Vida.

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Posso dizer que vivi muito pouco da vida.
Posso prometer que não vi nada deste mundo.
Mas do pouco que senti,
Tudo me pareceu belo , doce e salgado.
Já andei á luz das montanhas , sentido a terra molhada nos pés, descalços sobre as águas da praia.
Já me arrastei sangrando pelos vales das trevas.
Já queimei as mãos nas florestas em brasa, pisei nas torrentes assombradas, deixei-me ir naquela maré, sem medo de perder o pé.
Regressei às lutas nas estradas, às minhas mágoas engarrafadas, molhando a chuva do chão,
Entranhando as núpcias apertadas, voltando as luzes do palco, aos aplausos vivos e fascinados, as palavras negras e aclamadas.
Que nem deus sabe bem.
Só sabe quem as escuta. Quem as ouve e entra á bruta, só sabe quem é rei, quem sabe falar e sonhar como um poeta, as mulheres nobres e assustadas, e àquelas que perderam alguém.
A todas que já foram mães.
Já comi como senhor nas planícies,
Desfolhei as searas amadas
E sorri como ninguém.
Estava cego da minha loucura , sátira cantada, à minha seca madrugada,
E às noites em que perdi o norte.
Assim sendo, tolo como estava
Procurei-o no sul desta terra estragada.
Deste mundo que está entregue aos homens cinzentos e com pó.
Homens que não valorizaram e depois tiveram dó.
Homens que já não conhecem as flores em seu redor.
Elas não produzem senão pólen.
Não fazem grande ganha pão.
Assim só do dinheiro os homens saberão.
E se formos a ver. Nem deste.
Tristeza que me corre no peito
Ao cantar-vos estas palavras.
Perdoai este rapaz que de nada sabe da vida.
Ele não sabe o que é o dia.
Só conhece a noite.
Pedoai-o pois não sabe o que diz.

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