Capítulo 15 - parte 1 (em revisão)

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"Triunfam aqueles que sabem quando lutar e quando esperar."

Sun Tzu.


Igor acordou cedo e levantou-se logo, tendo o cuidado de não acordar Eduarda porque, na noite anterior, abusaram um pouco com as festividades. Procurou não fazer barulho, uma vez que todos dormiam exceto por Gwydion, que permanecia ao lado do Saci e Ezequiel na sala contígua.

– "Ele está bem, Gwydion?" – perguntou, usando telepatia.

– "Sim, Igor" – respondeu o pássaro. – "Apenas reestabelecendo as energias pelo sono. Acho que acorda antes do fim da manhã e Ezequiel também."

– "Que bom" – disse Igor, aliviado. – "Eles não deviam ter atravessado sozinhos. Eu mesmo quase fui morto ali. Quem me salvou foi Shayla."

Dando a palestra por encerrada, saiu e olhou para cima, espreguiçando-se muito alegre. Inspirou fundo duas vezes e atravessou a rua para a praça, sentindo com prazer os raios do sol no rosto que lhe renovavam a energia. Depois da higiene, sentou-se em um banco e materializou uma xícara de café, tomando e observando a floresta que era visível dali.

Notava a grande harmonia e a beleza do lugar adorável onde estava, se não fosse o inimigo e, também, a interferência no tempo. Ele mantinha isso sob controle rígido porque o risco de ficarem tempo demais por ali era elevado. Igor não queria ultrapassar, no máximo, mais dois dias do ciclo de Avalon, do contrário mandaria Eduarda de volta por causa da Ailin, que era demasiado pequena. Mesmo sabendo que poderia recuar alguns dias no passado, preferia evitar isso a todo o custo.

Os seus pensamentos foram interrompidos pela filha:

– Salve, pai – disse Morgana, beijando-o. – Está tão sério e pensativo! Algum problema?

– Não, meu anjo. – Igor sorriu e beijou-a de volta. – Pensava na urgência de resolvermos isto tudo. Cada dia aqui significam mais de cinco dias em casa e a tua irmã precisa da mãe porque é demasiado bebê. Se ficarmos mais tempo aqui, pretendo mandar Eduarda de volta, mas sei que ela não vai gostar nada disso.

– Como é minha irmã? – perguntou Morgana, curiosa. – Queria tanto conhecê-la!

Igor pôs a xícara na mesa de pedra e abriu as mãos a uma distância talvez dos seus cinquenta centímetros. Entre elas, surgiu uma imagem em três dimensões da filha e Morgana sorriu.

– Parece com a minha mãe da outra vida, a Ailin – disse aproximando-se um pouco. – Faz mesmo jus ao nome.

– Eduarda e Ailin já era muito parecidas por natureza porque ela é tua descendente remota. Juntando tudo isso, a pequena Ailin só podia ser parecida mesmo, mas também tem muitas nuances da mãe da Eduarda.

– Acha que meu avô vai ficar bem? – perguntou Morgana, mudando de assunto e expressando uma certa preocupação.

– Gwydion disse que sim – respondeu Igor. – Ele é durão, mas sinto-me um pouco culpado.

– Eu perguntei para ele isso, mas queria saber a sua opinião, só que não se deve sentir culpado.

– Eu ouvi o portal ser aberto e devia ter pedido para Gwydion investigar – disse o pai, recriminando-se. – Mas a minha preocupação com a invasão não me permitiu e acho que isso foi um erro grave de estratégia. Felizmente, vai ficar bom; do contrário, jamais me perdoaria. Também não me ocorreu que ele poderia ter ido para aquele maldito lugar. Hoje mesmo vou começar os preparativos para a destruição completa dos muscolins. Vou dizer-te uma coisa, Morgana: não sei o que é pior, se eles ou o demônio que enfrentei há cerca de dois anos.

– Como foi essa história, pai? – perguntou Morgana. – Gostaria muito de saber porque a minha mãe não me explicou grande coissa.

– Foi terrível e quase morri... – Igor contou toda a sua aventura, explicando como foi lançado ao passado. Ambos bebericavam o café e, quando ele terminou, ficaram calados algum tempo. Morgana ergueu o rosto e seus olhos sorriram, ao dizer:

– Estou muito feliz que tenha vencido. Não imagina o quanto ansiei por este momento, por estar ao seu lado.

– Eu sei, filha – disse ele abraçando-a e olhando para a floresta. Beijou sua face e continuou. – Eu também passei estes dois anos desejando demais saber algo a teu respeito. Por muitas vezes me arrependi de ter cumprido aquela promessa para com Ailin porque pensava como te sentirias sem mim. Outro lado meu desejava encontrar-te para poder ter consigo um pedaço da outra Eduarda, a Ailin que tanto me confundia nos meus sentimentos. Só fui compreender direito as coisas quando descobrimos que Eduarda e ela eram a mesma essência, mas confesso que é difícil vê-las sempre como uma só. A própria Eduarda, que teve suas lembranças despertadas, sente um pouco de confusão com isso porque lhe parecem duas vidas entrelaças em uma só.

Morgana ouviu em silêncio e não respondeu. Deixou-se ficar sentada e encostada ao pai que a abraçava por trás. Não muito tempo depois, chegou Eduarda, que beijou ambos e sentou-se, tomando café. Enquanto curtia os raios do sol e olhava a floresta, perguntou:

– O que vai ser hoje, amor? – virou o olhar para Igor. – Nós não podemos ficar passivos, senão sofreremos mais uma invasão e esta última já foi muito difícil de debelar.

– Quando Ezequiel e Saci voltarem a si, vamos atacar, pegar cristais, detonar tudo, arrumar um mundo pra todo esse pessoal e casa.

– Bah, tchê – disse ela, rindo –, acho que é muita coisa para tão pouco tempo.

– Mas terá de ser, amor – respondeu Igor. – Do contrário, deverás retornar amanhã por causa da Ailin. O maior problema mesmo será como fazer tudo isso, apesar de haver dois dragões ajudando. O pessoal daqui é muito fraco.

– Tens razão, mas seu que darás um jeito – sorriu e beijou o marido.

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O Mago e a Sacerdotisa de AvalonWhere stories live. Discover now