Capítulo 18 - parte 5 (em revisão)

164 21 0
                                    

Igor correu para a sala do portal com a intenção de deixar a bomba no outro mundo porque as prioridades estavam mais uma vez invertidas. Era imperativo que o fluxo de criaturas parasse de acontecer ou o coletivo tornar-se-ia demasiado forte para enfrentar, mas ele rezava para que conseguisse encontrar a Caroline antes da explosão acontecer.

Antes disso, distribuiu em buracos feitos com raios da sua espada as quatro pequenas, mas potentes bombas adicionais. Elas seriam detonadas por simpatia algum tempo depois dos abalos da primeira explosão. Igor ergueu-se no ar, contudo o seu voo durou poucos segundos e ele sentiu algo similar a uma grande pancada no peito voltando a cair, aflito.

– "Acabou, Igor" – disse a voz da entidade. – "Atingi a massa crítica necessária para neutralizá-lo."

– "Se adquiriu inteligência junto, verá que vocês estão invadindo o nosso mundo e apenas nos defendemos" – respondeu o mago, cauteloso. – "Então, por que não cessa os conflitos e nos deixa em paz?"

– "Vocês não têm capacidade para nos compreenderem" – os pensamentos da criatura ecoaram na mente do Igor como um trovão. – "Não passam de alimento com alguma inteligência."

– "Nesse caso" – retrucou Igor, zangado –, "na qualidade de Magnífico Guardião Supremo, líder absoluto do Mundo de Cristal e de todos os Magos, declaro guerra a Muscolim. Prepare-se para o extermínio."

"A cada segundo que passa, uma nova parte sua será neutralizada até que nada sobre a não ser alimento para mim." – Foi a resposta que obteve.

Igor, de espada em punho, virou as costas e começou a correr para o portal, matando tudo o que se interpunha no caminho. Parou de frente para a passagem e pensou em Caroline, muito preocupado. Quando largasse o pacote, teria uma hora para encontrá-la ou poderia estar a decretar a morte da sua amiga mais querida porque a arma seria ativada com a passagem e não haveria como reverter o processo.

Uma forte pancada nas suas costas, que o deixou sem ar, tirou-o do devaneio. Virou-se e não havia nada, concluindo que a criatura começava a adquirir dons telecinéticos. Cada vez mais preocupado, o mago tornou-se invisível e atravessou o portal, antes que fosse tarde.

Assim que chegou ao outro lado, viu-se em uma região montanhosa e bem parecida com o sudoeste de Avalon. Isso corroborou a tese que aquele trecho da ilha era originaria do mundo das criaturas. Na frente da passagem, uma fila imensa daqueles monstros aguardava para atravessar. Igor viu umas cavernas altas e transportou-se para lá, deixando a bomba bem no fundo de uma delas, aliviado porque, de fato, não perdeu os poderes. Ele não quis confessar para a filha que poderia existir esse risco.

Conferiu se ela estava armada e, pelo brilho verde piscante, cerificou-se que a passagem ativou o mecanismo de disparo. Aquela caverna tinha bastantes cristais dos mesmos tipos, motivo pelo qual Igor calculou que a destruição ia ser absurda de tão grande e a reação em cadeia muito mais rápida do que o calculado. Levando isso em consideração, procurou sair daquele mundo o quanto antes para poder procurar Caroline, até porque o mais provável é que a explosão daquela quantidade de cristais fosse destruir o continente inteiro, talvez até rebentar a crosta planetária.

A fila de criaturas que atravessavam era assustadora e Igor achou por bem atrapalhar os planos deles. Criou duas bolas de plasma de grande potência e arremessou-as nos monstros. A destruição foi tão grande que até a terra tremeu e ele aproveitou para atravessar o portal sem demora.

A primeira coisa que notou era a quantidade absurda de muscolins que aguardavam para o atacar na caverna do portal e ele felicitou-se por ter mantido a invisibilidade ativa. Já ia rir quando notou que todos eles portavam mosquetes e apontavam bem para onde estava, fazendo o seu sorriso perder-se aos poucos enquanto reprimia uma praga.

Reagindo por puro instinto, ergueu de imediato a nova barreira bem a tempo de se proteger de várias centenas de projéteis que certamente o teriam morto. Em compensação, o barulho que ressoou naquela sala quase vazia de objetos foi enorme. As balas ricochetearam na barreira e algumas perderam-se nas paredes de cristal, arrancando lascas que saltaram para todos os lados.

Igor já sabia que os cristais o protegiam das emanações mentais dos seres, mas, nesse momento, descobriu que eles eram um verdadeiro veneno para as criaturas. As poucas que foram atingidas e perfuradas por estilhaços morreram de imediato. Igor virou-se para o portal e tentou fechá-lo, sem sucesso. Com as mãos, passou a lançar raios sobre as paredes, arrancando uma chuva de milhares e milhares de pequenas fagulhas de cristal. Quando acabou, estava sozinho.

Voltou a sorrir e virou-se para o portal, preparando uma bola de plasma bem forte. Foi recuando devagar até à passagem e arremessou a energia pura sobre a base do portal. A explosão foi muito forte, mas abafada pelo campo de força dele que não permitiu que a compressão dos gases saísse da sala. O portal parou de funcionar, mas ele sabia que seria por pouco tempo, embora conseguisse conter a recepção de mais massa, como dizia a entidade coletiva, pelo período necessário para impedir o crscimento do monstrengo. Além disso, havia a forte probabilidade de a passagem voltar ficar instável. A grande preocupação do Igor era barrar a única ligação entre os dois mundos para evitar a destruição completa da ilha. Se o portal tivesse sido lacrado na íntegra, a chance de não ocorrerem explosões em Avalon seria muito elevada, a menos que a energia cristalina achasse outro caminho, também uma opção com uma razoável dose de probabilidade. Naquele momento, o mais importante era destruir o inimigo e ficar de olho, partindo do princípio que o portal poderia voltar a funcionar nessa hora de espera. Como Igor sempre pensava, o melhor era ter otimismo, mas esperar o pior de forma a sempre haver uma saída.

Sorrindo, virou as costas e começou a andar quando uma nova pancada, muito mais forte, apanhou-o no peito, jogando-o ao chão. Igor tentou respirar com alguma dificuldade até que melhorou, mas, nesse momento, descobriu que subestimou o adversário porque ficou com uma paralisia parcial. Por mais que se esforçasse, não conseguia se mover direito.

– "A tua destruição acabou, Igor. Estás derrotado" – disse o consciente coletivo na sua mente. – "Estou completo e nada me deterá. Serás levado à minha presença e sugarei teu poder, que é o mais forte. Como consegues esconder isso?"

– "Devias saber, muscolin" – retrucou Igor com toda a calma, embora fosse apenas aparente –, "que um mago só está vencido quando está morto."

Alguns segundos depois, vários homens-mola apareceram no seu campo de visão. Igor certificou-se de que continuava com o campo de força ativo, sentindo um pequeno alívio porque assim seria impossível tirarem o bracelete.

Em seguida, concentrou todo o seu esforço em uma luta titânica com a entidade. Ele sozinho, contra uma mente formada por dezenas de milhar, senão centenas de milhar de mentes alienígenas que o mantinham cativo.

O primeiro efeito foi que os muscolins foram parados como se batessem em uma parede, não conseguindo mais avançar para capturar Igor que suava frio com tanto esforço. Ele recebeu uma nova pancada ainda mais forte sobre o peito e só não gemeu porque estava paralisado também na boca. Com a pequena distração o inimigo avançou um passo, mas Igor logo se recuperou, forçando-os a recuar alguns metros. Com um esforço hercúleo, conseguiu mover a mão, mas isso causou-lhe muito cansaço e mais uma vez as criaturas avançaram um pouco.

Igor redobrou os esforços e a sua preocupação começou a virar medo. Pelos seus cálculos, aquela batalha já durava quase uma hora e ele sabia que poderia não sobreviver à bomba, se permanecesse ali quando explodisse e parte a energia lograsse passar pelo portal, que não ficaria selado para sempre e já parecia dar sinais de querer se restabelecer, apesar de instável. O mais provável era que toda aquela caverna ruísse, senão a montanha.

O seu medo começava a se tornar desespero quando, sem qualquer explicação, ele sentiu que a pressão diminuía de repente e fluxos de pensamentos desconexos da entidade surgiram na sua mente, pensamentos que perguntavam quem ele era e que o mandavam sair ou chamava os sentinelas. Igor não entendeu nem perdeu tempo a entender porque conseguiu ficar de pé. Andava devagar como se estivesse com água pela cintura, mas conseguia avançar. Ergueu a mão e uma descarga de eletricidade atingiu as criaturas que bloqueavam o caminho, matando-as eletrocutadas.

O mago ainda tentava correr quando se viu liberto sem aviso prévio e, por conta disso, caiu de cara no chão. Soltou um palavrão em celta, levantou-se e começou a correr pelo corredor procurando chegar ao salão antes da explosão que era iminente.

― ☼ ―

O Mago e a Sacerdotisa de AvalonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora