Mania

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Tiro os fones do ouvido e desligo o player do celular antes de entrar em casa. Deixo a mochila grande, os sapatos e o casaco logo na entrada e antes que eu dê mais um passo sinto mãozinhas batendo nas minhas pernas afim de chamar minha atenção. É o único momento daquele dia de merda que eu consigo dar um misero sorriso.

- E ai metadinha – ergo-o nos braços e sou recebido com suas mãos sujas de tinta de caneta bem na minha camisa branca – Quem deixou você brincar com caneta?

Pergunto já sabendo a resposta. Era só o que me faltava! Alheio ao meu nervosismo Ban apenas ri, empenhado em sujar minha camisa o máximo que podia ao desenhar com a caneta em mim.

- Ele só estava rabiscando uns papeis em branco enquanto eu tentava terminar um código fonte pro projeto com o Hyun, mas ele não parava quieto e o negócio deu erro, ta tudo uma merda – ela responde tão irritada quanto eu – vou ter que refazer tudo.

- Mesmo assim Ásia, distrai ele com outra coisa. Olha só minha camisa... olha a roupa dele.

- Ásia? O que foi hein? – cruza os braços me olhando feio.

- Discussões inúteis e decisões idiotas. Ordens sem sentido do meu chefe lá no estúdio de dança. Até o Hoseok ta contra mim. Achei que eu iria chegar em casa e respirar por cinco segundos, mas já vi que não vai dar né?

- Não mesmo, entregaram umas encomendas erradas da festa que seus amigos querem fazer pro Ban. Não sou eu quem vai resolver isso, já disse que acho besteira.

- Meus amigos... – ergo uma sobrancelha – agora são meus amigos. Não quer fazer a festa não faz então Ásia. O problema não é meu.

- Meu problema que não é! Detesto quando você chega irritadinho em casa e desconta em mim.

- Irritadinho, olha só quem fala... – rio com sarcasmo – vou tomar um banho com o Ban – aviso já dando as costas para ela.

- Eu não vou limpar a bagunça que vocês dois sempre fazem naquela banheira.

- Não limpa então...

- E também não vou atrás de você dessa vez – fala um pouco mais alto.

- Não quero que venha atrás mesmo – dou de ombros e entro no quarto com Ban nos braços.

Ouço suas palavras impacientes e desconexas através da porta fechada e mesmo irritado com todo o estresse do dia nos meus ombros ainda penso que eu poderia brigar depois de beijá-la pelo menos.

Ban e eu tomamos um banho demorado, cheio de espuma e brinquedos dentro da água. Quando a água já estava ficando fria resolvo tirá-lo de lá sob seus protestos chorosos, então percebo que tinha mais água no chão do banheiro do que dentro da banheira. Como um garotinho prestes a completar um ano era capaz de fazer tanta bagunça? Talvez eu tenha incentivado um pouco ao criar algumas explosões com os brinquedos de navio, dizendo que era batalha naval. Mais uma coisa que eu inventei e agora teria que limpar, já que eu sabia que era a primeira coisa que a gótica iria jogar na minha cara.

Me ocupo primeiro de me trocar e trocar meu filho. Depois pacientemente levo-o para a cozinha e lhe dou o jantar. Estava vivenciando minha "paternoterapia", o que consistia basicamente em tomar conta do meu filho e esquecer a droga de dia que estava tendo. Era uma terapia e tanto, que na maioria das vezes parecia funcionar perfeitamente. Só dava errado quando uma certa gótica resolvia ficar de ovo virado comigo também. Quando nós dois tínhamos dias ruins significava que eu ficaria angustiado até as coisas se acertarem. A paternoterapia tinha uma eficácia de apenas 90% e aqueles 10% restantes faziam falta. Uma falta imensa.

Passo o resto da noite brincando com o metadinha até que ele pegue no sono apoiado em meu peito e mexendo na minha orelha enquanto assistíamos desenhos no sofá da sala. Para quem visse de fora seria uma cena linda, para mim significava ter as orelhas quase em carne viva de tanto que ele as cutucava até dormir. Levanto com cuidado do sofá carregando-o todo largado no meu colo até seu quarto. O coloco deitado no berço que agora tinha as grades baixas, parecendo mais uma cama do que outra coisa, automaticamente o metadinha se esparrama no colchão completamente largado e eu o cubro já sabendo que iria arrancar as cobertas até a manhã seguinte. Acaricio seus cabelos e deixo um abajur ligado antes de sair do quarto e deixar a porta aberta. Hesito alguns segundos no corredor, ainda irritado e um tanto orgulhoso em dar o braço a torcer, mas mesmo assim decido entrar no nosso quarto e me deparo com a gótica entretida com o notebook em cima da cama.

Tipo Ideal Perfeito - pjmOnde as histórias ganham vida. Descobre agora