Capítulo 11 - parte 1 (em revisão)

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"O amor é uma predisposição recíproca que torna dois seres ciosos um da felicidade do outro."

Platão.


– Dudinha, tu tá falando sério que nós vamos cair de pau com esses bichos feios? – perguntou, Valdo, assustado. – Tu viu que são um bando deles e não aquela meia dúzia de antes...

– Alguma alternativa, Valdinho? – Eduarda respondeu com outra pergunta. Olhou em volta como que a mostrar os aldeãos que pareciam bem assustados. – Sem nós, essa gente morre. Já notaste como eles parecem desesperados? Gwydion, vamos precisar muito de ti.

– "Claro" – respondeu o pássaro –, "podem contar comigo, mas avisem a população a meu respeito."

– Boa ideia – disse Eduarda, procurando Kenneth e explicando que Gwydion se transformaria em um dragão bem graúdo no momento do combate e seria bom avisar a população para não haver pânico.

Mais uma vez, o povo da cidade, embora morrendo de medo, armou-se como pôde e foi para o campo aguardar os invasores. Na linha de frente, estavam Eduarda, Gwenhwyar, Kenneth e Valdo, muito nervoso apesar de saber que ele era o único que não precisava temer os monstros desde que não lhe acertassem uma facada e, para isso, os seus conhecimentos de artes marciais eram mais do que suficientes, face aos desajeitados homens-mola.

Eles ainda não tinha aparecido quando ouviram um galope e Gwenhwyar alegrou-se ao ver Shayla com mais cinco sacerdotisas, quatro delas as suas filhas. As sete, junto com Kenneth, formavam a elite dos poderosos e isso animava um pouco, apesar de não serem muito úteis a curta distância em função da capacidade dos invasores os neutralizarem.

Eduarda nada entendia de táticas de combate, mas era dotada de um excelente bom-senso e uma inteligência privilegiada. Por isso, disse para todos que ela, o amigo e o dragão atacariam o centro da formação e que os demais tomassem conta dos flancos procurando atacar à distância. Decidida a poder aumentar a força dos seus poderes, Eduarda pôs o anel no dedo, cuja pedra vermelha começou logo a brilhar. Shayla aproximou-se.

– Salve, Eduarda – disse, ela. – Sou Shayla, mãe da Gwen e minha filha já me contou quem é. Estou feliz de a conhecer e espero que consigamos sair disto para comemorarmos a vitória e o encontro.

– Salve, Shayla – respondeu Eduarda, sorrindo. – Que a Deusa assim o permita.

– Olha eles ali, Dudinha – disse Valdo, preocupado. – Como pretendes fazer?

Agora que o inimigo estava à vista, ele perdeu todo o medo que sentia, mas nunca na vida entrou em uma briga e não tinha a menor ideia do que seria combater uma guerra porque nem mesmo no exército serviu.

– Agora, Valdinho, vamos ver se a teoria do nosso amigo está certa: tu vais canalizar a tua força para mim e eu ataco. Depois, fazemos strykes individuais ou juntos. De qualquer forma, eles explodem quando tu lhes tocas. Gwydion, acho melhor a começar logo a mudança – virou-se para os que estavam mais próximos e disse, em celta. – Deem espaço para o dragão.

A conversão de um pássaro de rapina em um gigantesco dragão sempre impressionava Eduarda, que nunca se cansava de apreciar tamanha transformação. Para os Avalonenses, contudo, era uma novidade e eles não deixaram de soltar muitas exclamações, mesmo avisados com antecedência.

– Vamos – disse Eduarda, pegando a mão do amigo e começando a andar em direção ao inimigo. – Segura a minha mão direita que preciso da esquerda para a magia.

Com um salto enorme, Gwydion ganhou os céus e, atrás da feiticeira, a população seguia mais devagar, a maioria morrendo de medo, mas sem deixar de enfrentar o inimigo. Eduarda parou e ergueu a mão esquerda, imperativa, mas as criaturas ignoraram-na e continuaram o avanço, só que, agora, muitas delas concentraram-se na sua direção por reconhecerem a maior fonte de poder do local.

Eduarda ergueu uma barreira de energia capaz de a proteger a si e ao amigo e, a seguir, lançou um raio azul com toda a força que possuía para que, apesar da perda de potência, chegasse aos invasores com força suficiente para, pelo menos, detê-los.

Devido ao primeiro confronto, Eduarda achava que o raio apenas retardaria as criaturas enquanto Gwydion, que naquele momento voava em círculos a algumas dezenas de metros, provocaria a destruição final com um mergulho bem calculado.

Por isso, ficou muito espantada com o efeito devastador que o seu ataque teve sobre os primeiros quatro que estavam bem à sua frente porque foram volatizados no ato sem nem mesmo terem sentido o que aconteceu.

– Mas, bah – exclamou Valdo, excitado. – Dudinha, ninguém pode com a gente.

― ☼ ―

Ela acordou com muita fome, mas sentia-se exausta e tinha um medo enorme de enfrentar os seus algoses. Levantou-se e caminhou curvada até à boca da caverna. Com todo o cuidado, enfiou a cabeça para fora e não encontrou nada nem ninguém. Lembrava-se, no caminho para lá, que após o riacho viu um bosque onde podia achar algumas frutas e saciar a fome que apertava. Não se lembrava direito de quem era e muito menos se ali havia outros como ela porque tudo o que lhe comandava a vontade era o instinto animal.

Devagar, saiu da caverna tal como um rato sairia da toca para procurar alimento e encaminhou-se para o rio, sempre pela sombra e agachada, o que lhe dava um aspecto pequeno e muito triste para um ser humano. Os dias de desespero em um mundo onde sofria perseguições constantes e precisava sempre de estar um passo à frente dos monstros que a perseguiam pareciam fazer parte do passado, socados em um canto do seu subconsciente da mesma forma que não se lembrava como foi que conseguiu escapar de lá. Naquele momento ela não parecia uma mulher. Lembrava mais um pequeno ser selvagem e acuado que precisava com muita urgência de alimento, água e proteção.

Chegou ao rio e a sede era tão forte que se entregou a beber com sofreguidão, deitada na margem e com o rosto na água. Bebeu bastante, mas, como não era um animal selvagem e sim um ser humano, apesar de estar em péssimo estado físico e espiritual, não prestou a atenção necessária enquanto bebia. Séculos de vida na civilização não eram apagados com tanta facilidade e, quando ergueu o rosto saciada da sede, viu que um bando de muscolins aproximava-se e ela estava cercada, impossibilitada de escapar.

Soltou um grito desesperado porque sabia o que a aguardava, mas não se entregaria sem lutar. Como uma fera encurralada, ela pegou tudo o que tinha pela frente e atirava neles, na vã esperança de conseguir ferir um e abrir uma brecha para fugir.

Chegou a esmurrar o primeiro, mas, quando a agarraram, as suas energias cederam e ela perdeu parte da consciência, tornando-se apática e voltando a ser uma prisioneira das criaturas. Ainda teve a nítida impressão de ouvir uma luta e depois trocar de algoz. O seu novo captor era menor, mas possuía braços bem mais fortes porque foi agarrada com muita firmeza e sentiu-se levada a correr.

Depois, teve uma sensação de que era colocada em algo macio e, por último, o seu corpo apalpado, mas não tinha capacidade para se mover e proteger de tamanha invasão. A última coisa para a qual teve uma lembrança foi que lhe punham algo quente na testa e, depois, caiu nas profundezas do inconsciente.

― ☼ ―

O Mago e a Sacerdotisa de AvalonWhere stories live. Discover now