Capítulo 18 - parte 1 (em revisão)

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"Energia é o que tensiona o arco; decisão é o que solta a flecha."

Sun Tzu.


A montanha onde estavam era pelo menos três vezes maior do que a dos cristais e aquela caverna era imensa, embora não fosse tão grande quanto a da outra. Devido ao fato de a abertura ser muito mais larga, ela tinha uma iluminação razoável e podia-se ver diversos corredores que levavam a outras cavernas internas, levando a concluir que aquilo ali era um verdadeiro labirinto. Nessa primeira, centenas de muscolins enfieiravam-se para protegerem a entrada, todos eles com mosquetes apontados para a abertura externa. Os dois ficaram parados no ar bem acima das criaturas, avaliando as diversas alternativas e observando. Notaram de cara que havia corredores com um movimento grande de inimigos e outros eram praticamente desertos, deixando Igor sem saber onde ir.

– "E agora, como vamos achar Caroline?" – perguntou ele, pensativo. – "Isto até parece um labirinto, de tão grande!"

– "Com as emanações mentais deles interferindo, fica muito difícil procurar alguém apenas pelo pensamento, pai. Vamos precisar de vasculhar a montanha até encontrarmos."

– "Acho que devemos ver o portal primeiro para o caso de precisarmos de agir rápido" – pensou ele.

– "Sim" – concordou Morgana apontando um corredor. – "Sinto a energia mais forte por ali."

– "Minha linda e doce filha" – afirmou Igor, rindo. – "Estás invisível, então não enxergo para onde apontas. Mas também vejo onde está porque sinto as vibrações, que são muito fortes. Desconfio que este portal está sofrendo mudanças que não nos serão agradáveis, nada agradáveis."

– "Tem razão, pai" – respondeu, também rindo. – "Quanto ao portal, acho mesmo preocupante que esteja tão forte e estável. O que eu fechei, que era o principal, não chegava a ser como este se encontra agora, nem perto disso."

– "Em outras palavras, eles de alguma forma estão a estabilizá-lo, como Ezequiel falou das pesquisas da Caroline. Vamos, vamos ver isso de perto que, conforme for, eu já largo a bomba por lá."

– "Quanto tempo leva para ela fazer efeito?"

– "Programei os cristais para detonarem em uma hora" – respondeu Igor. – "Só que isso pode variar."

– "Acho que temos um sério problema, pai" – comentou ela, compenetrada. – "Eu não me lembro direito quanto tempo estive prisioneira naquele mundo, mas não creio que tenha sido mais de seis meses e, aqui em Avalon, passaram duzentos anos."

– "Pela Deusa!" – exclamou Igor, batendo na testa. – "Não me atinei para esse detalhe!"

– "E agora?"

– "Agora temos que improvisar de alguma forma. A bomba não pode ser reprogramada. Vamos torcer que as mudanças no portal façam alguma alteração no fluxo do tempo, que é o que desconfio que vai acontecer em breve, ou melhor, deve vir acontecendo desde que eles começaram a forçar a passagem. Bem, vamos lá ver isso" – disse Igor, preocupado. – "Na verdade, venho apostando muito nessa hipótese porque, do contrário, poderei perder os meus poderes ao retornar e isso pode ser um risco enorme. Ainda bem que a Eduarda não se deu conta desse detalhe, senão entrava em parafuso."

– "Ai, minha Deusa, pai" – comentou Morgana, aflita. – "Você ficará visível, sem força e vulnerável. Como faremos, num caso desses?"

– "Foi justamente por isso que desejei que tu viesses comigo e não o Valdinho" – explicou o Mago. – "Tu tens muito mais experiência em combate e o controle perfeito dos teus poderes. Eu vou entrar no portal, plantar a bomba e tu ficarás pronta para me protegeres quando retornar, caso eu fique incapacitado."

– "Combinado, pai" – disse ela, mais tranquila. – "Vamos lá."

Pai e filha voaram em silêncio e entraram no corredor mais à esquerda, muito maior que os outros e com uma grande quantidade de muscolins circulando por ele. O caminho era sinuoso, com uns sessenta metros e entrava para dentro da montanha em um leve declive. Ao fim de algum tempo, viram o brilho forte à frente e Igor acelerou um pouco. Apesar de toda a preocupação e urgência, os dois ficaram parados no ar durante quase um minuto, apreciando aquela beleza natural, única e espetacular.

A sala era arredondada, grande e muito clara, toda ela cristalina e com várias cores conforme os veios que vinham à superfície. Do teto, enormes estalactites desciam, dando a ideia de uma catedral e, bem à frente deles entre duas colunas de algo que parecia ser diamante e que tinham dez metros de altura, estava o portal, aberto e ativo.

Um fluxo constante de muscolins entrava e saia, mas vinham muitos mais do que voltavam. A cena até chegava a lembrar uma fila de formigas que se moviam de forma ordenada.

O outro lado da passagem dava para um local iluminado e era onde vinha a luz que iluminava o recinto, bem forte. Parecia que ficava em um desfiladeiro ou similar porque era possível ver uma parede de rocha atrás. Morgana foi a primeira a falar:

– "Pai, esse portal está diferente do que fechei!" – disse, espantada. – "O meu era leitoso, difuso, e eu não conseguia ver o outro lado com clareza."

– "Acho, Morgana" – respondeu Igor, refletindo muito e bastante aliviado –, "que a dilatação temporal está praticamente anulada. Entre Avalon e o mundo deles, o tempo deve correr no mesmo fluxo e eu fico feliz por isso."

– "Nesse caso, a bomba vai..."

Os dois não chegaram a terminar a conversa porque, do nada, um pensamento coeso e muito claro infiltrou-se em todo o lugar ao invés do ruido que tanto incomodava. Contudo, o que os preocupava mais era o fato do pensamento ser em relação a eles.

– "Atenção, muscolin, atenção. Intrusos profanaram muscolin e devem ser destruídos a qualquer preço. Eu quero que protejam o templo da passagem" – disse a voz do consciente coletivo, e o mago sentiu que era um pensamento muito mais claro que o primeiro contato.

A reação foi rápida e bastantes criaturas surgiram ali, procurando em vão. Igor localizou a filha pelas emanações mentais dela e aproximou-se.

– "Acho que eles..."

A reação do super-muscolin foi instantânea e as criaturas pegaram nas armas primitivas, apontando. Igor só teve tempo de puxar a Morgana contra si e erguer a sua barreira pessoal em volta de ambos. Um segundo depois, uma chuva de balas atingiu a luz verde. Interessado em continuar a agir ali dentro sem ser seguido nem descoberto, transportou-se com a filha para a caverna saguão onde fez desaparecer a barreira de proteção e segredou no seu ouvido.

– Eles conseguem nos localizar pelas emanações mentais – disse, apreensivo. – Isso é péssimo para nós.

– Foi o que imaginei – respondeu Morgana. – Pai, acho que devemos nos separar e marcar esta caverna como ponto de encontro. Eu exploro para aquele lado e você para a direita. Encontramos a sua amiga, resgatamos e damos um fim neles. Se a bomba leva uma hora para entrar em ação, precisamos de resolver tudo antes de você colocar lá, considerando o equilíbrio possível das dimensões temporais.

– Tens toda a razão, mas achas que aguentas? – perguntou o mago, preocupado.

– Sim, aguento sem dificuldades.

– Então está combinado. A cada hora, retornamos aqui e aguardamos para analisarmos as descobertas. Em último caso, lanças um grito mental para chamar e retorno para aqui, se bem que com essa interferência...

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O Mago e a Sacerdotisa de AvalonHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin