Capítulo 5 - parte 1 (em revisão)

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"O desespero ganha, muitas vezes, batalhas."

Voltaire.


Igor não se fez de rogado e materializou um sofá, sentando-se e começando a ler o diário da filha de nasceu dezoito séculos antes dele. A primeira coisa que observou foi que havia páginas retiradas; não sabia os motivos, mas acreditava que foi de propósito. Afundou-se na leitura, esquecendo do resto.

"Hoje, amanheceu um dia escuro e o céu estava carregado como se fosse cair sobre nós. Estou-me sentindo muito sozinha e gostaria de ver meu avô, de o ter por perto, mas ele trancou-se no mundo dos dragões e nem mesmo eu posso lá ir sozinha. Apenas ele e meu pai podem.

À... pai... que palavra tão doce, mas tão desprovida de um valor palpável para mim. O único pai que tive foi o meu avô Ezequiel e desde a morte da minha mãe, Ailin, ele ficou muito deprimido.

É engraçado como nestes dias de guerras sem trégua tenho pensado tanto no meu pai e em como eu gostaria de o ter conhecido. Falam tanto dele, do seu poder tão grande que quase sozinho derrotou todos os bruxos! Se isso fosse memso verdade ele bem que faz falta nos dias de hoje, mas a maior parte do que falam deve ser exagero, apesar do que a minha mãe falava a seu respeito. Tudo o que tenho dele é a imagem mental que ela me passou e um anel que me deu e eu adoro, embora não precise dele. Minha mãe dizia que ele era o homem mais belo que já vira, mas, acima disso, meu pai era o mais poderoso de todos os druidas que existiram. Dizia, inclusive, que meu pai era muito mais forte que o vô, eu e ela reunidos e nós duas somos as mais poderosas sacerdotisas.

Ela também contava que meu pai veio do futuro, uma coisa meio difícil de entender, e que estava em guerra com um ser que ele dizia ser o mal absoluto. Só que, quando penso nele, eu tenho uma grande sensação de abandono. Minha mãe até já brigou comigo, mas cem anos depois ainda penso e sinto isso.

Queria que ele soubesse e também me perdoasse porque sei que não é culpado de nada. Afinal, eu sou a filha da Deusa, do casamento sagrado, e isso é muito especial. Apenas gostaria de ser um pouco mais normal. Talvez eu esteja ficando sentimental por conta de tantas guerras contra os romanos e a nova religião, tão vazia e cruel. Estou cansada de matar, muito cansada e não vejo a hora de dar um basta nisso tudo."

― ☼ ―

Emocionado, Igor deixou escapar algumas lágrimas, pensando filha e em como ela abria o seu coração de forma tão pura. Olhou para o amigo para saber se era observado, mas Ezequiel também estava mergulhado no outro livro, às vezes resmungando um pouco para si mesmo, bem compenetrado. Voltou a concentrar-se na leitura, ávido para saber alguma coisa dela, qualquer uma que fosse, desde que isso o fizesse sentir-se mais próximo da filha que tanto desejava conhecer.

― ☼ ―

"Voltando ao meu pai, eu queria saber o que ele pensaria, o que faria, mas o mais estranho é que ainda nem existe! Eu, a sua filha, nasci muitos anos antes do meu pai e isso é complicado demais para a minha cabeça!

Para ser mais prática, eu sentei na minha mesa e comecei a ler o livro perdido. Bem, é bom explicar do que se trata: descobri há algum tempo um túnel de fuga novo, novo em termos, porque ele é muito mais velho que qualquer outro. Ele fica no coração da floresta, perto do carvalho sagrado e a minha descoberta foi por acaso. Naquele dia em especial, eu desejava um pouco de solidão e não havia nenhuma ameaça por perto, então afastei-me da aldeia e escolhi o local mais secreto dos druidas para meditar e relaxar: o carvalho sagrado. Apesar de ser proibido para todos que não sejam druidas, eu não ligo muito para isso, até porque estão quase todos no Mundo de Cristal.

O Mago e a Sacerdotisa de AvalonWhere stories live. Discover now