Indigente [COMPLETA]

By OkayAutora

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Em meio à olhares tortos de reprovação vindo dos clientes, apenas um olhar era de compaixão quando um andaril... More

Capítulo 1 - R$ 1,45.
Capítulo 2 - Arte.
Capítulo 4 - Trajes.
Capítulo 5 - Frio.
Capítulo 6 - Grãos.
Capítulo 7 - 38.
Capítulo 8 - Tempo.
Capítulo 9 - Humano.
Capítulo 10 - (Res)sentimento.
Capítulo 11 - Decisão.
Capítulo 12 - Recado.
Capítulo 13 - Rumos.
Capítulo 14 - Acolhimento.
Capítulo 15 - Insegurança.
Capítulo 16 - Recomeçando.
Capítulo 17 - Habituando.
Capítulo 18 - Provocação.
Capítulo 19 - Compensação.
Capítulo 20 - Aliviar-se.
Capítulo 21 - Despertar.
Capítulo 22 - Proteger.
Capítulo 23 - Início.
Capítulo 24 - Infância.
Capítulo 25 - Presente.
Capítulo 26 - Dilacerado.
Capítulo 27 - Arrependimento.
Capítulo 28 - Irremediável.
Capítulo 29 - Escolha.
Capítulo 30 - Distância.
Capítulo 31 - Inacessível.
Capítulo 32 - Flashback.
Capítulo 33 - Inconsistente.
Capítulo 34 - Esperança.
Capítulo 35 - Esperar.
Capítulo 36 - Conquista.
Capítulo 37 - Saudosista.
Capítulo 38 - Diálogo.
Capítulo 39 - Queda.
Capítulo 40 - Romantismo.
Capítulo 41 - Necessidade.
Capítulo 42 - Transparente.
Capítulo 43 - Solucionando.
Capítulo 44 - Festejando.
Capítulo 45 - Reivindicando.
Capítulo 46 - Cuidando.
Capítulo 47 - Retorno.
Capítulo 48 - Vínculo.
Capítulo 49 - Elo.
Capítulo 50 - Calúnia.
Capítulo 51 - Testemunha.
Capítulo 52 - Convite.
Capítulo 53 - Negócios.
Capítulo 54 - Coragem.
Capítulo 55 - Namorando.
Capítulo 56 - Sociedade.
Capítulo 57 - Comoção.
Capítulo 58 - Ciclos.
Capítulo 59 - Prestígio.

Capítulo 3 - Retrato.

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By OkayAutora


Capítulo 3 — Retrato.

Era terça-feira e Carlos saía da academia após o seu expediente, já com um objetivo, procurar novamente Fernando. Estava determinado a encontrá-lo, então enquanto andava pelas calçadas, olhava tudo em volta, torcendo para que ele estivesse na mesma rua que das outras vezes.

O instrutor suspirou aliviado quando virou a esquina, vendo o andarilho sentado sobre alguns papelões, encolhido.

— Eu vim ontem e não te vi, pensei que tivesse ido embora daqui. — Carlos se aproximou, abaixando-se na altura dele.

Não quis confessar o medo que teve de não vê-lo, com receio de que tivesse acontecido alguma coisa, não era nenhuma novidade sobre todos os riscos que ele corria ao estar nas ruas, mas também não tinha coragem de entrar nesse assunto com ele.

— Eu só saio daqui para ir ao banheiro público na praça.

— Ah! — O instrutor coçou a nuca. — Eu devia ter esperado aqui.

— Foi você, não foi? Que deixou a comida aqui...

— Sim, eu já ia perguntar se você encontrou... Tava tudo gostoso?

— Por que está fazendo isso? — Fernando indagou, desconfiado.

— Hã? — Perguntou, sentando-se no chão ao lado dele. — Não entendi.

— Por que está perdendo o seu tempo comigo? Eu fui rude com você semana passada e agora você está aqui de novo.

— Eu já te disse, quero te ajudar, não precisa ficar na defensiva.

— Eu não estou na defensiva. — Encarou-o.

— Bom, eu vou comprar algo pra você comer então, o que você gosta?

— Não. — Tocou o seu ombro, quando Carlos fez menção em se levantar.

— O que foi?

— Não precisa. — Afirmou, seriamente. — Eu já sei que, no fim das contas, não terei condições de retribuir nada disso. E eu não quero nada que eu não possa pagar.

— Por favor, Fernando... Eu só quero poder te ajudar. — Carlos insistiu, suspirando. — Eu sei que naquele dia eu também me exaltei e fui embora bravo, mas não queria que fosse assim... Eu fiquei muito pensativo sobre tudo e também queria te pedir desculpas.

— Não tem que se desculpar por nada. — O andarilho apoiou as mãos sobre os joelhos.

— Mas então... Me fala mais sobre você, como era ser um artista nas horas vagas? O que você fazia?

— Não tinha nada de interessante, se quer tanto saber. — Ergueu os ombros, mal querendo recordar-se do passado. — Eu fazia de tudo, quadros com tinta a óleo, escultura com diversos materiais, nada demais.

— Nada demais?! — Carlos ergueu as sobrancelhas. — Eu queria não ser "nada demais" assim também! Como pode conseguir fazer tantas coisas? Eu mal lembro de todas as áreas que estudei na faculdade...

— Eu não era bom em tudo, mas estava sempre estudando e praticando, basicamente era o meu único passatempo. — Fernando abriu um sorriso sincero e doloroso.

— Eu adoraria ver mais do seu trabalho. — O instrutor o encarou por alguns segundos. — Você disse que pintava, então deve desenhar também.

— Eu tento...

— Olha, Fernando, eu já volto, está bem? Vou comprar um prato feito pra você e voltar aqui pra gente continuar conversando. — Carlos se levantou, ajeitando a roupa.

— Não pre...

— Não fala nada. — Interrompeu-o. — Só espera aqui.

Fernando torceu o nariz, não tendo saída a não ser esperar o retorno de Carlos. Não que fosse algo ruim, era bom estar sendo alimentado e recebendo atenção depois de tanto tempo, mas não sabia dizer o que era mais doloroso, ser constantemente negligenciado ou receber cuidados e de repente, se deparar sozinho quando se cansarem.

Não levou muito tempo para Carlos voltar, carregando algumas sacolas, lhe entregando uma delas ao chegar. Ele sentou-se novamente ao seu lado e abriu a outra sacola, dizendo:

— Vou comer com você, tudo bem? Ah, aí na sacola que eu te entreguei tem alguns sucos, água, você escolhe o que preferir.

Fernando o olhou um tanto intrigado, abrindo um sorriso tímido, nunca antes aquilo tinha acontecido e era bom ter a companhia dele, ainda se perguntando qual era o interesse dele, logo começando a comer.

— Me conta da sua família... — Carlos pediu, enquanto ele dava a primeira garfada.

— Aconteceu uma coisa e... eu não falo com eles desde antes de eu vir parar aqui, não sei mais onde moram, nem como estão. E é melhor assim. — Fernando ressaltou,

— E seria chato se eu perguntasse o que fez você se afastar deles? — Carlos continuou, abrindo a embalagem da sua comida.

— Digamos que eu simplesmente não conseguia conviver com eles. — Falou, após engolir o que mastigava. — Assim que eu consegui uma estabilidade financeira, lá perto dos vinte e dois anos mais ou menos, fui morar sozinho.

— Mas eles mantinham contato com você? — Voltou a perguntar, começando a comer.

— Não, eu também não fazia questão. — Respondeu, fazendo uma pausa, antes de voltar a comer. — Agora que parei para pensar... Eu também não sei nada sobre você além do seu nome.

— É verdade. — Sorriu sem mostrar os dentes, engolindo o que mastigava antes de voltar a dizer. — Minha vida não é muito agitada, eu só trabalho como instrutor de segunda à sexta e alguns fins de semana na Extreme Fitness, sabe? Algumas quadras daqui...

— Sei sim.

— Fora a rotina do dia a dia, eu não costumo sair muito aos fins de semana... Eu sei que tem gente que gosta de agito e sair para os lugares, mas eu gosto de ficar em casa sem fazer nada.

— E você mora com seus pais?

— Não, eu moro sozinho há bastante tempo, quase dez anos.

— Dez anos?! — Fernando se surpreendeu. — Foi morar sozinho quando era menor de idade?

— Não, por quê?

— Você parece bem jovem.

— Ah, eu já tenho trinta e quatro. — Carlos riu alto. — E você?

— Faço trinta e oito em setembro. — Terminou de comer, deixando a embalagem vazia ao lado.

— É mês que vem já... Que dia? — Também parou de comer, ainda sem terminar a marmita.

— Cinco.

— Deixa eu ver aqui. — Carlos abriu a agenda do celular. — Cai em uma segunda-feira.

— Legal. — Fernando encostou as costas na parede atrás de si.

— Ah, eu também comprei uma coisa aqui que pode ser um presente de aniversário adiantado. — O instrutor falou, pegando a sacola que ainda não havia sido aberta, entregando a ele.

— O que é?

— Veja.

O homem limpou as mãos no guardanapo, tentando retirar o máximo possível da sujeira, mesmo que embaixo das suas unhas ainda estivesse encardido. Abriu a sacola e seus olhos brilharam, a primeira coisa que encontrou, foi um caderno sem pautas, próprio para desenho, em seguida, retirou da sacola um conjunto de lápis, além da borracha e apontador para acompanhar.

— Eu não conheço muito disso, então não sei dizer se esse tipo de lápis é realmente bom para desenho, mas foi o que a moça da loja me indicou. — Carlos sorriu timidamente. — Espero que goste.

— Isso é para mim?

— É claro que sim! — Exclamou, vendo o homem olhar estático para as poucas coisas da papelaria.

— Eu não sei nem o que falar... Eu não vou poder te retribuir de nada disso, Carlos.

— E quem disse que eu quero que você me retribua? — Carlos abriu um sorriso doce, encantando o outro. — Quer dizer, eu quero sim. Quero um desenho seu, você faz pra mim?

— Eu posso fazer. — Concordou, sorrindo em resposta. — O que quer que eu desenhe?

— Eu quero ver os seus traços, estou curioso... E pode ser qualquer coisa, me faça uma surpresa.

— Certo.

Carlos voltou a comer e Fernando abria o caderno, começando alguns esboços no papel. Enquanto o instrutor ocupava-se, os dedos calejados do andarilho seguravam o lápis com convicção, já tendo a imagem que queria desenhar em mente.

— Você não se incomoda? — Fernando perguntou, olhando para o papel, desenhando.

— Com o quê? — Falou, dando as últimas colheradas na comida e colocando a embalagem vazia ao lado.

— O meu cheiro. — Falou, sem tirar os olhos dos traços.

— Por favor, eu trabalho numa academia... — Afirmou, brincalhão.

— Eu estou falando sério.

— Você é uma boa companhia. — Carlos respondeu. — É isso que realmente importa.

Carlos olhou de relance para o rosto de Fernando, vendo o momento que ele esboçou um sorriso, um dos poucos que pareciam verdadeiramente sinceros. Enquanto ele voltava a desenhar, aproveitou para olhar as mensagens no celular, até ouvi-lo dizer:

— Acabei, não está tão caprichado, mas é isso... — Deixou o lápis de lado.

— Deixa eu ver. — Carlos pegou o caderno com cuidado.

O instrutor olhou para o papel e chocou-se com o retrato de si mesmo, Fernando tinha lhe desenhado com o garfo em mãos e cada traço era perfeito. Conseguia ver nitidamente os recursos que ele usou para dar profundidade e realismo ao desenho e impressionou-se em quão rápido ele fez aquilo, nunca tendo imaginado que veria algo tão perfeito em tão pouco tempo. Estava boquiaberto no momento em que o artista voltou a dizer:

— O que achou?

— Eu adorei, Fernando. — Falou, ainda sem acreditar no que via. — Você me deixou mais bonito do que realmente sou.

O artista riu baixinho e continuou observando-o, vendo o quanto ele estava vidrado no desenho.

— Pra quem disse que "tentava" você detona. — Elogiou outra vez. — Posso ficar com isso?

— Como não poderia? — Respondeu, envergonhado.

— Destaca a folha pra mim, tenho medo de estragar o caderno. — Devolveu o que segurava.

Enquanto Fernando retirava a folha da margem, Carlos raciocinou algo rapidamente, não deixando de encarar o artista ao dizer:

— E se você vendesse esses desenhos? Eu posso te ajudar se quiser, você poderia tentar ter uma renda, assim. Provavelmente não seria muito, mas... — Carlos coçou a nuca. — O que você acha?

— Não é uma má ideia, Carlos, mas eu duvido muito que comprariam.

— Bobagem. — Discordou. — Por que diz isso?

— Preciso responder? Olha só pra mim.

Carlos entristeceu-se, apenas querendo negar aquela afirmação dele, mas sabia o quanto as pessoas poderiam ser ruins e menosprezá-lo por besteiras. Pensou por um momento e indagou:

— Ei, você vai estar aqui amanhã?

— Não é como se eu tivesse um lugar pra ir. — Debochou, fazendo o outro rir baixinho.

— É que eu tenho umas roupas que separei para doar, acredito que ficariam boas em você, eu posso te trazer? — Carlos indagou, vendo-o surpreso com a pergunta.

— Se não for incômodo, eu aceito...

— Então eu vou trazer. — O instrutor alegrou-se.

Carlos estava se animando com a ideia de que realmente poderia fazer uma mudança significativa na vida de alguém. Era apenas um começo e não podia fazer muito, mas todos os impulsos que sentia em relação a Fernando eram naturais, aquele homem era como um diamante bruto.

Permaneceram conversando por mais um bom tempo, até mesmo já tinha escurecido quando o instrutor levantou-se para ir embora, despedindo-se de Fernando com um até logo. A sensação que aquecia o peito de Carlos havia o deixado sorrindo a noite toda, mal imaginando que o artista maltrapilho também se sentia assim.

♢♦♢

Carlos fez uma ligação a André antes de dormir, conversando pouco sobre seu dia com o namorado, falando mais sobre os planos para o fim de semana do que de suas últimas boas ações. E ao desligar, se pegou se perguntando por qual motivo não havia contado a ele sobre Fernando, tendo medo de ser julgado pelo gênio forte do namorado.

No dia seguinte, o instrutor levantou e separou uma uma mochila, colocaria nela algumas roupas que não usava mais. Não tinha separado-as com antecedência assim como tinha dito para Fernando, mas sabia que se não fosse assim, o homem possivelmente não aceitaria. Então escolheu-as, umas por estarem um tanto quanto pequenas, outras que simplesmente não gostava, mas que imaginava que caberiam no artista.

Dobrou e guardou tudo, acrescentando algumas coisas a mais na mochila antes de levá-la para o carro. Entregaria para ele após o expediente, pois já estava atrasado.

Enquanto isso, Fernando acordava, logo retirando debaixo de sua camiseta, a sacola com os pertences dados por Carlos na noite anterior. Conferiu se não havia amassado as coisas dormindo e estavam suficientemente boas.

Infelizmente, não podia confiar em deixá-las ao seu lado para dormir, tendo que escondê-las, porque sabia que outros andarilhos costumavam roubar itens uns dos outros quando tinham a oportunidade, então, era preciso lidar com os furtos constantes, além de saber qual era um bom local para dormir.

Muitas vezes, necessitava dormir durante o dia para conseguir ficar acordado à noite, em prontidão para qualquer mal que pudesse acontecer de madrugada. As pessoas conseguiam ser os piores dos animais.

E o mais difícil, não tinha sido apenas se acostumar com o que vivenciava, mas sim, se tornar indiferente às violências diárias por simplesmente não pensar que aquilo pudesse ter solução. E ia levando assim, um dia de cada vez, quase sem esperanças de que as coisas pudessem melhorar.

Apenas quase.

Fernando deixou a sacola ao seu lado, já com o caderno e um lápis em mãos, sentando-se melhor para iniciar um desenho. Assim que começou os primeiros traços, toda a sua trajetória para chegar até as ruas se passou em sua mente, como uma inspiração para aquela folha em branco.

O artista maltrapilho concentrou-se, não economizando na criatividade que surgia como uma lâmpada em sua cabeça, descarregando suas experiências naquele desenho, como um desabafo.

Ao tardar daquele mesmo dia, Carlos saía de seu expediente, indo ao restaurante e depois, tomando um caminho que estava se tornando familiar: uma ruela não tão movimentada, em pleno centro comercial.

Encontrou quem queria ao virar a esquina de muros pichados, aproximando-se e logo colocando sua mochila ao chão.

— Boa noite. — Carlos cumprimentou-o, sentando-se ao seu lado. — Desenhando bastante?

— Passei o dia todo rabiscando. — Abandonou o lápis. — Meus dedos estão até doloridos.

— Bom, então para um pouco pra comer. — Afirmou. — Hoje vou jantar com você de novo.

Carlos retirou duas embalagens de isopor de dentro da sacola do restaurante, entregando uma delas a Fernando, também distribuindo os talheres.

— Como foi o dia? — O instrutor perguntou, dando a primeira garfada. — Vendeu algum desenho?

— O que você acha? Eu só espanto as pessoas. — Debochou de si mesmo, de boca cheia. — E você? O que fez de bom?

— Supervisionei uns pirralhos que só aprontam lá na academia, quando eles chegam eu já até sei que lá vem problema! — Riu.

— Por quê? O que eles fazem?

— Ah, sabe como são essas molecadas, querem a todo custo ficarem fortes do nada, começam a pedir nomes e marcas de suplementos, tentam pegar mais peso do que aguentam, depois ficam uns dias sem virem por estarem quebrados e quando voltam, o ciclo se repete.

— Parece trabalhoso.

— Pelo menos não sobra tudo pra mim, a maior parte dos nossos colegas de trabalho conseguem lidar bem com eles e quando eu não aguento mais, passo essa bucha pro Edu, um amigo meu que trabalha comigo. — Deu mais uma garfada. — Nossa, essa carne aqui tá boa, né?

Fernando concordou, gesticulando positivamente com a cabeça, com a boca cheia. Assim continuaram jogando conversa fora, até o artista deixar seu isopor vazio ao lado.

— Obrigado, Carlos. Estava tudo ótimo, como sempre.

— Você aguentaria mais um pouquinho? É que já estou cheio, não quero mais. — O instrutor ofereceu sua comida, esticando-a para ele.

— Tem certeza? — Quis confirmar, vendo que ele mal havia relado na comida.

— Eu não consigo comer muito de uma vez. — Carlos mentiu, entregando-lhe a sua marmita, cumprindo o que queria.

Fernando aceitou, então o personal trainer deu um sorriso, ficando contente em saber que daquela maneira o artista não se sentiria tão mal em receber mais, com ele acreditando em sua desculpa.

Depois de alguns minutos, Fernando terminou a segunda refeição, agradecendo mais uma vez e assim, recebendo uma garrafa de suco de uva, que Carlos retirou da sacola do restaurante.

— Bom, se lembra daquelas roupas que eu falei que traria hoje? Então, aqui estão elas.

— Na mochila? — O artista perguntou.

— Sim, inclusive a própria mochila, quero que fique com ela.

Fernando abriu o zíper da frente, olhando curioso para o conteúdo da bolsa.

— Aqui não tem só roupas, tem um arsenal de coisas. — Falou, admirado. — Pasta e escova de dentes, sabonete, desodorante, até gel para cabelo!

— Não é nada demais, estava lá em casa e eu resolvi trazer.

— Tudo ainda está na embalagem! — O artista rebateu. — É muita coisa!

— Fica tranquilo, isso não pesou pra mim. De verdade.

— Você não precisava ter se preocupado tanto com isso. Só o que você vem fazendo já me ajudou, Carlos.

Fernando ainda olhava embasbacado para os pertences da mochila, passando as mãos pelo rosto, descendo-as para a sua barba, tão cheia quanto a de Carlos, que não se agradava de passar a lâmina. Dois barbudos, um por ter opção e outro por não ter.

— E-Eu ainda não sei como agradecer, tudo isso que você vem fazendo por mim, é de uma generosidade imensa...

— Pode acreditar que você tá me ajudando mais do que eu a você. — O instrutor sorriu carinhosamente, feliz pela reação mais receptível do outro.

O artista abriu um sorriso e todas as vezes isso acontecia, nunca passava despercebido por Carlos, que mais uma vez se alegrava em ver Fernando dando brecha para ser ajudado e baixando sua guarda para que se aproximasse e o conhecesse melhor. 

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