** Pegue minha mão **

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O brilho do sol atravessou o céu azul, refletido sobre o pesado tumulto de ondas uma atrás da outra.

Não sei como cheguei na encosta de uma praia, recebendo uma boca cheia de areia enquanto deitava ali. Meio consciente, meio inconsciente. Eu estava gelada até os ossos, o sol estava quente e suave, mas a brisa não era tão misericordiosa. Estremeci com o frio pois estava completamente encharcada.

Depois do que pareceu uma eternidade deitada ali, me arrastei pela praia até que os grãos secos de areia cruzassem nas palmas das minhas mãos. Consegui o suficiente para ver uma fila de árvores na praia. Além, havia um vale do tamanho de um parque infantil, grama seca, mas longa, com manchas verdes aqui e ali.

Tirei a minha jaqueta assim que cheguei nas árvores e a joguei sobre um dos galhos baixos. Meus olhos foram automaticamente para o oceano, procurando na expansão um sinal dos outros. Esperando, rezando por Dante, Lynn e Rufio saíram em segurança. Mas essa esperança rapidamente recuou como a maré qu4ando olhei, olhei e não vi nada.

Inquieta com a necessidade de fazer algo para ser útil me dominou. Eu estava presa em uma ilha onde não podia fazer nada para salvar os meus amigos. Nem mesmo uma arma eu tinha. Eu não tinha poderes e não podia descer lá novamente. Minha ansiedade se misturou ao meu medo final de desamparo que estava me arranhando mais forte do que a minha fome.

Sim, eu estava com fome, mas poderia esperar muito mais. E água sem a qual eu poderia sobreviver alguns dias. Mas e depois daqueles poucos dias? Eu morreria sem a esperança de ajudar meus amigos. O que tinha acontecido com eles? Eu não conseguia pensar nisso sem a necessidade de gritar com o céu.

Eu sou uma idiota por sempre confiar em Samena, por acreditar nela por um segundo. Todas as suas mentiras, nada do que ela me disse tinha valor; ela me traiu, portanto não tinha motivos para confiar nela novamente. Ela manteve meus amigos como reféns por tudo o que eu sabia e me deixou aqui pra morrer.

O pensamento sobre a mulher ruiva, como ela parecia exatamente comigo, acendeu um ódio especificamente por ela. Enrolou e enrolou na boca do estômago, sufocando a necessidade de comida. As necessidades básicas do meu corpo estavam longo da minha lista de preocupação, enfiadas na parte de trás da minha cabeça. Tudo o que eu conseguia pensar era em Dante, Lynn e Rufio.

Caramba, eu não sabia se eles ainda estavam vivos! Eu saberia porem, através do laço, eu sou positiva. Mas mesmo isso parecia pouco confiável, incrédula, duvidosa. Listei todas essas palavras, na esperança de encontrar uma que correspondesse ao meu desespero reprimido com a situação.

Horas se passaram com o sol derrubando um calor sufocante. Isso enfraqueceu a brisa e eu não sentia mais frio, mas estava queimando. Minha pele clara ficou avermelhada sob os raios do sol enquanto eu caminhava de um lado para o outro na praia, mas a minha carne nunca queimava, isso ajudaria acalmar a minha preocupação se eu não fosse uma amaldiçoada, com habilidades vampíricas. Eu teria queimado, mas a minha pele permaneceu saudável. Uma coisa para não se preocupar. Havia muito mais, no entanto, e nem mesmo a caminhada sem fim ajudou com isso. Nada poderia me salvar de meus próprios pensamentos; eu estava sozinha. Era assim que Samena queria, que eu estivesse sozinha e com medo.

A única coisa que eu tinha medo era o que acontecia com os meus amigos. Samena matará todos eles. Estou surpresa que ela ainda não tivesse feito; deixei essa crença passar, porque mesmo que tudo estivesse em branco quando eu estendi a mão, Dante não estava morto. A questão era que a solidão havia surgido sem aviso prévio, e fiquei chocada com a sensação de vazio. Eu não sentia isso há muito tempo. Isso me devorou por dentro também, minhas emoções absorvia a nova sensação de se comer vivo. Era isso o que eu sentia,  me afundando lentamente em insanidade e autodestruição.

Laços de Sangue - Sua Maldição (Completa)Where stories live. Discover now