Capítulo 66 (Dia 17)

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Fronteira | 12 ºC
Contagem regressiva: 2 dias

Sou invadida por uma sensação de medo assim que nos misturamos à multidão. É assustador sair em público, há dias que não faço isso.

Além das lojas, toda a rua está tomada por barracas que impedem o tráfego de carros. Eles transformaram esta zona exclusiva para pedestres, o que dificulta a ação dos policiais e facilita a fuga dos criminosos.

Nos poucos metros que avançamos, tive uma amostra de tudo que há para comprar ou trocar. Meus olhos cansam com a variedade de cores vibrantes e não dá para ignorar o cheiro das coisas antigas. Não sei dizer se é bom ou ruim, mas é sem dúvida um aroma do qual nunca mais vou me esquecer.

Olho para cima quando sinto uns pingos de água conseguiram ultrapassar o espaço dos guarda-sóis que cobrem as barracas. Lucas está ao meu lado, Nathan está um pouco atrás de mim.

Paro em uma barraca e observo discretamente as pessoas à volta.

Para disfarçar, pego uma ampulheta antiga que se destacou no meio dos outros objetos expostos. Eu a viro e a areia azul começa a cair rapidamente. O homem do outro lado do balcão olha atento para mim, por isso, mantenho a cabeça baixa. Com os meus cabelos escondidos em um gorro, já que o boné não o cobriu todo, ele provavelmente não vai me reconhecer. Mesmo assim, devo evitar encarar as pessoas, meus olhos azuis podem me denunciar. E em hipótese alguma eu posso falar. Muito menos o Nathan. Nossas vozes são conhecidas e o sotaque da Matriz chamaria muita atenção aqui.

— A menina quer algo em especial? — pergunta me tirando do estado de hipnose que a ampulheta me causou. — O tempo está se esgotando. — Essa declaração não me deixa indiferente e acabo olhando para o rosto dele que me dá um sorriso assustador.

Coloco a ampulheta de volta e, em silêncio, afasto-me da barraca. Sinto Nathan e Lucas próximos mim e a tensão em cada parte do meu corpo. Aqui, tudo parece suspeito. Tenho aquela sensação horrível de que a qualquer momento poderemos ser surpreendidos ou atacados.

Continuamos o caminho lentamente, já que andar mais rápido poderia chamar a atenção, enquanto a chuva engrossa um pouco.

Deixo de andar e aproveito para olhar para trás enquanto cubro a cabeça com o capuz do casaco assim como todas as outras pessoas estão fazendo.

Meu coração para quando não vejo o Nathan.

Olho desesperada a volta e me esforço para não gritar pelo nome dele.

— Estou vendo ele, Em — Lucas sussurra perto de mim, o que faz uma onda de alívio me percorrer. — Ele está vindo.

Mas meu coração só se acalma mesmo quando o encontro na multidão.

Nathan chega ao meu lado e pega discretamente na minha mão. Suspiro com a paz que o toque dele me faz sentir, mas ela as separa rápido demais.

O tempo começa a se fechar mais. Acima de nós, nuvens acinzentadas parecem bem próximas. Quando uma brisa gelada nos envolve, fecho um pouco mais o casaco e coloco as mãos nos bolsos. Nathan coloca o capuz por cima do boné e continuamos.

Depois de algum tempo, vejo Kyle e Vitor ao longe. Eles são tão altos e diferentes, que a beleza deles acaba fazendo com que se destaquem no meio das pessoas comuns da Fronteira, assim como Nathan e Lucas.

Isso não é bom.

Quando passamos por eles, apenas trocamos olhares.

A seguir, entramos em um beco estreito e deserto. Paro um pouco de andar e me encosto à parede. Meus pés estão doendo e sinto a minha cabeça pulsar forte.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora