A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)

Capítulo 63 (Dia 16)

— Acabou de fazer — diz e dá uma risada no final quando jogo uma das minhas luvas nele. — Desculpa, não resisti. O que você quer saber?

— O que foi que aconteceu com a Gi?

Caminho na direção dele que se afasta da porta me dando espaço para olhar.

Coloco o pé para impedir que o vento forte a abra. O temporal está tão forte que mal se consegue ver a estrada. O céu está escuro e a ventania balança com violência as folhas das árvores. Mesmo só com uma fresta estreita aberta, as gotas geladas entram e me molham um pouco.

— A Gi disse que enquanto eu fosse um idiota ela não ficaria comigo — ele diz e força um sorriso no final. — Como é que se deixa de ser idiota, Em? Eu já tentei e não consigo.

— Você não é assim tão idiota — digo e um sorriso lindo aparece no rosto dele. — Só um pouquinho — concluo.

— Pior que mesmo sabendo que eu era um idiota, ela me usou. Não só, ela usou e abusou desse corpinho aqui — aponta para o próprio o corpo o que me faz jogar a outra luva nele —, até me deixar viciado nela. — Ele suspira, talvez se lembrando de algo, enquanto rio da idiotice dele.

— Ela é uma Resistente como o Vitor disse?

— Sim. Mas apesar de eu não saber até há pouco tempo, esse era um dos principais motivos das nossas brigas.

— E a Jess? — pergunto.

— O que tem a Jess? — devolve a pergunta cruzando as pernas.

— Vocês não estavam juntos?

— Se você estiver preocupada que ela vai se magoar porque agora eu vou lutar pela Gi, não fique. O foco dela sempre foi o Nathan, ele deixava claro isso até para mim.

— Certeza? — lembro-me do jantar do leilão e de como ela me fuzilou com o olhar quando achou que o Kyle ia dar um lance para jantar comigo.

— Por que você tem dúvida? — pergunta, mas não mostra muito interesse.

— Nada, esquece — resolvo não continuar. Talvez ela realmente não sinta nada por ele, mas agora fiquei curiosa para saber como vai ser esse reencontro, que desejo que seja em breve. — Espero que você a Gi se entendam.

— Eu também.

Ouvimos o elevador subir e o esperamos descer. Quem sai dele agora é Mere. Ela está com o cabelo solto o que a deixa logo muito diferente do habitual rabo de cavalo.

— Os rapazes estão te chamando lá em cima — diz para Kyle. — Eu faço companhia para a Emily.

— A conversa estava boa, mas o dever me chama — ele diz rindo e fazendo uma expressão de importante. Depois de pegar as minhas luvas do chão e me entregá-las, vai embora.

Sorrio para Mere que sorri de volta, e fico feliz por notar que não é um sorriso forçado.

Assim que o elevador começa a subir, ela quebra o silêncio.

— Desculpa ter estado tão ausente — começa, mas a interrompo.

— Não precisa pedir desculpa, Mere. As coisas não estão fáceis — tento fazê-la não se sentir culpada.

— Preciso sim. Não vou resolver nada imersa no meu próprio sofrimento, tenho sido um peso morto para vocês — faz uma pausa enquanto enxugo o rosto com mais uma rajada de vento que fez a água entrar pela porta. — Eu sempre imagino que vocês são mais fortes do que eu, que não sentem a mesma dor, mas quando vi o Matt passar a noite toda acordado ontem, percebi que estava enganada.