Time

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Canetas, lápis, caderno, calculadora, celular e um monte de papéis espalhados sobre a mesa de centro da sala. Parecia o ensino médio de novo, e como eu queria que fosse. Pelo menos naquela época os únicos problemas que me davam dor de cabeça eram os de matemática. Frustrado jogo mais um pedaço de papel sobre todos os outros e cubro meu rosto com as mãos.

- Não adianta – falo abafado – Não importa quantas vezes refaça os cálculos, continua no vermelho.

Ceci terminava de anotar algumas coisas numa folha do caderno sentada no chão ao meu lado. Nós dois recostados no sofá, apenas com a luz da luminária para nos auxiliar. Eram umas três da manhã e não conseguíamos pregar os olhos.

- Acho que da pra cortar a televisão dos gastos – sinto seus olhos sobre mim – Não vai resolver tudo, mas se a gente segurar alguns meses já é alguma coisa.

Olho pro metadinha dormindo tranqüilo no cercado a alguns passos de distância. Suspiro pesadamente deslizando uma mão até minha nuca.

- Não tem outro jeito. Vou ter que sair do grupo se eu quiser sustentar a gente.

- Park Jimin – ela tira a outra mão do meu rosto e me encara séria – Não tem essa de você sustentar a gente.

- Mas é minha responsabilidade jahgi.

- Eu não sabia que a gente ainda vivia em 1800 – franze o cenho pra mim – É nossa responsabilidade.

- Com o grupo e a faculdade não ta dando Cecília...

- Nem pense em colocar a faculdade no meio disso. Não é uma opção Park Jimin... você já está no final e você vai se formar. Jamais iria deixar você desistir agora.

- Se eu não sair do grupo e da faculdade não vai ter como a gente continuar aqui nesse apartamento. É o segundo mês que a gente fica no vermelho com todas essas contas.

Nós mantínhamos as vozes baixas e calmas pra não acordar Ban, mas isso não queria dizer que Cecília não sentia o desespero na minha voz mesmo assim. Eu odiava falhar com a minha família daquela forma.

- A gente podia...

- Eu não vou pedir dinheiro emprestado Ceci...

- Eu não ia falar isso – revira os olhos e aperta levemente minha mão – Mas você é assim tão orgulhoso?

Afirmo com um aceno de cabeça imediatamente.

- Não quero preocupar ninguém com os nossos problemas. Nem mostrar pra ninguém que a gente não consegue se virar sozinhos. Não quero que pensem que a gente não tem ideia do que está fazendo.

- Mas a gente não tem mesmo ideia do que está fazendo – faz uma careta que consegue me arrancar uma risadinha idiota – Ninguém tem ideia do que fazer quase sempre. Todo mundo só finge que sabe.

- É isso que eu quis dizer... vamos continuar fingindo que sabemos o que estamos fazendo aqui.

- São nossos amigos e nossa família Park Jimin. Eles já nos conhecem.

- Mesmo assim jahgi. A gente consegue dar um jeito nisso sem envolver mais ninguém – jogo minha cabeça pra trás, apoiando no sofá – Eu prefiro assim.

Cecília começa a organizar as contas sobre a mesa, colocando tudo numa pilha perfeita. Ela ajeita o caderno, e tudo que estava ali em cima com perfeita simetria. Enquanto eu estava inquieto, ansioso e preocupado. Movia meus pés sem parar, sentindo minha cabeça pesando mais e mais conforme eu procurava por soluções. A enxaqueca não demoraria a me encher o saco também. Como eu deixei as coisas chegarem a esse ponto? Nós dois sempre fomos muito organizados com essas coisas de dinheiro, mas acho que a partir do momento que deixamos de ser dois e viramos três as coisas começaram a pesar bem mais. Eu precisava dar o mínimo de conforto pra eles... era minha obrigação.

- Se continuar pensando assim sua cabeça vai explodir – ela sussurra ao meu lado, apoiando o queixo em meu ombro – Da um tempo e para de se culpar.

- Eu não consigo...

- Olha, eu posso fazer alguns trabalhos de freelancer na minha área – suas mãos alisavam meu braço devagar – Muitas vezes paga melhor do que um cargo fixo. Me dá liberdade de trabalhar daqui. Posso fazer meus horários e ainda ficar com o Ban.

- E seu projeto com o Hyun?

- Ele vai entender se eu precisar dar um tempo. E não é como se eu fosse abandonar também, só vou ajudar com menos freqüência.

- Você vai ficar sobrecarregada demais, não quero esse peso todo em você.

- Park Jimin você casou comigo sabendo que eu não nasci pra ser só uma dona de casa. Eu gosto de trabalhar com isso, vai me distrair bastante.

Obviamente ela sabia que eu ainda não estava nada contente com aquilo. Cecília ia ficar exausta, eu ia ficar exausto, nós dois mal íamos ter tempo pra ficar sozinhos. Além do grupo de dança, a faculdade ter um emprego de melhor remuneração era capaz de sugar também nossos finais de semana. Não era para as coisas acontecerem assim. Nós deveríamos estar cada vez melhores e não tentando fazer um dia ter mais do que 24 horas. Levo minhas mãos até minhas têmporas, massageando devagar e tentando desacelerar a enxaqueca.

- Vem cá – ela murmura baixinho. Se ajeita a minha frente e me faz apoiar a cabeça em seu peito. Entrelaça os dedos no meu cabelo, num cafuné relaxante – Nós vamos conseguir. As coisas vão se ajeitar.

Envolvo os braços ao redor da sua cintura fina, me deixando respirar um pouco mais aliviado. Suas mãos, seus carinhos, suas palavras, eram melhor do que qualquer entorpecente que eu poderia ingerir. Capaz de correr mais rápido sob a minha pele do que o sangue nas minhas veias. Cecília me relaxa ao mesmo tempo em que me dá forças e me faz acreditar.

- E você sabe, mesmo se nada disso der certo a gente ainda tem a chance de sei lá... revender Avon – dou risada fazendo-a me acompanhar – Morar na garagem do Jung Hoseok.

- É provavelmente maior do que esse apartamento, a gente ia sair no lucro ainda – fecho os olhos, abraçando-a apertado.

- De um jeito ou de outro a gente vai se sair bem, ta vendo? Somos um time – beija minha cabeça – A gótica gamer, o fofo dançarino e o bebê misto.

Sorrio abertamente e faço menção de me desvencilhar dos seus braços por um momento.

- Me convenceu. Deixa só eu rever o cálculo de mais uma conta...

- Não, para com isso. Chega de números por hoje – levanta rapidamente do chão, me puxando pelas mãos para acompanhá-la.

Ceci se deita no sofá e ajeita uma almofada pra que eu me deite ao seu lado, o que eu faço prontamente. Ela me da um selar rápido, me fazendo fechar os olhos novamente e logo em seguida se aninha em meu peito. Seus dedos voltam a acariciar meus cabelos e eu aos poucos era engolido pela certeza da gótica das trevas. A certeza de que iríamos conseguir qualquer coisa.

Tipo Ideal Perfeito - pjmOnde as histórias ganham vida. Descobre agora