segunda feira, 26 de setembro

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Naquela noite, ele não foi para casa.
Ele não chorou. Não gritou. Não fez som algum.
Limitou-se a observar o vazio.
Limitou-se a ver a vida a passar.
Deixou-se desisitir. Fez-se não mais resistir.
Naquela noite ele foi pelo caminho incerto.
Desprendeu-se do destino.
Fez-se voar com as aves.
Naquela noite, foi trespassado de espadas, arrebentado por estalas, levaram-lhe as piadas..
E as memórias maltratadas..
As angústias embrulhadas..
As tristes lágrimas salgadas. Pois quem chora doce não conhece senão a mais fraca dor.
Mas quem, nasceu por si chorando mares, um dia Chorará oceanos.
O rapaz de caprichos mundanos.
Ele que assustava os humanos...
Ele que andava pelos cantos.
Aquele que se esquecera da virtude dos santos.
Naquela noite ele não ripostou.
Nem na própria sorte apostou.
E um ressoar, uma voz disparou.
Um sonho murchou.
Uma nova realidade que o mudou.
Naquela noite manteve-se imóvel sem prenunciar palavra.
Perdoando a alvorada.
Retornando á estrada.
Naquela noite não se ouviu som ou obstinação, não se ouviu a sua triste canção.
Não escreveu a lamúria do coração.
Naquela noite em que o sangue borbulhava,
Mesma noite em que repousava
Prometeu apenas descansar um pouco.
Um sentimento oco.
Um lamento torto.
E um corpo morto.
Naquela noite ele não se deixou ver
Decidiu por direito, nunca mais sofrer.
Porque isto de direitos, há quem afirme que lhes queimaram os peitos.
Por fim, naquela noite não recalmou.
Naquela noite não alterou.
Deixou o mundo escolher a própria fé.
Deixou o mundo por-se de pé.
Naquela noite. Morreu como fraco.
Caiu como covarde.
Ganhando finalmente a própria batalha.
Pois nesta noite morri.
Nesta noite jamais senti.
Horrores que vi.
E feridas abertas por ti.
Pois nesta noite em vão falo.
Pois esta é a noite em que me falo.
E jamais me ralo.
Noite aquela do consolo... Noite aquela da inspiração.
A noite que me fugiu pela mão.
Naquela noite não fugiu. E como rei sem coroa caiu.
Naquela noite... A noite infame.
A noite das promessas indiferentes.
E no final... Dos teus silêncios ausentes.

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