Capítulo 42 (Dia 9)

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Lucas abre um pouco a porta e, depois de alguns segundos, dá a entender que consegue ver algo.

— São duas crianças andando sozinhas no meio da rua — relata.

As casas abandonadas no trecho que percorremos passam pela minha cabeça. Quando Lucas e Armon tentavam abrir a porta, olhei para o resto da rua e não vi indícios que fosse uma parte habitada.

Mas apesar de estarmos nos limites da Fronteira, lembro-me de o mapa indicar que havia moradias no quarteirão seguinte.

Mas mesmo que a casa delas seja aqui perto, não consigo imaginar porque estão sozinhas.

Kyle se junta a nós perguntando o que está acontecendo e Mere explica baixinho.

— Eles vão pegá-las — Lucas diz se referindo ao carro patrulha. Diante das circunstâncias, não dá para saber o que vão fazer com elas se isso acontecer. Minhas mãos começam a suar quando penso que alguma pessoa sem escrúpulo poderia maltratá-las.

Vou até o Lucas que se afasta um pouco da porta para que eu possa olhar.

Meu coração se aperta quando as vê de mãos dadas. A mais velha parece estar puxando a mais nova que está chorando e parece bastante assustada. Não consigo saber a idade delas.

O som da sirene fica cada vez mais próximo e elas ainda estão um pouco distantes e andam muito devagar.

— Temos que fazer algo! — Lucas diz. — Nathan? — eles se olham com cumplicidade e sinto que já se decidiram.

— Não, vocês não vão sair — Matt exclama com um tom autoritário. — É arriscado demais.

— Não temos escolha, Matt — Nathan responde.

Vejo que o Lucas também está com a arma dele e sinto meus batimentos cardíacos acelerarem.

Eu sei o risco que eles correm, a sirene está cada vez mais perto, mas não dá para ignorar as meninas.

E se tiverem que ir, eles não podem mais perder tempo.

— Vão agora! — digo para eles dando espaço para passarem e os dois não hesitam nem por um momento. Assim que saem e encosto a porta deixando apenas uma fresta para poder observá-los, percebo o perigo.

— Droga, Emily! Vocês são três loucos — Matt diz antes de correr para o fundo da pensão e Mere ir atrás dele.

— Eu nunca arriscaria a minha vida por desconhecidos — Kyle diz.

— Ao menos você faz isso por quem ama — devolvo lembrando-me que ele nunca hesitou quando era a segurança de Mia que estava em jogo.

— Por que você insiste em ver um lado em bom em mim? — questiona chegando perto de mim, mas não olho para ele.

— Porque eu acho que todo mundo tem um — minha respiração está rápida e meus olhos estão focados no Lucas e no Nate.

— Eu acho que você está errada — diz. — Não acho que o Gabe tenha um lado bom — completa. Mas a última coisa que eu quero pensar neste momento é no Gabe. Não preciso de nenhum pensamento para me deixar ainda mais aterrorizada.

— Mesmo que não tenha um lado bom, todo mundo tem um ponto fraco — digo insegura. — E nós vamos descobrir o dele.

Ouço alguém chegar ofegante. Olho rapidamente e vejo que é Mere e ela está sozinha.

— Cadê o Matt? — pergunto voltando a olhar para fora.

— Pegou a arma no quarto e saiu pela porta dos fundos — a voz dela está tremendo. Mas mesmo com medo, ela não demonstra que preferia que eles não tivessem ido. Mere sabe que não poderíamos deixar as crianças continuarem andando sozinhas de madrugada.

— Parece que agora somos quatro loucos — digo quando vejo Matt surgir pela lateral da pensão com a arma em punho.

Ouço Mere explicar o que está acontecendo para Vitor e Armon, mas não consigo desviar a minha atenção da rua.

Observo o Lucas segurar a mão da menina mais velha e eles começam a correr de volta para a pensão. Nathan tenta fazer o mesmo com a menor, mas para e a pega no colo. Acho que ele fez isso para acalentá-la, já que ela começou a gritar ainda mais assustada por ter sido separada da irmã.

Quando a sirene volta a soar, tenho certeza que o carro patrulha está muito perto. Lucas e Nathan correm mais rápido e vejo uma luz azul iluminar o fim da rua.

Eles chegaram!

Abro um pouco mais a porta esperando eles entrarem, mas, quando a sirene soa de novo, Nathan corre em direção ao prédio abandonado à nossa frente. Ele não conseguiria chegar até aqui sem ser visto.

Lucas entra e entrega a criança para Mere que corre para o fundo com ela pedindo para fazer silêncio enquanto ela chora perguntando pela irmã.

— Onde o Nathan está? — Lucas pergunta nervoso.

Não consigo vê-lo porque ele está por trás do muro alto. Sinto um alívio quando percebo que a criança não está mais chorando.

— No prédio do outro lado — digo e me afasto dando espaço para ele olhar.

— Droga! — Lucas diz se afastando e eu volto a olhar. A sirene soa cada vez mais perto. Diminuo a abertura da porta e sinto minhas pernas vacilarem. — Cadê o Matt? — pergunta quando não o encontra.

— Ele está lá fora, saiu pelos fundos — digo.

— Eu vou com você — Vitor diz quando Lucas se dirige para o corredor e Lucas concorda.

— Armon, cuide delas — ele fala e os dois correm para o fundo.

Armon apaga a vela e ficamos na completa escuridão.

Matt volta ao meu campo de visão se escondendo no muro baixo em frente à pensão. Ele deve ter visto que Nathan não conseguiu voltar.

O carro patrulha se aproxima.

Sinto um alívio por ver que a criança não está mais gritando, mas o carro passa muito devagar e isso me deixa nervosa. Olho para o prédio em ruínas à minha frente tentando saber se o Nathan tem algum lugar para onde ir, e constato que não, não dá para fugir de lá.

Lucas e Vitor chegam ao lado do Matt e se sentam no chão com as costas apoiadas no muro.

Sinto o meu coração na boca quando o carro passa mesmo à nossa frente.

A sirene toca e a luz azul ilumina as paredes à volta.

Assim que acaba, tudo fica no mais completo silêncio de novo.

Mas meu coração para quando a criança volta a chorar.

Sound of the sirens
We're in the fire
Sound of the sirens
It's do or die

Som das sirenes
Estamos no fogo cruzado
Som das sirenes
É viver ou morrer
(Sound of The Sirens | Sam Tinnesz)

Som das sirenesEstamos no fogo cruzadoSom das sirenesÉ viver ou morrer(Sound of The Sirens | Sam Tinnesz)

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A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora