Capítulo 9 - parte 2 (em revisão)

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Eduarda caminhava por uma trilha lamacenta com a confiança de um sonâmbulo, enquanto Valdo seguia atrás, cheio de dúvidas e com medo de cair. Ele ia calado e pensativo, principalmente depois de ter ouvido a história de Ezequiel. Afinal, se Igor, o mais poderoso dos magos, estava em perigo, então era mais do que certo que ele, Valdo, estaria a caminho da morte e isso deixava-o demasiado apreensivo. Mas, bastou olhar para a sua amiga para se lembrar que havia para ele algo tão valioso que compensaria os riscos, que era a vida das duas pessoas que ele mais amava: ela e o marido. Pensando nele e na história da filha, surgiu outra dúvida que o deixou demasiado curioso.

– Duda – perguntou finalmente. – Como pode uma mulher que nasceu faz mil e oitocentos anos estar viva?

– Esqueceste que Ezequiel tem mais de dois mil anos? – Eduarda virou-se para o amigo e riu. – Nós magos dos primeiro ao quarto graus vivemos bem mais que o normal, mas é sempre uma incógnita. Cuidado...

Estendeu a mão e segurou o amigo, que quase caiu dentro do lago. Para ajudarem mutuamente, passou a andar de mãos dadas com ele que acabou por se sentir mais confiante, perdendo parte do temor.

Enquanto conversavam mais um pouco quando Eduarda notou que os passos faziam um som bem diferente. Olhou em volta e constatou que o neveiro estava menos denso e ficava ou, pelo menos, parecia ficar mais claro. Parou de andar e, empertigado, o amigo fez o mesmo. Ela disse:

– Olha, Valdinho, está clareando rápido e não tem mais lago aqui. O chão agora é de pedra e tem um certo eco!

– Tens razão, Dudinha. Será que...

A amiga puxou por ele para continuarem andando, mas, mal deram o segundo passo, ela sentiu o forte estrondo que a deixou atordoada.

– Bah, o que é isso? – perguntou, abalada e bastante tonta, apertando a mão do amigo que a segurou pela cintura e amparou ao notar que ela perdia o equilíbrio e caía.

– Não vi nem ouvi nada, Duda – disse ele. – O que aconteceu?

– Um estrondo muito forte que mexeu com meus sentidos e me deu um grande mal-estar, Valdinho – respondeu, aflita. – Preciso sentar um pouco.

Acharam umas pedras bem ao lado e sentaram-se. Eduarda testou seus poderes e notou que tinham enfraquecido um pouco, mas nada de grave.

– Gwydion – perguntou, ela curiosa. – Por acaso tu sentiste alguma coisa?

– "Sim, muito forte" – respondeu a ave. – "Acredito que a nossa passagem por este portal natural coincidiu com uma abertura de outro e houve uma colisão intensa de energias planares. Também noto que as brumas estão dissipando."

– Sim, estão – disse Valdo, distraído. – Ei! Eu escutei! Tenho a certeza que ouvi Gwydion falar!

– "A passagem do portal natural pode provocar efeitos colaterais nas pessoas, até nos mundanos" – disse o pássaro. – "Talvez tu descubras algumas habilidades, Valdinho, mas não te garanto que sejam permanentes."

– Bem. – Eduarda levantou-se, sentindo-se melhor. – É melhor andarmos. Esta ilha não deve ser assim tão grande, então vamos andando por aí.

Apontou uma passagem junto à cordilheira que lhe parecia um caminho fácil de se deslocar e continuou:

– Aquele caminho ali parece bem mais fácil de seguir e, se tiver gente por aqui, a lógica diz que o usariam.

– Faz sentido – comentou Valdo, arrepiado – a menos que exista algum perigo que impeça as pessoas de irem por ali.

O Mago e a Sacerdotisa de AvalonWhere stories live. Discover now