Capítulo 8 - parte 1 (em revisão)

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"O interesse que tenho em acreditar em uma coisa não é a prova da existência dessa coisa."

Voltaire.


A viagem seguia tranquila e era apreciada por ambos e o dia aproximava-se do fim quando o jovem parou o carro, olhando para o fim da estrada a umas poucas centenas de metros no alto de uma pequena colina.

– Veja, Ez – apontoupara a frente. – Ali fica o famoso lago e o bosque ao lado é o caminho para Avalon. Segundo o GPS do meu telefone, aquilo ali é um tipo de hotel fazenda.

– Então vamos olhar mais de perto, mas devíamos criar uma história plausível para justificar a nossa presença, ainda mais que notarão que somos estrangeiros.

– Bem, na verdade falo inglês sem sotaque – disse Igor. – Estou certo de que ninguém notará.

– Mas a mim notarão – contradisse Ezequiel. – Nem me lembro quando foi a última vez que falei, mas deve ter sido há algumas centenas de anos, ou seja: é arcaico.

– Então deixemos que pensem que somos turistas ou pesquisadores...

Voltaram a rodar até que, poucos minutos depois, o jovem mago estacionou na frente da estalagem à beira do lago sereno. Enquanto Ezequiel aproveitou para caminhar um pouco ao ar livre, Igor foi reservar um quarto para ambos.

Olhando ao redor, o sábio viu que se tratava de um lugar muito bonito e tranquilo. A estalagem era uma construção antiga, bastante espaçosa e com as paredes brancas, caiadas. O prédio de dois andares lembrava os grandes casarões das fazendas dos tempos antigos, tendo até uma varanda grande onde havia várias cadeiras para os hóspedes sentarem-se e apreciarem o clima do campo, mirando o lago que ficava a uns trinta metros de distância. O chão era um gramado bem cuidado e os caminhos para se passar eram de pedra, muito bem-feitos, cheios de canteiros de flores à volta e umas poucas árvores. O estacionamento, bem ao lado da casa, era de chão batido e coberto com minúsculas pedras, bem típico. Do outro lado, havia mais uma casa também branca, mas pequena e com apenas um andar. Na entrada, havia um cartaz que dizia: aluga-se barcos.

Tudo aquilo ficava em um local meio deserto, se é que existia algo deserto naquele país nos dias atuais, mas estava mais para um paraíso de férias no campo de tão agradável que aparentava e isso não deixava de ser verdadeiro.

Enquanto aguardava pelo amigo, Ezequiel olhava o lago e achava que era meio pequeno para ser o local da famosa ilha de Avalon, visto que a descrição dela no livro encontrado pelo amigo dava como um lugar com os seus dez quilômetros, talvez até mais. Contudo, ele sabia que as distâncias na água enganavam um pouco. Havia uma ilhota perto do local que parecia ser o meio dele, mas nada que comportasse uma ilha do tamanho de Avalon. Apesar disso, o sábio sabia que nada era impeditivo, se ela ficasse em outro mundo como se supunha. Vendo-o observar a região, um jovem aproximou-se.

– Bonito lugar, né? – disse a título de cumprimento. – Aproveitando as férias?

– Muito bonito e nada como um pouco de campo para fugir da cidade grande – respondeu o sábio. – Mas, na verdade, acompanho o meu filho que é pesquisador.

– Meu Deus. – O garoto riu. Devia ter uns vinte anos, não mais que isso, de aspecto limpo e sadio. – O seu inglês é muito arcaico, meu amigo!

– Deve ser mesmo – disse Ezequiel, olhando para ele, com o seu tradicional ar debochado. – Afinal, foi o meu bom amigo Shakespeare em pessoa que me ensinou a falar. Já faz algum tempo, eu creio.

– Nesse caso, acredito que a advertência que lhe ia fazer não tem fundamento – afirmou o jovem, rindo. – Já que o senhor é um fantasma, não deverá ter medo de fantasmas. Prazer, sou William... como o seu amigo medieval, e vizinho aqui do hotel.

O Mago e a Sacerdotisa de AvalonWhere stories live. Discover now