Capítulo 18 - parte 4 (em revisão)

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Valdo não queria admitir para os outros que estava morto de medo em entrar naquela caverna, mas havia duas coisas que o motivavam e venciam os seus temores, impulsionando-o para a frente sem pensar muito: o grande amor que tinha por aqueles dois amigos que conheceu na faculdade, os primeiros amigos verdadeiros que teve, que o aceitaram como sempre foi e jamais o questionaram. Para o jovem, essa amizade valia mais que a própria vida e, assim, ele penetrou estoicamente naquela caverna escura. O segundo fator era o que mais o tranquilizava, uma vez que ele sabia muito bem que era imune às criaturas desde que não fosse esfaqueado.

As estalactites deixavam um brilho suficiente para ele ver tudo. Decidiu caminhar para a direita e entrar no primeiro recinto que encontrasse, procurando em um por um até encontrar Igor.

Pouco antes de entrar era tudo um barulho só, mas agora o silêncio chegava a ser opressor. Logo do lado direito encontrou uma pequena passagem para uma caverna menor, bem menor. Para seu azar, havia cinco invasores dentro e que talvez dessem o alarme em dois tempos.

Avançou como um possesso e atacou de surpresa, matando-os de imediato. Revistou a sala e encontrou um nicho no fundo que tinha uma sala fechada com vidro, porém vazia. Ele ficou imaginando para que serviria e não chegou a uma conclusão plausível. Encolheu os ombros e, mais confiante, seguiu adiante para o próximo corredor.

O seguinte era longo e sinuoso, terminando em uma grande sala quente que estava toda marcada por chamas e lava. Valdo concluiu que Igor, deve ter estado ali e destruído tudo o que havia. Mesmo assim, revistou a sala e encontrou o caminho quase oculto, seguindo por ele durante uns cem metros até que decidiu que seria melhor retornar. Notou, também, que aquele corredor era rico em cristais e devia ser uma proteção natural contra as criaturas, caso fosse necessário.

Guardou essa informação na memória e retornou ao salão principal, entrando no corredor seguinte e deparando-se com alguns muscolins de guarda. Atacou-os de surpresa e achou que, se havia guardas, havia algo a ser investigado. Avançou devagar e com a barreira de proteção erguida, uma vez que estava bem ciente das suas limitações.

Chegou a uma sala e encontrou vários inimigos que, ao vê-lo, avançaram. Usando toda a sua habilidade para que não recebesse mais de dez impactos com as armas primitivas, ele novamente dizimou os muscolins e revistou a sala. No final, como a primeira, havia uma sala pequena com vidros a fechá-la, mas, ao contrário da outra, Valdo viu uma fada dentro, caída e inerte. Deu-se logo conta do que eram as salas e sentiu a ira crescer dentro de si. Foi tão forte e descontrolada que o vidro estilhaçou.

Sem perder tempo, o jovem entrou no recinto, pegou na fada, achando-a demasiado leve e, lembrando do corredor onde havia os veios de cristais, levou-a para lá na esperança de que melhorasse.

Ficou aguardando um pouco e, em pouco tempo, ela recuperou a consciência e sorriu para o jovem, que correspondeu. Como a rainha-mãe falou em português com ele, arriscou uma tentativa de contato, com sucesso.

– Sente-se melhor? – perguntou. – Aqui os cristais protegem você, segundo Igor.

– Estou muito fraca, mas obrigada – respondeu a fada. – Sinto que melhoro devagar.

– Sabe se há mais fadas aprisionadas aqui? – perguntou Valdo, desejando salvá-las. – Duas de vocês, Igor e Morgana já salvaram e eu encontrei a senhora. Sabe se existem mais?

– Eramos quatro, na floresta – explicou a fada. – Fomos aprisionadas há cinco dias.

– Nesse caso, ainda falta uma. – Valdo olhou para os lados e pensou rápido. – Olhe, vou levá-la para o fim deste corredor e a senhora espera por mim ou Igor. Não tente sair que será aprisionada de novo porque há milhares desses monstros. Nós precisamos encontrar a nossa amiga e a sua companheira. Não se preocupe que voltarei, eu prometo.

– Você é nobre, Valdo, obrigada.

Deixando a pequena bem protegida, voltou para a sua revista. Levou mais meia hora até que encontrou a última fada, levando-a para o corredor dos cristais.

– Vocês precisam de ficar aqui até eu encontrar Igor – explicou, preocupado. – Não tenho condições de carregar vocês e lutar ao mesmo tempo. Como Igor é muito mais poderoso, a ajuda dele é essencial.

Após certificar-se de que elas estariam bem, saiu e pegou o quarto corredor. Quando chegou ao seu final, notou que era fechado de forma artificial e estranhou. Valdo recuou uns dez metros, atirou-se numa corrida e saltou, batendo com os dois pés na parede. Tudo o que aconteceu foi uma pancada seca e ele caiu de costas, soltando um gemido e chamando-se de idiota por pensar que era algum super-herói.

Levantou-se e pensou um pouco, lembrando-se do vidro. Segurou o cristal que Eduarda lhe deu e fixou os olhos na pedra, procurando gerar um fluxo concentrado de energia. Viu que o cristal começou a brilhar e, com toda a força dos pulmões, gritou:

– Quebra, pedra dos infernos.

O resultado foi mais do que satisfatório porque, com um estrondo barulhento, a parede desfez-se e Valdo viu uma sala profusamente iluminada. Do lado esquerdo havia, pelo menos, dez salinhas de vidro, todas vazias exceto pela última que tinha uma pessoa, uma mulher que ele conheceu dois anos antes, mais precisamente a feiticeira inglesa, Caroline. Ela parecia catatônica, mas Valdo sabia que era questão de sair dali para se recuperar.

Voltou a rebentar a parede de vidro e aproximou-se, quando sentiu um movimento. Olhou para trás e encontrou um muscolim que tinha, pelo menos, dois metros e trinta de altura.

A aberração olhava para ele e Valdo calculou que devia estar a tentar falar, mas não ouvia nada, nem falado nem pensado. Quando a criatura viu que não adiantava, avançou com uma faca tão grande que parecia uma espada e atacou.

O jovem saltou para o lado e começou a ficar nervoso porque aquele demônio, além de maior, era mais ágil que os seus iguais. Ele sabia que a espada deveria ter algum veneno e não desejava confiar apenas na sua barreira de proteção, ainda uma incógnita para si. Assim, desviava sem parar com gingas que deixariam o seu namorado com inveja, mas, como não era lutador de boxe, acabou sendo atingido de lado. A barreira fez o seu serviço e aguentou, mas a força do antagonista era tão grande que Valdo foi atirado para o lado e colidiu com a parede de rocha, caindo um pouco atordoado. Para sua sorte, a criatura não era tão rápida quanto um ser humano e, quando ele atacou de novo, Valdo rolou pelo chão, afastando-se uns dois metros e erguendo-se com o máximo de velocidade que podia.

Usou esse movimento como um efeito de catapulta e atingiu o muscolin com um chute muito forte. Nesse momento, o pobre coitado teve a segunda surpresa desagradável do dia porque, ao contrário dos outros inimigos, esse não se desmanchou em pó e ele sentiu uma dor forte no tornozelo. Tão logo estava de pé, recebeu uma nova pancada com a espada que o lançou para o fundo da sala, mas uma vez bem atordoado.

Ele não esperou que o sujeito o alcançasse e já rolou para o lado, erguendo-se e entrando em guarda, cansado e tentando imaginar uma forma de se livrar daquilo com os seus poderes, ainda tão desconhecidos dele e de todos. Furioso, quando recebeu a quarta estocada e dessa vez tão forte que a barreira de proteção chegou a falhar, Valdo gritou, tentando dar um soco:

– Morre, seu desgraçado. – Mais uma vez o efeito foi fulminante, porém diferente dos outros. A criatura recuou e colocou as mãos na cabeça, abrindo a boca como se fosse gritar. A seguir, explodiu.

Valdo, arquejante com o esforço, dobrou-se, apoiando as mãos nos joelhos e respirando fundo. Fez isso três u quatro vezes e ergueu o rosto, deparando-se com o corpo inanimado da amiga. Sem perder mais tempo, correu até ela e pegou Caroline no colo, saindo dali o mais rápido que podia embora com uma certa dificuldade por causa do peso da garota. Bufando, deu graças a Deus por ela ser muito esbelta porque, se fosse do tipo "fofinha", estavam ambos ferrados. Entrou no corredor dos cristais e pousou-a com as fadas, arquejando.

Nesse momento, ocorreu uma explosão infernal am algum lugar da caverna e tudo começou a tremer, provocando um grande susto nele e nas fadas. Apenas Caroline estava serena, mas era porque permanecia inanimada.

– Vou procurar Igor – gritou ele, preocupado. – Não saiam daqui nem a deixem sair. Esperem por nós. Se vocês saírem voltam a ficar doentes e talvez não haja tempo para poder localizá-las mais uma vez. Por favor, avisem Carol, quando ela acordar.

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O Mago e a Sacerdotisa de AvalonWhere stories live. Discover now