Capítulo 4 - parte 1 (em revisão)

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"O valor fundamental da vida depende da percepção e do poder de contemplação ao invés da mera sobrevivência."

Aristóteles.

Ainda era bastante cedo naquela manhã quando Igor despediu-se dos sogros, da filha, da esposa a abriu um portal para a cabana de Ezequiel. Encontrou-o sentado na sua cadeira preferida, que ficava pendurada na viga da varanda, do lado direito, balançando devagar.

Ele ergueu o rosto e sorriu, mostrando uma xícara que tinha na mão e dizendo em celta:

– Salve, Igor, acabei de fazer – apontou para dentro. – Sirva-se.

O líder dos magos sentou-se na outra cadeira de balanço após pegar o seu café. Deu um gole e comentou, distraído:

– Gosto daqui, da tranquilidade, ainda mais agora, que Samuel foi destruído.

– Só não me volte a aparecer aqui mais morto do que vivo, por favor, filho – disse Ezequiel, bem sério, coisa incomum. – Duas vezes foi mais do que a conta, não acha?

– Tem razão – respondeu. Acabou o café e continuou. – Então, vamos?

– Vamos – disse Ezequiel, levantando-se e pegando o seu bordão. – Só vou trocar de roupa. Por sinal, você devia fazer o mesmo.

Igor sorriu e, enquanto se levantava, já envergava a sua veste branca, antes mesmo do ancião terminar de falar.

– Que diabo – comentou Ezequiel, enquanto os seus jeans e camiseta transformavam-se em uma túnica escura de tom carmesim e com uma capa dourada por fora e cor de vinho por dentro. – Em dois mil anos de vida, ainda não vi um sujeitinho mais exibido que você.

Tudo o que o jovem fez foi rir do amigo por quem se apegou muito, pouco menos quatro anos antes. Aguardou que o sábio estivesse pronto e abriu a passagem para o Mundo de Cristal, dizendo:

– Faça as honras, caro Ezequiel – apontou o caminho e inclinou-se à moda oriental.

– É mesmo prático poder abrir portais sem usar cápsulas planares, especialmente você, filho, que pode ir de uma única passagem para o Mundo de Cristal.

Igor não respondeu, apenas riu do comentário enquanto fechava a passagem atrás deles. Depois, não resistiu e comentou:

– Ainda me lembro, certa vez há uns dois anos, que o senhor disse que isso de certa forma me prejudicava por não ter a chance de apreciar o que acontecia ao meu redor e concordei consigo, lembra-se? – deu uma risada. – Foi naquele mundo do quarto plano quando me salvou de morrer de hemorragia interna. Agora me explique essa mudança de opinião.

O sábio pareceu hesitar como se procurasse uma forma adequada para explicar, até que apenas encolheu os ombros.

– Não mudei de opinião – respondeu finalmente. – Acontece que é bom poder chegar mais rápido a um determinado lugar quando se precisa.

― ☼ ―

Quem nunca tivesse visto a Cidadela, capital do Mundo de Cristal e na verdade a sua única cidade, apesar de alguns magos viverem isolados em outros locais daquele planeta, ficaria deslumbrado quando a visse pela primeira vez. Mesmo quem estava habituado vê-la, como aqueles dois, parava um minuto para apreciar e beleza avassaladora daquele paraíso de sonho.

A cidade não era grande, comportando uma capacidade de cerca de sessenta mil pessoas, embora no dia a dia houvesse apenas pouco mais de quarenta mil residentes. O planeta ficava no décimo terceiro Plano Universal, dez níveis acima da Terra, e não era um mundo grande. Tinha uma vegetação exuberante e muitos seres alados. A fauna terrestre, porém, era pequena porque se tratava de um mundo em que noventa por cento da sua superfície era água. O continente principal, onde ficava a Cidadela, era riquíssimo em veios de todos os tipos de cristais, sendo por isso que batizaram o planeta daquele jeito.

O Mago e a Sacerdotisa de AvalonWhere stories live. Discover now