a risada.

— Tem razão. — O artista riu com ele, agora vendo-o deixar o caderno de lado.

— Ah... Não me deixa esquecer de que eu não posso ir dirigindo pra casa hoje, tenho que chamar um táxi. — Carlos cruzou as pernas. — Às vezes a gente esquece que bebeu, aí já viu...

— Você tá certo, mesmo que tenha bebido pouco, é bom se precaver. — Fernando concordou, vendo-o bocejar.

— Ah... — Carlos agora se aproximava dele, repousando a cabeça no ombro do artista, que arregalou os olhos com a ação inesperada. — Tô com sono... Tem problema eu me apoiar em você um pouquinho?

— Não, não tem problema. — Fernando afirmou, sentindo o coração pulsar. — Você tá cansado?

— Sim, fiz bastante coisa hoje... — Falou, bocejando outra vez.

Depois disso, formou-se um silêncio tentador. Fernando engoliu em seco, sentindo-o em seus ombros, pensando no que falar, enquanto vasculhava todos os cantos do cérebro, procurando o que dizer. O artista notou que nesse meio tempo, a respiração do amigo mudou, ficando mais pesada, assim como a sua cabeça, que parecia afundar-se ainda mais.

Carlos caiu no sono, em um cochilo que provavelmente duraria poucos minutos, mas Fernando, sabendo que aquilo poderia nunca mais acontecer, levantou o braço do lado do ombro desocupado, para não o acordar. E com a mão livre, tocou o cabelo do amigo com seus dedos, deslizando-os nos fios macios.

Sentia que não deveria estar fazendo aquilo, mas era irresistível a ideia de saber como a textura de seus cabelos eram. Aproveitando também para fungar mais daquele perfume masculino, agora tão perto de si.

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