Capítulo 56 (Dia 14)

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— Não podemos perder a esperança, Em — rebate sentando-se ao meu lado no sofá. Ele pega a minha mão e procura os meus olhos. — Amanhã nós vamos embora— completa tentando me tranquilizar.

Apenas abaixo os olhos para não demonstrar a minha tristeza. Afinal, em que um hospital clandestino poderia nos ajudar?

Nós precisamos dos antídotos.

Nenhum aparelho vai manter o Lucas e o Armon vivos sem os antídotos.

Eu sei, sou enfermeira, claro que podemos precisar de alguns recursos para amenizar os sintomas deles se as buscas falharem. Mas só de pensar nisso meus olhos se enchem de lágrimas. Eu não vou aguentar vê-los sofrer sem poder fazer nada.

Mas isso não quer dizer que não estou grata a Lea. Ela nos encontrou depois da nossa fuga e nos contou que um médico da Resistência nos ofereceu ajuda. Na situação em que estamos, nem ao menos consideramos se é arriscado ou se podemos confiar.

Olho para o relógio impaciente.

Já fazem duas horas que Lucas e Vitor saíram.

— Eu estou tão cansada, Nate — reclamo em voz alta, mas rapidamente me arrependo. Eu não quero preocupá-lo. Além disso, eu não preciso dizer, ele sabe, ele sente o mesmo. Eu queria que fosse cansaço físico, mas é apenas mental. O meu desespero é tanto, que até sinto falta das fugas, da dor no corpo, que acabavam desviando parte da minha atenção dos problemas reais.

Mas não posso fazer isso com ele depois de tudo o que passou. Não foram raras as vezes em que ele entrou no meu quarto e deitou em silêncio ao meu lado. Todas as vezes, a tristeza no rosto dele faz o meu coração se partir.

E já não vejo um sorriso dele há dias.

Acho que nenhum de nós mais sorri. Nem mesmo as brigas bobas do Kyle e do Vitor têm tornado a situação menos tensa. Além disso, elas se tornaram raras, Kyle tem andado mais pelos cantos preocupado com a irmã.

— Vem aqui — Nathan diz me puxando para perto. Encosto a cabeça no ombro e passo o meu braço pelo peito dele enquanto ele nos envolve na manta. Suspiro fundo com o segundo de paz que esse abraço me faz sentir.

Por um tempo, fico apenas ouvindo as batidas do coração e sentindo a mão dele acariciar o meu braço. Queria saber o que ele está pensando todas as vezes que suspira e me abraça um pouco mais forte.

Ele tinha tudo.

Até eu tinha mais do que tenho hoje.

— Você se arrepende de ter me conhecido? — pergunto e ele interrompe o carinho na mesma hora.

— Claro que não — diz rapidamente. — Que pergunta é essa, Em?

— Você poderia estar lá na Matriz neste momento, nada teria mudado... — Talvez os pais dele ainda estivessem vivos. Talvez eles tivessem descoberto os planos do Gabe. Talvez meus amigos não estariam presos ou o Lucas não estaria com a vida em risco.

Ele me afasta um pouco e olha nos meus olhos.

— Eu poderia estar morto ou poderia estar passando por isso sem você ao meu lado — fala e os olhos dele descem para a borboleta no meu pescoço. — Há tantas possibilidades, Em. Desde o nosso primeiro encontro ao momento da nossa fuga, enlouqueceríamos se pensássemos em todas as hipóteses. E mesmo que muitas vezes eu tenha ficado irritado por você desafiar a Matriz ou quando soube que você estava na Resistência, eu não mudaria nada. Eu nem ao menos quero pensar nas possibilidades que poderiam ter desviado os nossos caminhos, como o plano da Resistência ter dado certo, por exemplo.

— Não consigo evitar pensar nisso, na teoria do caos — digo me lembrando do que o meu pai costumava falar.

— O único caos que eu quero é o que sinto quando olho nos teus olhos — sussurra enquanto me perco na imensidão verde do olhar dele. — Espero que um dia esse seja o único caos da minha vida. — Ele continua me olhando e vejo a expressão dele se encher de dúvida. — Você se arrependeu? — pergunta.

— Não imagino a minha vida sem você — digo enquanto ele segura a borboleta e desvia os olhos dos meus. — Mas você e o Lucas perderam tanto...

— Para, Em. Já não há nada a fazer. E não duvido que um dia nós vamos olhar para trás e sentir orgulho do que construímos. Você, o Lucas e eu. Independentemente do que aconteça, eu quero vocês dois ao meu lado. — Sorrio e ele sorri de volta. — Você não esperava que pudéssemos nos dar bem, não é?

— Não. — A minha sinceridade faz a covinha aparecer.

— Que droga! É impossível não gostar dele — diz tentando parecer indignado mas acaba rindo. — Se eu fosse você ficaria preocupada, posso passar de seu pretendente a seu rival. — Não consigo segurar a risada e rio com ele.

É a segunda vez que você diz isso — começo, olhando séria para ele —, vou acabar acreditando.

Nathan cobre os olhos com a mão, como se estivesse envergonhado. Se ele soubesse o quanto amo quando ele faz isso, repetiria o gesto mais vezes.

Eu sei que ele está tentando me animar. Mas também sei que falou sério quando disse que acima de tudo continuaremos juntos. Imaginar que isso pode acontecer faz com que um sentimento bom me invada.

Continuo sorrindo quandotira a mão dos olhos, Nathan dá um suspiro.

— Eu precisava ver o teu sorriso — diz comprovando o que eu já imaginava. — Tudo faz sentido quando vejo o teu sorriso, Em.

Antes que eu consiga controlar, minha mão encosta no rosto dele o que o faz fechar os olhos. Passo o dedo na boca dele e ele segura o meu pulso franzindo um pouco as sobrancelhas. Vejo-o passar a língua os lábios e mordo os meus tentando controlar o desejo que sinto em cada parte do meu corpo.

Ele solta aos poucos o meu pulso até largá-lo completamente.

Minha mão desce pelo queixo, pelo pescoço. Adoro ver o rosto dele corar um pouco e apenas o admiro enquanto minha mão continua descendo lentamente pelo peito dele.

Dizem que perfeição não existe, mas ele faz essa afirmação parecer completamente errada.

Antes que não consiga resistir à vontade de beijar a boca dele, volto a abraçá-lo. Ele suspira fundo, assim como eu.

— Dorme, Em. Quando eles chegarem, eu te chamo — diz.

In this ordinary world
Where nothin' is enough
Everything is grey
Mistake your love for lust
When I hold you in my arms
There ain't nothin' common 'bout us

Nesse mundo banal
Onde nada é o suficiente
Tudo é cinza
Confundem seu amor com luxúria
Quando eu te seguro nos meus braços
Não há nada de comum em nós
(Common | Zayn)

Não está fácil para os nossos meninos e o tempo não ajuda.

Será que dá para ficar pior?

Será que dá para ficar pior?

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A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora