Desenrolar

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Quero que todas as prostitutas Oiçam a minha lamúria.
Quero que os homens e mulheres que vivem nas ruas andem nus pelas calçadas.
Quero que as grávidas sejam todas louvadas.
Rezo por aqueles que não têm voz e tanto falam
E amo a dor pela estribeira desta nobre e suja ribeira.
Deixada na igreja, noiva sem homem nem mulher.
Deixada no relento da solidão.
Levando os joelhos ao poeirento chão.
Quero que os mentirosos intercedam por minha causa.
Quero as mais belas seduções da carne.
Quero que os que sofrem, deles se me venha a pena.
Quero que as estradas me levem a algum lugar.
Que as espadas me possam fazer sangrar.
Que a morte me faça chorar.
Desejo o fim por entre os lençóis covardes.
Quero morrer como uma pequena barata.
Que se esqueçam de mim meus filhos, que meu amor se desvaneça.
Que vá embora que desapareça.
Quero a solidão como velha amiga.
A doença como parente.
Quero as palavras na minha patente.
E que se desenrole a mente.
Que me deixe ser crente.
Que quero andar para a frente.
Desisto assim das bonitas palavras de amor.
As dores que guardo são de tamanho horror.
E esta dor...
Dor que me faz falar palavras que não saram.
Não quero morte nem solidão.
Não quero cair no chão.
Não procuro as tristezas de outrem.
Quero denovo o regaço mimado de minha mãe.
Não quero perecer covarde.
Quer ser valente, um guerreiro pensante.
Mais forte que o lendário Dante.
E mais uma vez acordar para a realidade nua e crua.
Que no fim da rua...
Tudo o que lá estava era uma carcaça nua.
Uma mais lágrima de sangue. uma promessa á lua.
E nem uma carta tua.

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