Capítulo 20 - parte 1 (em revisão)

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"O homem chega à sua maturidade quando encara a vida com a mesma seriedade que uma criança encara uma brincadeira."

Friedrich Nietzsche.


Foi um grupo alegre que se encontrou na casa dos pais da Eduarda naquela sexta-feira de manhã. Teodoro era o único que se sentia ressabiado e um tanto deslocado porque ia atravessar um portal pela primeira vez, sabendo que deixaria o seu mundo para entrar em algo muito desconhecido. De fato, um lado dele desejava isso com todas as forças, mas o outro morria de medo do desconhecido. Sentia-se como se, de repente, tivesse sido lançado no meio de uma história de ficção em que os personagens eram reais e ele um espectador que interagia com um deles. Naquele momento, olhava Igor com o pássaro no ombro e estranhava muito por saber o que Gwydion era.

– Primeiro, vamos pegar Ezequiel no Itaimbezinho – explicou Igor, cortando os seus devaneios e abrindo a passagem. – Vamos, passem.

Teodoro olhava para a paisagem rústica da clareira e a cabana, achando que aquilo não combinava com um sujeito cheio de poderes mágicos, que poderia viver no luxo e na riqueza. Valdo pegou a sua mão para lhe dar coragem e puxou-o. Do outro lado, ele começou a apalpar o corpo para ver se estava tudo no lugar e Igor deu uma risada.

– Não te preocupes, meu amigo – disse, acalmando-o. – Uso esses portais desde que nasci.

– Valdinho vai conseguir fazer isso? – perguntou, curioso.

– Ele não é de primeiro grau, logo não conseguirá, se bem que Valdinho é uma incógnita. De qualquer forma, como todos os magos de grau dois em diante, terá cápsulas planares para poder viajar entre mundos. Vocês jamais ficarão isolados. Além disso, alguns dos nossos cientistas desenvolvem um equipamento especial para comunicação entre planos, mas acho que isso ainda vai demorar um pouco.

Ezequiel apareceu na porta e disse, debochado:

– Eta, isso até parece uma comissão de inquérito, com tanta gente. – Abraçou e beijou Eduarda e a neta, continuando. – Por acaso fiz alguma coisa de ruim?

– Pronto, Ez? – perguntou Igor, rindo do amigo.

– Claro – disse ele. – Só me falta trocar de roupa.

Ezequiel bateu o bordão no chão e surgiu um trovão enorme que ecoou longe, ao mesmo tempo que a clareira escureceu e, logo após, um raio caiu à frente dele, ofuscando todos. Assustado Teodoro deu um passo atrás e só não saiu correndo porque Valdo segurava a sua mão e não deixou. Assim que a luz voltou ao normal, Ezequiel estava vestido com a sua túnica e capa.

– Que diabo, Ez, o senhor é um mago ou o Thor? – perguntou Igor.

– Eu sou eu, o poderoso Ezequiel. Agora vamos? – olhou para Igor e sacudiu a cabeça. – Você ainda nem...

Antes que continuasse a falar, Igor transformou as roupas jundo com Eduarda, fazendo o sábio sacudir a cabeça sorridente. Olhando para o mago, Teodoro falou no ouvido do Valdo que deu uma risada.

– Que baita gato, meu!

– Vamos, Saci – disse Ezequiel. O cachorrão apareceu, fazendo Teodoro tentar recuar outra vez.

– É outro dragão, Teo – disse Valdo. – São do bem.

― ☼ ―

Mais uma vez, Igor abriu a passagem e, dessa vez, Teodoro não teve medo, mas espantou-se muito com a cidade dos celtas, que parecia uma mescla do século V com o XVIII.

– Foi aqui que tivemos que lutar contra uma horda dos monstros – explicou Valdo para o namorado, mostrando o campo ainda ferido pelas batalhas recentes. – Esta é a ilha de Avalon.

Os druidas e sacerdotisas ajudavam os aldeãos com a mudança, que estava em estágio muito avançado. Assim que viram o portal, pararam de trabalhar e aproximaram-se em arco, com Shayla e Gwenhwyar à frente, seguidas por Kenneth no meio, porém um passo atrás.

Teodoro observava cada detalhe daquele lugar, muito curioso. Como Valdo havia dito, era quase a mesma coisa que dar um mergulho de mil e quinhentos anos no passado e ver uma cultura que se desenvolveu de forma paralela. Os magos aproximaram-se e fizeram uma reverência profunda para Morgana e, depois, para Igor e Eduarda. Assim que as sacerdotisas viram a criança, correram a paparicá-la, enquanto Igor conversava com Kenneth e o chefe da cidade. Ele não entendia nada do que se falava e perguntou para o namorado:

– Que língua estão falando, você entende alguma coisa?

– Um pouco – respondeu Valdo. – É celta e vamos precisar de aprender a falar isso. É a língua oficial dos magos. Igor explicou que na Cidadela tem gente de todos os cantos do mundo, então o celta, que era língua dos primeiros magos, foi eleita a sua língua oficial. Este povo é, ou era, gaulês, ou seja: celta.

– Mano, isso é muito legal! – comentou, fascinado. – Quer dizer que para eles passaram apenas trezentos anos, mas vejo que possuem coisas que são do século XVIII.

– Não tinham guerras nem a Igreja para se intrometer – explicou Valdo, pensativo. – O espírito humano é versátil e potente, se tiver liberdade para criar.

– É verdade. – Teodoro virou-se e olhou a floresta, que não ficava longe. – Engraçado, mas eu podia jurar que vi um sujeito bem baixinho e de chifres ali na floresta.

– Teus olhos são bons mesmo, Teo – elogiou Valdo. – Não vejo nada desta distância, mas trata-se do povo pequeno. Se estão aqui é porque querem alguma coisa.

Virou-se e atravessou a praça, acompanhado por Teodoro. Valdo forçou um pouco a vista e viu o homenzinho na orla. O namorado apontou e ele fez sinal com a cabeça.

– São eles mesmo – virou-se e ergueu a voz. – Igor, o povo pequeno está na orla do bosque.

O amigo aproximou-se, sempre com Gwydion no ombro. Sorriu e disse:

– Vamos lá ver o que desejam. Na certa Irla quer nos ver e já sabe que estamos aqui.

– Isso, vamos lá que desejo falar com ela.

― ☼ ―

O Mago e a Sacerdotisa de AvalonWhere stories live. Discover now